Saiu cedo de Ponte de Lima. Ainda mal as borbulhas da puberdade
invadiam o seu rosto, já seguia viagem, cruzando o equador, em direcção às
terras de Vera Cruz. Desembarcou no Rio de Janeiro chamado por familiares, tios.
Desde o início do sec. XIX que o Brasil, essa terra longínqua, era a escolha
familiar para “fazerem” a sua vida.
Os mergulhos no Lima, os jogos do Triunfo e do Vitória, no areal, no
Arnado, ficavam definitivamente para trás.
Tal como outros “patrícios” limianos enfrentou tempos, condições difíceis.
Mas aquela cidade grande, enorme (e pensar que Lisboa lhe tinha parecido
grande) era um mundo totalmente novo. Um mundo cheio de novidades com um
turbilhão de atracções e tentações, um mundo onde era tão fácil perder o
enfoque, o objectivo que o levara para lá.
Manteve sempre presente esse objectivo e sabia que só o conseguiria atingir
trabalhando e não cedendo às tentações.
Alguns anos depois, tornava-se dono do local onde trabalhava, uma
grande superfície comercial dedicada ao calçado. Desenvolveu-a e vendeu-a,
angariando, assim, capital suficiente para investir noutras áreas florescentes.
Casou e constituiu família e teve na sua mulher Isabel uma companheira para a
vida.
O empreendedorismo, como hoje lhe chamamos, estava-lhe no sangue. Os
ramos de negócio foram aumentando com especial enfoque na hotelaria, na
restauração e no ramo automóvel. Neste último, conseguiu, entre outras
representações, ser um dos primeiros representantes oficiais da FIAT, no
mercado de milhões que é o Rio de Janeiro. Uma representação várias vezes
premiada pela própria FIAT e que é proprietária do primeiro FIAT, modelo 147,
produzido no Brasil.
Nunca esqueceu Portugal e a terra que o viu nascer. Todos os anos
passava longas temporadas por cá. Ficava orgulhoso quando via a evolução da sua
terra, a construção de infra-estruturas.
Nunca percebeu, no entanto, como é que Ponte de Lima não conseguia
captar indústrias que considerava ponto essencial para a criação de emprego e fixação dos jovens
e das famílias.
Desde pequeno que me lembro de esperar por ele. Recordo-me da alegria
sentida ao ver surgir, no início do Verão, o seu automóvel na curva de S.
Gonçalo.
Os anos foram passando e felizmente já não era preciso esperar pelo
Verão, os passeios passaram a ser tradição de sábado à tarde. Os longos
passeios que dávamos começavam sempre pela pergunta “Nuno, onde queres ir?”. A minha
resposta, sendo piada familiar, era sempre igual “A Paredes de Coura” (não me
perguntem porquê, era muito pequeno…). Passeios que serviam, sobretudo, para
conversar, para partilhar a sua experiência de vida, mas também para me ouvir,
saber a minha visão sobre este ou aquele assunto da política ou a minha opinião
sobre este ou aquele projecto que tinha em mente. E eram tantos, um verdadeiro
exemplo de como a idade não tem de ser impedimento para os projectos que
queremos realizar.
Ainda há pouco tempo, por telefone, me falava da vontade de voltar a
Portugal. Talvez este fosse o seu último projecto, voltar de vez, finalmente
realizar o sonho, sempre adiado, de comprar uma casa em Ponte de Lima, voltar a
morar na sua terra de sempre.
Infelizmente, já não conseguiu levar avante esse projecto. Luiz Amorim,
meu tio-avô, faleceu no passado dia 6 de Julho, na cidade do Rio de Janeiro.
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