domingo, novembro 26, 2023

Alto Minho, artigo de 23-11-2023


Horizontes

Os adolescentes limianos dos finais dos anos 80, princípios de 90, tiveram sorte. Ainda não havia Internet, mas já tinham possibilidade de espreitarem o mundo de uma forma que adolescentes de outros locais não tinham. Para além do terceiro canal, que chegava da Espanha, a TVE, ainda tiveram a sorte de ter responsáveis autárquicos que decidiram colocar no monte de Santo Ovídio uma antena que re-transmitia alguns canais que recebia por satélite.

Mais tarde viria a ser desmantelada por se verificar que não cumpria algumas imposições legais, mas, enquanto funcionou, permitiu aos adolescentes limianos terem acesso a canais europeus e americanos, canais temáticos que abriram todo um mundo até então desconhecido. Das músicas ao desporto, novos estilos e novas modalidades passaram a ser uma realidade que era possível pelo menos tentar replicar. 

Eu e um grupo de amigos não ficamos de fora, fomos influenciados de tal forma que até usamos pás para cavar buracos e construir rampas na esperança de replicar os circuitos de provas de BMX que víamos nas televisões estrangeiras. Foram corridas épicas as que organizamos nos terrenos e caminhos rurais perto das nossas casas.  

Passados alguns anos, membros desse grupo de amigos fizeram parte do grupo fundador do clube BaToTas – Clube de Desportos Radicais de Ponte de Lima. Pude ver de perto como, por exemplo, os irmãos Bruno e Ricardo Fernandes, membros do grupo das BMX´s, se empenharam para o sucesso das primeiras edições da Descida ao Sarrabulho em BTT. Desde o trabalho de reconhecimento do percurso, ao trabalho burocrático exigido pelo número de inscritos, que aumentava de ano para ano, foi sempre de louvar o trabalho de todos os “batotas” que o faziam de forma voluntária e empenhada. 

No passado fim de semana, realizou-se a XXII Descida ao Sarrabulho, um evento, sem componente de competição, que trouxe ao nosso concelho milhares de pessoas, mil inscritos e outros tantos a acompanhar. Uma organização voluntária, mas profissional no seu funcionamento, que transmite uma imagem positiva do nosso concelho e transcende as fronteiras do nosso país.


Como é possível?


Os serviços hospitalares no nosso distrito estão em ponto de rotura. Não se sabe se por falta de coordenação, por lutas de classe profissional ou por outra causa. Será que realmente interessa? A verdade é que não é possível continuar a pôr em causa a vida das pessoas. Quando os serviços de ginecologia/obstetrícia encaminham doentes para Braga, Famalicão, Guimarães e Porto (São João), que também recebe os doentes encaminhados de cirurgia geral, alguém terá consciência de que alguns doente poderão ter de percorrer 150 ou mesmo 200 quilómetros para ter assistência? Quando uma grávida não é atendida, quando alguém é mandado para casa ao invés de ser internado, ou quando alguém a necessitar de uma cirurgia vê a intervenção ser sucessivamente adiada, quem avalia os impactos dessas decisões, dessa negação de um serviço que é pago com os nosso impostos? É isto o Serviço Nacional de Saúde de qualidade?  


Novo episódio 


No passado dia 9 de Novembro, foi publicado em Diário da Republica a abertura de novo concurso para a selecção de um operador para o serviço publico de transporte de passageiros do Alto Minho. Mais um episódio desta já longa novela. Foi dada a conhecer a produção quilométrica anual de 2 641 614 km e o preço base de 21 661 226,60€, mas seria, também, interessante que se desse a conhecer aos alto-minhotos o tipo de serviço com que poderão contar no final do concurso.