segunda-feira, março 28, 2016

Pensar Ponte de Lima - Artigo no jornal Cardeal Saraiva de 17 de Março de 2016

(Artigo publicado no jornal Cardeal Saraiva de 17 de Março de 2016)

O amor social expressa-se na actividade política para o bem comum” – Papa Francisco

Podíamos até olhar para os exemplos fora das nossas fronteiras, mas basta olhar para Marcelo Rebelo de Sousa, ou para os exemplos de presidentes de Junta que a SIC deu a conhecer numa série de reportagens. A política, os políticos, a forma de exercer os cargos mudou. Hoje são necessários políticos de proximidade, que não tenham barreiras, que saibam partilhar e envolver as pessoas na sua actuação. Hoje, mais que nunca, é necessário apostar na abertura e transparência. São necessários líderes que o sejam pelos seus actos, pelo seu exemplo.
Olhemos para o nosso microcosmo, para o nosso concelho de Ponte de Lima. O que vemos?
Precisamos de representantes autárquicos que percebam que estão ao serviço das suas populações. Que pensem o concelho como um todo. Que mantenham a boa saúde financeira mas que a ponham ao serviço das necessidades dos seus munícipes. Que actuem para lá do imediato, da conveniência comunicacional. Que saibam trabalhar/dialogar com os outros agentes políticos, sociais, económicos.

Nem acredito…

Vi, incrédulo, a mais recente acção de marketing da maioria na Câmara Municipal de Ponte de Lima, a assinatura do auto de consignação da empreitada de "Alargamento da Atual Rede de Esgotos - Saneamento de Refoios - 1.ª fase”, que teve até direito a fotografia, com crianças e tudo… Será que não percebem que isso só seria normal se ainda estivéssemos nos anos 80 ou 90? Estamos em 2016, em pleno século XXI, o melhor era fazer a obra rapidinho e de forma a esconder a vergonha de serem os responsáveis pelo facto da rede de esgotos de Ponte de Lima ser das mais ridiculamente baixas, com uma cobertura na ordem dos 46% da população.

Futuro? Só com criação de emprego

O leitor não precisa de ler as estatísticas que nos dão um lugar vergonhoso no que respeita ao poder de compra. Não precisa porque sente no seu dia-a-dia, porque fala com os amigos que vivem fora e percebe, por exemplo, que embora a Câmara Municipal prescinda da taxa de IRS dos seus residentes e que esta nos seja devolvida sob a forma de dedução à colecta, esta boa medida, não compensa os baixos rendimentos ou o facto de estes ficarem na estrada ou nos transportes públicos que usamos para podermos trabalhar.
Alguém percebe como um concelho como o de Ponte de Lima, com todas as suas potencialidades, estruturas viárias, proximidades, mantenha como maior empregador a Câmara Municipal? Como podemos nós viver sem um tecido empresarial forte? Que incentivo/atractividade tem um jovem limiano para se fixar em Ponte de Lima? Onde estão as políticas de captação de emprego?
Este é o tempo de outras políticas, outros protagonistas, é o tempo das pessoas.  Precisamos de alterar o paradigma, romper com este tipo de governação anacrónica que continua amarrada basicamente ao conceito do concelho rural, do concelho que tenta viver do turismo agarrado em exclusivo aos produtos endógenos. São pontos importantes, sem dúvida, mas não podemos ficar por aí, é tão redutor. No fundo parece que Ponte de Lima é um concelho que não consegue abraçar o futuro de tão amarrado a um idealizado, mas nem sempre verdadeiro, passado.

Não vale a pena começarem a protestar, o que escrevi é blasfémia? Não, não é, temos orgulho do nosso passado mas este deve servir de carburante para o futuro. 

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