quarta-feira, outubro 28, 2020

Alto Minho artigo de 14-10-2020

  



Que silêncio


Passaram semanas desde que o Jornal Alto Minho publicou os dados que acompanham este texto, que reacções provocaram? Mereceram apenas o silêncio dos nossos autarcas e políticos. No nosso concelho, segundo esses dados, há 179 idosos por cada 100 jovens, enquanto os dados disponíveis em 2017 referiam 148 idosos por cada 100 jovens. O aumento é bastante significativo. Para além das condicionantes externas, este é o resultado da inexistência de investimento em políticas de natalidade, em verdadeiras políticas de captação e fixação de jovens. 

Os números vão, infelizmente, continuar a aumentar. Os nossos políticos continuam a preferir prometer e investir em "obra de pedra, betão e alcatrão", até porque é esta que supostamente lhes garante a eleição. 

O problema desta atitude e "forma de vida" dos nossos políticos, desta forma ultrapassada de fazer política é que os grandes problemas da comunidade não são resolvidos. É mais fácil usar uns chavões numa qualquer campanha eleitoral de 15 dias, esperando que deixem de ser falados publicamente, nos media ou nas redes sociais, empurrando o assunto para outra altura. 

Mas a realidade é o que é, queiram ou não os políticos, e a realidade é que somos cada vez menos e cada vez mais idosos. E isso leva-nos imediatamente a outro problema. Como sobrevive um concelho em que os idosos são o dobro dos jovens? Num futuro bem próximo, como poderemos canalizar recursos na promoção de profícuas políticas de fixação dos jovens quando, inevitavelmente, a grande maioria do orçamento passará a ter que ser usado em políticas dirigidas ao grosso, à maioria da maioria da população, aos idosos? Ou seja, ou se enfrenta já o problema, ou Ponte de Lima parece estar fadada a ser mais um concelho como aqueles que vemos nas notícias das TV’s, cuja principal actividade económica são os lares de idosos e o apoio domiciliário, em que o presidente da Câmara é o presidente do maior lar, já com idade para ser utente do mesmo.

Se a apatia continua, talvez seja esse o nosso fado, mas, por outro lado, a verdade é que também está nas nossas mãos. Cabe a cada um de nós construir o nosso futuro, qual queremos para a nossa comunidade? Bem sei que não é um assunto “politicamente atraente”, apetecível às redes sociais e aos media, mas, ou temos verdadeiros políticos, ou temos apenas gestores de interesses. O futuro, ou a falta dele, o dirão. 


Post scriptum 


O ganho médio mensal dos limianos é, há anos, um dos mais baixos da região e do país. Quem escolhe aqueles que terão a obrigação de decidir e promover políticas que vão ao encontro das reais necessidades da comunidade são os membros dessa comunidade. As escolhas e a falta de políticas, como se vê, refletem-se, e muito, na vida da comunidade.