Vaga de fundo
Na política local o escrutínio torna-se, digamos, mais pessoal, de maior proximidade entre o eleito e o eleitor. As pessoas conhecem-se do dia a dia, sabem a proveniência, sabem quem é quem. Por vezes torna-se difícil para o eleitor distinguir racionalmente entre a “persona” política e a “persona” social. É com esta dificuldade que o eleitor terá que escolher o seu representante nos órgãos que teoricamente mais próximo estão do eleitorado.
A carga pessoal por vezes dificulta a distância que a escolha do nosso representante necessitaria. Muitos políticos aproveitam este facto, que para eles é encarado como uma vantagem. Nestas circunstâncias e quando o político quer demonstrar desapego ao lugar que ocupa, procura, para se recandidatar, o que se denomina como “vaga de fundo”.
Imaginemos que alguém exerce um cargo há vários anos, que já não tem o folgo de outrora, que o vigor reformista há muito foi perdido, mas que ainda assim não pretende deixar o cargo que exerce. A primeira coisa que faz é demonstrar que já não está interessado em exercer o cargo, aí alguns próximos do político, os mais afoitos, começam a aparecer como interessados no seu lugar, isto permite, por um lado esclarecer o político de quem está realmente com ele, por outro dá-lhe tempo de eclipsar esses “usurpadores”. Posteriormente, os de maior confiança, os que não pretenderam o seu lugar, vão calcorreando o terreno, preparando o caminho. O político, esse continua a dizer que não está interessado em exercer o cargo, que este foi muito estimulante, que deseja que o concelho ou a freguesia continue no caminho do sucesso que foi, obviamente, alcançado nos seus mandatos, mas ele já sente cansaço do exercício do poder, precisa de novos desafios.
A empatia pessoal está, no entanto, a ser moldada pelos da sua confiança. As pessoas, os eleitores, começam a ser levadas a crer que não existe alternativa, que até existem muitas falhas, mas que pelo menos já sabem com o que contar. Que o político até quer sair, mas o que será de nós, se pelo menos existisse alternativas? A contra informação é uma ferramenta usada constantemente pelo político. Hoje dá-se a entender que não se continua, amanhã que até poderia continuar, depois que se está cansado e por aí fora com uns tabus pelo meio para “apimentar”…
Falta um ano para as eleições autárquicas, a estratégia da “vaga de fundo” já tem seguidores em Ponte de Lima e não é difícil para o leitor descobrir quem são os seus partidários.
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