Exemplo
Viveu durante o século XVI (quando escrevo “viveu”, quero afirmar que não se limitou a passar por ele). Nasceu em 1514, em Lisboa, e abraçou cedo o hábito dominicano, longe de imaginar que alguns anos depois iria ser levado a um dos mais altos cargos da Igreja de então. Em 1559, seria arcebispo de Braga, e três anos depois deixaria marca, perante o Papa, na terceira sessão do Concilio de Trento. Juntamente com o seu par, Carlos Borromeu, arcebispo de Milão, também ele canonizado, defenderam, no concilio, a promoção da formação do clero e criaram os primeiros seminários nas suas dioceses.
S. Bartolomeu dos Mártires chegou ao topo, mas, tal como quando professou, para não esquecer a sua origem, escolheu o apelido “Mártires” por ter sido nessa igreja em Lisboa que recebeu o baptismo. Manteve sempre os pés na terra, nunca se deslumbrou com o poder.
Apesar de na altura as dioceses de Bragança, Viana do Castelo e Vila Real ainda pertencerem à arquidiocese de Braga, fez questão de levar avante as famosas visitações pastorais, percorrendo as várias paróquias do vasto território que lhe estava confiado.
Apesar de todo o poder, do trato com os mais poderosos do mundo, quando, por sua vontade, resignou, retirou-se para Viana do Castelo, para o convento hoje conhecido por S. domingos. Despojou-se de todas as regalias que o estatuto de arcebispo lhe daria, viveu como mais um dos frades. Viria a falecer no dia 16 de junho de 1590, completaram-se na passada semana 431 anos.
Que exemplo para os que hoje se deslumbram com o simples lugar de presidente ou membro de um qualquer órgão autárquico! Fica a sugestão para todos os que se aventuram numa candidatura autárquica, leiam a biografia deste Santo, irão certamente aprender muito.
Para além do impulso inicial
Entre 2013 e 2017, fiz parte activa na construção de uma alternativa política para Ponte de Lima. Durante esses 4 anos foi ponto de honra fazer uma oposição forte, mas construtiva. Para isso apresentamos uma série de propostas, tais como a criação de um Centro de Medicina Desportiva, o cartão do idoso, a comparticipação de medicamentos, a criação de um Centro de Apoio e Incubação de empresas, aumento do número de bolsas de estudo para o ensino superior, política de apoio à Saúde Oral e tantas outras que, para não maçar o leitor, nem vou mencionar (estão todas à distância de um clique). Quero pensar que foi essa forma de fazer política que atraiu um número enorme de “independentes da política” para o projecto apresentado em 2017.
Os limianos não escolheram o projecto, o resultado, fruto de várias variantes, foi pesado e desmotivador. Mas, interessante, esses que se tinham entregado pela primeira vez à participação política, não porque seguiam uma pessoa, mas porque se reviam nas ideias e no projecto, não se afastaram. Passado um mês das eleições, todas as listas continuavam a aparecer, os contactos de animo, de vontade de participar, mesmo dos que não tinham sido eleitos, continuaram. Entretanto, a opção pelo que seriam novas linhas orientadoras resultou em silêncio de ideias. Algumas pessoas afastaram-se, outras foram afastadas.
Mas eis que entramos em tempos eleitorais. É com curiosidade que assisto às apresentações das listas candidatas pelos vários partidos e movimentos às eleições autárquicas. Vejo o entusiasmo dos que, pela primeira vez, pisam o terreno da participação política. É quase comovente o indisfarçado olhar embevecido dos responsáveis dos movimentos e partidos, quando apresentam esses “cristãos novos”. É realmente de saudar a sua vinda e entrega, mas que não sejam apenas abajur para as eleições, que sejam o que são, sangue novo para renovar o política e não “produtos” descartáveis ao sabor dos ventos políticos.