domingo, dezembro 08, 2024

Alto Minho, artigo de 05-12-2024

Montanha russa

A fábrica da Coindu de Arcos de Valdevez anunciou que vai fechar no final do ano. Uma empresa que chegou a empregar 800 pessoas vai deixar as actuais 350 no desemprego. Com a capacidade de conquistar novas encomendas a ser cada vez menor, a de estofos para a Tesla será efectivamente a última desta unidade alto-minhota da Coindu. 

A concorrência do Norte de África e do México pesaram mais que o “know how” acumulado que algumas colaboradoras já “exportam” para outras fábricas do grupo, no estrangeiro.

Os alarmes já devem ter soado nos municípios do Alto Minho. Há uma forte presença de fábricas com ligação aos componentes automóveis na região, e o sector vive actualmente num quadro de aflição e incerteza. Muitos analistas afirmam que a capacidade de produção instalada está muito acima das necessidades. Com a escassez de clientes e a cada vez maior preponderância dos produtores de automóveis orientais, nomeadamente dos chineses, os cortes na capacidade de produção e, portanto, de empregos, nesta área, será uma realidade cada vez maior.

Não se pense que é uma situação de um município em concreto, é um problema transversal a todos os municípios alto-minhotos. Voltemos ao exemplo da Coindu de Arcos de Valdevez, quantos dos trabalhadores/as são de Ponte de Lima e de outros concelhos vizinhos? Neste assunto também a CIM Alto Minho deverá estar no terreno, encontrando soluções e alternativas para a “tempestade” social que se pode estar a aproximar da região. 


“Temos de criar distrito”


Durante as IV Jornadas Autárquicas do PS foi possível ouvir sentidas e acertadas declarações vindas dos responsáveis autárquicos eleitos sob a bandeira socialista. Falou-se da necessidade de “criar distrito”, ou seja, de pertença comum, deixando de parte o egoísmo e pequeno preconceito, “andamos todos com preconceitos, invejas e ciúmes… sentir que a nova ponte de Viana é tão boa para Viana como para Paredes de Coura”, afirmou Luís Paulo Pereira, presidente da Câmara de Paredes de Coura. Teceram-se laudes à regionalização, apontando o PS como o partido que tem vontade de a implementar, ao contrário do PSD que “já a meteu na gaveta”. Ouviu-se, ainda, que se deveria “estar a pensar no que é estruturante para o território” e críticas ao funcionamento de instituições públicas pelos atrasos que provocam no desenvolvimento regional.

Em boa verdade, com excepção das questões políticas, quase não consigo discordar com nada. Há, no entanto, um enquadramento para estas declarações que faz toda a diferença na sua interpretação e que vai ao encontro do dito popular, “bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz”. Os autarcas socialistas que falaram são os mesmos que lideram a maioria dos concelhos do distrito e lideram a CIM Alto Minho, sendo que, nos últimos 20 anos, o seu partido liderou o governo de Portugal durante 15. Sim, temos de criar distrito, mas se ainda não o temos a quem devemos culpar?