terça-feira, março 27, 2012

Artigo no Novo Panorama


NOTA: Publicado no dia 22 de Março de 2012

Além da Ponte, um bairro histórico e com vida

O bairro da Além da Ponte sempre foi encarado como um género de hall de entrada da vila limiana. Por lá ainda podemos encontrar várias casas de famílias que marcaram a vida cívica e social de Ponte de Lima, no entanto, como noutros bairros do centro histórico limiano, o que se destacava era a forte componente comercial.
Na Além da Ponte, os cereais foram durante anos e anos os reis nos negócios. A farinha e o pão foram uma referência no comércio daquele bairro. Ainda no início dos anos 80 do século passado, era fascinante observar a chegada do moleiro à rua (a rua Manuel Lima Bezerra é localmente conhecida por “A rua”), em cima da sua carroça, puxada por um garboso cavalo esbranquiçado.
Lembro-me que muitas blusas, saias e fatos de cores vivas e espampanantes de mulheres recentemente enlutadas passavam pelo tintureiro, saindo de lá no mais sombrio negro. Mas o tintureiro não prestava apenas os seus serviços nessas alturas de pesar, servia para dar vida à roupa que tinha perdido a cor doutros tempos, mesmo que a opção tivesse por passar pelo negro.
A vida também passava pelas mercearias e pelas padarias. Por lá existiam também as famosas e afamadas tascas, com o agora divulgado bacalhau de cebolada e outros petiscos, onde nos dias de feira se juntavam muitas pessoas vindas de locais como as Argas, Labruja ou Paredes de Coura, antes de retomar o caminho de regresso, onde grupos de pescadores de Viana do Castelo faziam “peregrinações” para provarem o vinho novo. A loja de tecidos com os seus milhares de botões, o funileiro e, claro, o barbeiro, centro das novidades do bairro e do mundo.
Hoje, a Além da Ponte já não é assim, está em mutação. Por um lado, são as intervenções vindas da Câmara Municipal de Ponte de Lima com o Museu Rural, o Albergue de Peregrinos, o Museu do Brinquedo Português, os Hotéis e, dentro em breve, e bem perto, com o aparecimento de um parque de campismo. Por outro, é a vaga de novos habitantes, alguns com raízes familiares no bairro, outros vindos de fora, mas que juntos dão um colorido que, infelizmente, já vai rareando noutras partes do centro histórico limiano.
É verdade que a maioria dos negócios de que falei, as lojas por onde andei na minha infância, já desapareceram, mas também não deixa de ser verdade que a vida é feita de mudança. Felizmente para a Além da Ponte, após alguns anos de degradação e desinvestimento, esta mudança traz esperança. A esperança de que aquele seja um espaço novamente com vida. Assim se consiga replicar esta esperança noutros bairros do centro histórico de Ponte de Lima.



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