O tempo
Por meados do século XX, numa altura em que o automóvel era um bem de luxo, quase inexistente para além dos carros de praça, táxis, o autocarro tinha quase uma áurea divina por transportar pessoas, encomendas, correio e aproximar distâncias, encurtando o tempo entre povoações.
Uma viagem que hoje nos parece banal era algo planeado, preparado com cuidado. A deslocação do autocarro pela estrada era ela própria um tratado. Por exemplo, os 22 quilómetros entre Viana do Castelo e Ponte de Lima não eram feitos de uma vez só, para além dos locais de recolha de passageiros, fazia várias paragem “técnicas” em vendas e tascas. Lanheses era a paragem mais demorada. Uma herança das carruagens de mala posta que ainda concorreram com os autocarros e que tinham que mudar de cavalos ou mulas para prosseguir viagem. Com a chegada do autocarro, aglomeravam-se pessoas entre as que saiam para “desentorpecer” as pernas e as que se juntavam para ver “quem vai”. A carga e descarga de malas e bens transportados, por norma no topo do autocarro, o reabastecimento, a entrada e saída de passageiros demoravam o seu tempo.
Hoje, tudo isso nos parece irreal, de um profundo passado, mas foi uma realidade de muitos que, certamente, ainda vive em várias memórias.
Por falar em memória
Já repararam como o som de muitas das coisas que nos envolvia desapareceu? Lembro que no início dos anos 90 num dos cartazes das Feiras Novas aparecia uma fotografia com um carro de bois em plena ponte medieval. Na ponte não me lembro, mas nessa altura, quer nas imediações da vila quer nas freguesias circundantes, era relativamente normal ver carros de bois, carregados com milho ou erva, a circularem nos caminhos e estradas fazendo-se anunciar pelo seu característico “cantar”. Hoje desaparecerem e mesmo em espaço rural são difíceis de encontrar. Quando foi a ultima vez que viu um carro de bois?
Plátanos
A popularmente conhecida avenida dos Plátanos, em Ponte de Lima, que há uns messes esteve encerrada, está a ser renovada. Novas árvores estão a substituir as antigas com problemas. Sem alarido, a Câmara Municipal aparenta estar a fazer o trabalho necessário para manter um espaço icónico de Ponte de Lima.
O fim de uma geração
Num destes domingos, enquanto dava uma vista de olhos com o meu pai no seu arquivo, encontrámos umas cartas que, no anos 60, Francisco Maia de Abreu de Lima escrevera ao meu avô. Em todas elas havia notas do característico bom humor. Escrevi várias vezes o seu nome, neste espaço, até porque não faltam acções e bons exemplos da sua acção, do seu serviço à causa pública.
Nascido em Maio de 1930, faleceu na passada semana deixando uma vida bem preenchida que marcou muitas outras. Membro da Assembleia Municipal, vereador e presidente da Câmara, Cidadão de Mérito de Ponte de Lima, Irmão Honorário da Misericórdia de Ponte de Lima, promotor do associativismo público foi, acima de tudo, um Homem Bom.