terça-feira, janeiro 16, 2007

Alto Minho artigo 16-01-2007

Só vemos o que queremos
Realmente há uma tendência em algumas pessoas para apenas quererem ver até ao seu umbigo. Perguntei neste espaço, na sequência da mensagem natalícia do Presidente da Câmara, se a Autarquia limiana tinha comparticipado na recuperação do Lar Dona Maria Pia, isto por achar natural, dada a natureza e finalidade daquele edifício, que o tivesse feito.

A resposta, como sempre, não chegou, mas as reacções, essas sim, fizeram-se ouvir. Infelizmente, alguns ainda se regem por algum complexo nada coerente com a idade que aparentam. Parece-me que há a obrigação do Estado (Administração central e, mais ainda, a local por se dizer mais próxima dos cidadãos) proteger os mais desfavorecidos dos seus cidadãos e, quando não o poder fazer directamente, promover as iniciativas de quem lhe toma o lugar nessa tarefa. É aqui que o assunto parece incomodar alguns. Estes dizem que o Estado só deve apoiar aqueles que o necessitem (certo), pelo que entendem que a Autarquia, no caso do Lar Dona Maria Pia, procedeu bem em não ajudar a Santa da Misericórdia de Ponte de Lima por esta ser detentora de muitos bens, isto é, por ser, digamos, “rica” (errado).

Chegamos à fase de explicar, face ao que parece ser o pouco alcance da visão de alguns, uns pontozinhos. O Lar não é para os "irmãos" da Santa Casa passarem lá temporadas, não é nenhum spa, hotel de charme ou sequer pensão explorada pela "instituição de solidariedade social". O Lar Dona Maria Pia destina-se a utentes femininos que, e não é por acaso, são entregues pelo próprio Estado ao cuidado da "instituição".

Já agora, se o Estado deve ajudar alguém não deverá ser àqueles que ao gerir bem o seu património provaram que saberão gerir o de todos nós (Estado)? É por isso estranho que, no caso concreto da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, a Câmara Municipal só se lembre desta para putativas localizações para outra não menos putativa deslocação da Adega Cooperativa de Ponte de Lima.


É cultura...
As questões culturais e a sua programação são sempre tema para discussão. O gosto de uns não é o de outros, como se sabe. Cabe, no entanto, aos responsáveis pelas agendas culturais "dar" ao público o que este quer e não o que ele, enquanto responsável, considera que o público deveria querer. Nesta altura já alguns dizem, "cabe ao Estado educar os seus cidadãos...", isto, claro, seguido de uns vitupérios a mim dirigidos.

Pois bem, Nuno Soares, director da Casa das Artes do vizinho concelho de Arcos de Valdevez, é um exemplo reconhecido no campo da programação cultural no Alto Minho. Numa vila do interior do distrito, este responsável foi capaz de criar público em áreas culturais que pareciam quase aberrações para a região. O festival de cinema "Fantas" é um exemplo disso mesmo. Mas a actividade cultural de excelência neste concelho não se fica por aí, já se deixou há muito de se poder contar pelos dedos das mãos as exposições, actuações, etc, que, a juntar às grandes cidades do país, Lisboa, Porto, Coimbra, escolheram também a vila alto-minhota dos Arcos de Valdevez como palco.

Em Ponte de Lima podemos continuar a dizer, como o Presidente da Câmara recorrentemente o faz, que a programação cultural é das melhores, o público é que não percebe, que adere apenas pontualmente a algumas iniciativas, mantendo o nosso autismo cultural, ou então seguimos exemplos como o citado, apostando na qualidade, certamente, mas sempre de encontro ao próprio público.

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