Votos de louvor e de pesar
O presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco, chamou a atenção dos grupos parlamentares para a banalização de votos de pesar, só nos primeiros seis meses da legislatura terão sido apresentados 109 votos de pesar. Isto fez-me lembrar do que se tem vindo a passar nos últimos anos, por exemplo, na Assembleia Municipal de Ponte de Lima. Os grupos municipais parecem quase atropelar-se na apresentação de votos, felizmente, não de pesar, mas de louvor. Há reuniões onde o tempo usado para a apresentação de votos de louvor (o mesmo é, por vezes, proposto por várias bancadas), a sua discussão e votação quase se equipara com o usado para o período da ordem do dia.
Todos os eleitos têm legitimidade para apresentar os referidos votos de louvor ou de pesar, não é isso que está em causa, mas, tal como referiu Aguiar Branco na Assembleia da República, não haverá uma banalização desse tipo de votos?
“Choque de realidade”
Foi com interesse que li a notícia sobre o Dia do Diploma do Agrupamento de Escolas de Arcozelo, Ponte de Lima. A certa altura chamou-me a atenção o testemunho de duas alunas, com 16 anos, que receberam o Prémio Cidadania, diziam elas que, no âmbito do projecto solidário que coordenaram, sendo que um dos objectivos aproximar os jovens aos seniores, encontraram, em Arcozelo, muitos idosos sozinhos, muitos sem condições de vida. Para as jovens, nas suas palavras, foi um choque com a realidade. Parabéns à escola pela capacidade de promover esta interacção entre a comunidade escolar e a que a acolhe. Que esse “choque” desperte nos alunos a necessidade de participarem nas suas comunidades.
Arcozelo, a segunda vila do concelho de Ponte de Lima, entre 2011 e 2021, pelos dados mais recentes, embora perdendo habitantes, viu-os aumentar na faixa etária de maiores de 64 anos (um aumento de cerca de 25%), foi, aliás, a única que aumentou. Embora uma das mais populosas de Ponte de Lima, é uma freguesia com muitas carências que se vão arrastando ao longo dos anos. Há, de facto, problemas que são endémicos. Infelizmente, os responsáveis políticos parecem preferir apostar em sectores/áreas/activos que, provavelmente, na sua opinião, serão mais estruturantes e prementes.
Somos nós que escolhemos os nossos representantes pelo que não podemos ficar surpreendidos com os “choques com a realidade” que os jovens sentem quando vão para o terreno fazer o que outros deveriam, por obrigação, fazer.
Perre, Paris e Londres
Por Viana do Castelo já não é preciso ir a Paris ou a Londres para se encontrar o cosmopolitismo desses grandes centros. É hoje natural ouvir pelas ruas de Viana do Castelo uma mãe a falar com os filhos em eslavo, o casal, mais à frente, a conversar em inglês, outro, sentado no banco, em alemão e, no final da rua, um pai e sua filha a comunicar em crioulo. Entramos numa loja e a dona da loja dá indicações ao seu funcionário em mandarim e, na porta seguinte, ouvimos falar em urdu. Grupos de jovens estudantes, que à saída da escola se juntam, conversam em português do Brasil, ou em castelhano com a sonoridade da América Latina.
É por isso de saudar iniciativas como a que decorreu no Centro Cultural de Viana do Castelo, onde, no passado dia 9 de Novembro, se realizou a quarta edição do “Encontro de Culturas”, uma organização da Associação de Grupos Folclóricos do Alto Minho em parceria com a Academia de Dança Arte e Movimento e a Associação Terra de Todos. A integração na comunidade é um dos pontos essenciais para que a imigração não seja vista de forma negativa e radical.