domingo, abril 21, 2024

Alto Minho, artigo de 18-04-2024


100 anos sem ver passar comboios

No final do século XIX foi construída uma linha de ferro que entrava no concelho de Ponte de Lima pela freguesia de Fontão. Vinha do concelho de Viana do Castelo e teria o seu término na linha que se pretendia construir entre Ponte da Barca e Monção. A construção terminou numa ponte, ainda existente, por cima do rio Labruja, na vila de Arcozelo. Apesar da construção de mais de metade da linha, nunca por lá se viu uma locomotiva. Actualmente, para além da referida ponte, ainda se podem encontrar alguns vestígios da linha em várias freguesias dos concelhos de Viana do Castelo e Ponte de Lima.

No inicio da segunda década deste século, a notícia da passagem do TGV por Ponte de Lima causou estrondo na comunidade. Na altura, Vitor Mendes, o então recém eleito presidente da Câmara, afirmava que "Ponte de Lima é um concelho solidário com o desenvolvimento de Portugal mas não pode ser tão fortemente prejudicado”. O PSD local criticou o projecto, afirmando que as propostas do traçado iriam destruir núcleos urbanos e património ambiental com ausência de benefícios diretos, na altura alertavam para o risco de a proposta nascente, a que aparentemente irá avançar, destruir 52 habitações. O tempo foi passando e o projecto, que deveria estar concluído em 2015, foi sendo adiado. Durante esse tempo, o concelho de Ponte de Lima, passou da previsão de apenas ver passar comboios para uma paragem técnica, agora há a previsão da construção de uma estação onde alguns comboios poderão parar. 


Uma estação


O caderno de encargos confirma a existência, como já escrevi acima, de uma estação em Ponte de Lima, provavelmente na freguesia de Brandara. Pelos que se vai lendo, o comboio de alta velocidade do Porto a Valença terá como velocidade máxima os 250 quilómetros hora, mesmo no limite mais reduzido para ser considerada uma linha de alta velocidade. Para a Infraestruturas de Portugal o objetivo é ligar o Porto a Vigo numa viagem de uma hora.

Será que este comboio é a resposta às necessidades de locomoção entre o nosso distrito, o de Braga e a cidade do Porto, onde tantos alto-minhotos trabalham e estudam?


Falta de liderança e visão


Lembro-me bem da minha primeira viagem de comboio. Foi com o meu avô Arlindo e  teve como destino a cidade do Porto. Dormi na sua casa para logo pela madrugada apanhar o autocarro para Viana do Castelo, onde apanhamos o comboio. Em Nine, mudamos de comboio, prosseguindo em direcção à cidade do Porto. A minha viagem com o meu avô foi em tudo idêntica à que ele fizera com o meu pai, 30 anos antes. Se hoje fizesse a viagem com um dos meus filhos, 40 anos depois da minha, a viagem seria, basicamente, a mesma e, provavelmente com a mesma duração. 

Infelizmente, na nossa região houve poucos políticos com vontade ou visão. Infelizmente nenhum, mesmo quando ascendeu a posições de relevância nos diferentes governos, teve a capacidade de liderar ou influenciar uma mudança nos transportes públicos no distrito de Viana do Castelo. O comboio de alta velocidade chegará à nossa região, serão, pelo menos, os preços praticados acessíveis para quem diariamente se desloca rumo a Braga ou ao Porto?