Não quero acreditar! A notícia chegou-me por várias vias, mas, ainda assim, não quis acreditar. Era o nosso último trovador. Poeta na tradição mais limiana de Feijó ou de Carneiro. As palavras que juntava em poemas ecoavam um sentimento profundo que emanava da sua alma e tocava a nossa.
Amândio Sousa Dantas foi uma pessoa simples, de humilde trato, preocupado com os seu semelhantes e com a natureza. Nunca deixou de ter uma participação cívica activa no associativismo ambiental. Da sua pena saíram várias crónicas num estilo muito próprio, assaz e sempre independente. Respeitador e com capacidade de ver o melhor nos outros, mesmo naqueles com quem divergia ideologicamente, até nisso foi diferente e exemplar neste mundo cada vez mais polarizado.
Tive a sorte de poder conviver com ele. Falávamos de tudo. Da nossa terra, do nosso rio, das gentes que passaram por ambos, do futuro, dos projectos que poderiam ser postos em prática, da escrita, dos jornais, do património, da natureza... Insistia na necessidade da participação cívica e política, da importância de envolver os jovens, de lhes incutir o sentimento de pertença e de amor a Ponte de Lima.
A melhor homenagem que se pode prestar a um Homem de letras é ler a sua obra. Partilho, por isso, com o leitor um excerto do último poema dele que li (2022):
“(…)
Por ti se juntam ao mesmo elemento,
a vida é um mistério de milhões de vontades e acasos
que se atam e desatam pelo infinito,
tantos nomes felizes que nos levam
ao sonho do tempo/espaço e
pelo nosso breve tempo nós os amamos
Levemos centro do nosso próprio corpo o segredo do
cosmos
entre nuvens voamos sem/asas e
pela nossa brevidade de passos pousados na terra
tudo nos aproxima do infinito
(…)”
Nascido em Ponte de Lima a 1 de Dezembro de 1944, Amândio Sousa Dantas partiu para o infinito, para junto da sua mãe e do seu irmão, também em Ponte de Lima, a 22 de Dezembro de 2022.