domingo, abril 28, 2024

Alto Minho, artigo de 25-04-2024

#50Anos25Abril



Vocês sabem lá

Por vezes a memória ou o conhecimento são curtos para se saber. Durante esta semana o Arquivo Distrital de Viana do Castelo traz à memória, com uma pequena mostra documental, Manuel Fiúza da Silva Júnior. Nascido em 1888 na freguesia da Ribeira, no concelho de Ponte de Lima, cedo foi viver para a sede do distrito. Aí contactou com os movimentos anárquicos e libertários, colaborando em publicações ligadas a esses movimentos. Já militante do Partido Comunista Português, com a ditadura militar entra na clandestinidade. Detido, pela última vez, pela PIDE em 1957, por “crimes contra a segurança do Estado”, depois de torturas e vários dias de “estátua”, acaba por morrer aos 69 anos na delegação do Porto daquela polícia política. Sim, em ditadura esta era a realidade. 

“Vocês sabem lá / Que tormento é viver sem esperança” 


E depois do adeus

No dia 25 de Abril de 1974 os portugueses, com o Movimento das Forças Armadas (MFA), disseram adeus à ditadura do Estado Novo. Depois desse adeus, da euforia dos primeiros meses, viveram-se tempos conturbados, de ajustes e movimentações de forças e vontades. Nem todos os envolvidos na revolução foram heróis desprendidos como Salgueiro Maia. No ano seguinte, Portugal esteve bem perto de uma guerra civil, a sorte foi termos pessoas da grandiosidade de Ramalho Eanes, Mário Soares e Francisco Sá Carneiro que conseguiram manter o país no caminho da liberdade e da democracia representativa. Foi tempo de nos descobrirmos e de percebermos o caminho que devíamos trilhar enquanto comunidade.

“Quis saber quem sou / O que faço aqui” 


Portugal na CEE

Depois do período revolucionário, a democracia representativa de eleições democráticas prevaleceu. Os anos 80 trouxeram a abertura à Europa da CEE. Se Mário Soares iniciou o processo que parecia difícil de alcançar, Cavaco Silva integrou Portugal na CEE, tornando o nosso país uma referência para as adesões seguintes. A abertura à Europa deu novos horizontes a um país que tinha ficado “pequeno”, fechado sobre si mesmo. 

“Portugal e a CEE / Quanto mais se fala, menos se vê”


Timor

Depois da euforia da bolsa, das empresas, do desenvolvimento, Portugal juntou-se por uma causa, a independência de Timor. Já há muito que não se via a capacidade de união do povo português numa luta unânime, desde as instituições, as instâncias internacionais, aos jovens e sociedade em geral. Cerca de 20 anos depois do 25 de Abril, os portugueses voltaram a unir-se na luta pela liberdade e pela democracia. 

“Ai Timor / Se outros calam / Cantemos nós”


Sem Eira Nem Beira

O início dos anos 2000 trouxe o pântano, a saída de um primeiro ministro para a liderança da Comissão Europeia e, por fim, uma “banca rota”. O que para muitos pareceu uma nova esperança ficou reduzido a uma desilusão que nos levou a passar a depender da ajuda externa para cumprir com as nossa obrigações.

“Ainda espero ver alguém / Assumir que já andou / A roubar, a enganar / O povo que acreditou”


Que parva que sou

O desalento criado pelas condições do acordo com a designada Troika marcou profundamente a sociedade portuguesa. Na década de 10 deste século, o futuro parecia ter fugido. A outrora tão ansiada “Europa” passou a ser vista como o escape para uma nova geração, a tal com a maior formação académica. 

“Porque isto está mal e vai continuar, / já é uma sorte eu poder estagiar. /Que parva que eu sou! / E fico a pensar, / que mundo tão parvo / onde para ser escravo é preciso estudar.”


Vai correr bem

Depois dos ajustes, da coragem de governar para o bem público ao invés das eleições, conseguimos, com muitos sacrifícios, ultrapassar o que parecia impossível. Entretanto enfrentamos uma pandemia global, um sistema político em profunda mutação, uma sociedade inundada de desinformação. 50 anos depois de Abril de 74, o maior desafio é manter a “fome” pela democracia, é promover nos mais jovens a vontade de participar na comunidade, é garantir a possibilidade de discutir, e, simultaneamente, criar pontes entre opiniões diferentes.

“Às vezes as pessoas desiludem / Mas não fiques em casa parado à espera que mudem / Muda tu rapaz / Muda a tua atitude, vais ver que és capaz / E nada te pode parar”


Músicas:

1 - Vocês sabem lá / Maria de Fátima Bravo

2- E depois do adeus / Paulo de Carvalho

3 - Portugal na CEE / GNR

4 - Timor / Luís Represas

5 - Sem eira nem beira / Xutos e Pontapés

6 - Que parva que sou / Deolinda

7 - Vai correr bem / Boss Ac