Adiar as eleições autárquicas
Não sei se este é o melhor momento para se tomar a decisão de adiar ou não as eleições autárquicas. Embora o mês de Janeiro tenha sido terrível, os dados actuais, fruto de muito sacrifício e dificuldades dos confinados portugueses, começam a ser consistentes no abrandamento de novos casos, de internamentos e mortos devido à COVID-19. Com o processo de vacinação a decorrer, talvez lá para junho se consiga perceber melhor em que pé estaremos e se será ou não benéfico o adiamento das eleições.
Ainda que não adiadas…
Aqui por Ponte de Lima até nem parece que teremos uma mudança de ciclo autárquico. O presidente, que o foi nos últimos 12 anos, não se poderá voltar a candidatar. Ponte de Lima terá assim obrigatoriamente um novo presidente. Parece, no entanto, que ninguém, ou quase ninguém, quer ficar com o “menino” nas mãos.
Quase ninguém, porque dos cacos do CDS…
No momento em que escrevo, apenas dois candidatos assumiram a sua vontade em se candidatar, e de forma independente. Curiosamente surgem da implosão do CDS em Ponte de Lima. Abel Baptista e Gaspar Martins. São os dois ex-vice-presidentes da Câmara, já se enfrentaram anteriormente nas “guerras” centristas, tendo Gaspar prevalecido, empurrando Abel para um género de “exílio” na Assembleia da República. Desde aí, o “terreno centrista limiano” passou a ser de Gaspar Martins. Foi notório em todas as eleições autárquicas deste século, com especial relevo para a última, ainda que nem sequer fosse candidato. Martins deu a mão a Vitor Mendes e este segurou as “tropas” assediadas pela candidatura de Baptista. Em troca, a filha “herdou” o seu lugar de vice-presidente da Câmara.
A troca não correu bem para Mendes. Mecia Martins provou o que já se sabia dela e não se dobrou. Assumiu um papel firme e intransigente, passando a ser, não poucas vezes, a verdadeira oposição e a pedra na engrenagem mendista. Resultado? O ex-homem do aparelho centrista assume uma candidatura independente, apostando na Câmara e na Assembleia Municipal. Prefere não ter candidaturas às Juntas de Freguesia para não afrontar os presidentes, maioritariamente escolhidos por ele, no entanto haverá excepções. Terá, certamente, candidatos nas maiores juntas de freguesias do concelho: Arcozelo, liderada pelo movimento de Abel Baptista, atualmente um frangalho político, quase todos os meses é notícia pelas piores razões, e a União de freguesias Arca e Ponte de Lima, onde o presidente eleito pelo PSD perdeu a maioria nas últimas eleições.
Já Abel Baptista deverá repetir, basicamente, o projecto de 2017. O processo desastroso da integração das águas na empresa Águas do Alto Minho será, certamente, a sua grande bandeira. Desde o início que Abel de opôs à integração alertando para as suas consequências. Esta questão até o coloca no topo da grelha de partida para estas eleições. Mas o projecto precisa de mais massa crítica, de capacidade política. Um projecto que pretende agregar várias sensibilidades deveria ter a capacidade de congregar mais sociedade, mais peso político, ter vários protagonistas e isso parece tardar.
Falta saber se, com estas candidaturas fortes e vindas da sua área, o candidato do CDS, e tudo indica que seja o actual presidente da estrutura local, Vasco Ferraz, secundado por Paulo Sousa, presidente da distrital centrista, passará para a história como o rosto da perda do até agora chamado bastião autárquico do CDS.