sexta-feira, setembro 30, 2011

Intervenção na Assembleia Municipal de Ponte de Lima de 30 de Setembro de 2011


Desde o final dos anos 90 do século passado que a Rede de Bibliotecas Escolares, através do Ministério da Educação, tem vindo a estabelecer protocolos junto dos municípios no sentido de estes, através das suas bibliotecas municipais, garantirem o apoio técnico e financeiro às bibliotecas escolares dos respectivos municípios.

Este apoio tem dado origem um pouco por todos os concelhos ao chamado Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares, o SABE. O de Ponte de Lima, como se pode ler na página Web do Município, “tem como missão a fomentação de uma política coordenada de aquisições, de apoio técnico especializado, de dinamização do empréstimo interbibliotecas e de desenvolvimento de actividades conjuntas nas áreas da promoção da leitura, da literacia da informação e da animação cultural no concelho de Ponte de Lima”.

Acontece que estes novos serviços de apoio às bibliotecas escolares têm tido um efeito perverso para o funcionamento das bibliotecas públicas municipais. Criou-se a ideia generalizada de que as bibliotecas municipais devem apoiar sobretudo os estudantes. Mas deverá a biblioteca municipal deixar-se tomar por essa progressiva escolarização deixando de fora a maior parte da população?

De facto, a escolarização já tomou conta de parte dos serviços e actividades da biblioteca municipal que neste momento mais parece uma biblioteca central das bibliotecas escolares do concelho.

Pergunto ao senhor Presidente da Câmara se sabe a percentagem de utilizadores adultos da biblioteca? Estou certo que muito provavelmente será bastante baixa. E porquê? Porque grande parte dos adultos não se revê nem encontra na biblioteca municipal resposta às suas necessidades de informação.

Minhas senhoras e meus senhores, quantas vezes já foram à biblioteca municipal por vossa iniciativa?

Mais há mais problemas. Por exemplo a orientação dos serviços para actividades meramente recreativas, os fundos invadidos por documentos de qualidade duvidosa pese embora de grande popularidade.

As bibliotecas municipais não terão viabilidade enquanto não existir sustentação política e técnica e pergunta-se, existe? Quem coordena a biblioteca? Quantos profissionais que lá trabalham têm formação específica? Existem planos de formação e desenvolvimento profissional? Onde está o plano estratégico, os indicadores de medida, os resultados?

Está na altura de formular um novo plano que reforce o papel cultural, informativo e social, que não passe apenas pela escola, mas que se dirija a outros públicos sem interesse pelos livros, mas com necessidades de informação com a criação e dinamização, por exemplo, de serviços de apoio ao cidadão e à cultura local, como o serviço de informação à comunidade ou o fundo local, criação de serviços de qualidade apoiados na internet e capazes de tirar partido das novas ferramentas da chamada web social. Neste momento a biblioteca municipal nem página Web tem ou será que a biblioteca se resume ao catálogo colectivo das bibliotecas escolares?

A biblioteca municipal tem que assumir a sua verdadeira função social. Para isso é preciso vontade política de mudar o paradigma, para isso é preciso acção e não apenas reacção.

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