quarta-feira, dezembro 01, 2010

Artigo n'O Povo do Lima

Crise
Tal como o leitor também eu estou saturado da palavra “crise”. A verdade é que, por mais saturados que nos sintamos, por mais que desliguemos a televisão e passemos à frente as notícias, ela é como o cheiro a naftalina que se entranha e não desaparece.
No domingo passado, a Igreja iniciou o tempo do advento. O tempo de preparação para o nascimento de Jesus. Um tempo de esperança por excelência que nos deveria dar ânimo pela esperança que acarreta, pois, por mais difíceis que sejam os tempos, a verdade é que a última coisa a fazer é perder a esperança de encontrar na crise uma oportunidade para crescermos.

Aproveitar
O nosso sistema político vive momentos de grandes desafios. Alguns dizem de crise (novamente a palavra), outros de declínio. Eu penso que são de grandes desafios e oportunidades.
É necessário repensar todo este sistema político que se revela todos os dias esgotado, começando pelo que está bem perto de nós, as freguesias. Já repararam no processo de unificação de freguesias que a Câmara Municipal de Lisboa iniciou? Talvez fosse algo que se deveria pensar a nível nacional. Já alguém reparou na diferença entre um deputado interessado e que realmente se empenha em representar os seus eleitores e aqueles que são impostos pelas direcções nacionais dos partidos? Talvez fosse tempo de pensar num sistema de eleição uninominal dos nossos representantes na Assembleia da República. Realmente já pararam para pensar na perversidade dos nossos órgãos autárquicos onde o executivo municipal ao invés de ser formado, tal como o governo da República, pelo partido mais votado é constituído por um órgão colegial onde a oposição serve ou de entrave ao projecto que foi legitimamente escolhido pelos eleitores ou, estando em sobeja minoria, servirá como uma espécie de abat-jour político, sem qualquer poder? Talvez fosse melhor reforçar o poder das Assembleias Municipais, saindo do seio destas os executivos municipais tal como o governo nacional sai da Assembleia da República.

Não será estranho?
Não é estranho existirem políticos que ao mesmo tempo que participam na actividade pública exercem outras actividades que interagem com o Estado? Será correcto, por exemplo, deputados que, sendo advogados, continuem a trabalhar para escritórios que, por sua vez, trabalham para a administração pública? Não será isso tão estranho como, por exemplo, um membro de um Executivo Municipal ser dono de uma empresa de construção e continuar a trabalhar com as Juntas de Freguesia do seu concelho? É que como diziam os romanos “à mulher de César não basta ser séria, também tem que parecer”...

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