NOTA: Publicado no dia 22 de Março de 2012
Além da Ponte, um bairro histórico e com
vida
O bairro da Além da Ponte sempre foi encarado como um género de hall de entrada da vila limiana. Por lá
ainda podemos encontrar várias casas de famílias que marcaram a vida cívica e
social de Ponte de Lima, no entanto, como noutros bairros do centro histórico limiano,
o que se destacava era a forte componente comercial.
Na Além da Ponte, os cereais foram durante anos e anos os reis nos
negócios. A farinha e o pão foram uma referência no comércio daquele bairro. Ainda
no início dos anos 80 do século passado, era fascinante observar a chegada do
moleiro à rua (a rua Manuel Lima Bezerra é localmente conhecida por “A rua”),
em cima da sua carroça, puxada por um garboso cavalo esbranquiçado.
Lembro-me que muitas blusas, saias e fatos de cores vivas e
espampanantes de mulheres recentemente enlutadas passavam pelo tintureiro,
saindo de lá no mais sombrio negro. Mas o tintureiro não prestava apenas os
seus serviços nessas alturas de pesar, servia para dar vida à roupa que tinha
perdido a cor doutros tempos, mesmo que a opção tivesse por passar pelo negro.
A vida também passava pelas mercearias e pelas padarias. Por lá existiam
também as famosas e afamadas tascas, com o agora divulgado bacalhau de cebolada
e outros petiscos, onde nos dias de feira se juntavam muitas pessoas vindas de
locais como as Argas, Labruja ou Paredes de Coura, antes de retomar o caminho
de regresso, onde grupos de pescadores de Viana do Castelo faziam
“peregrinações” para provarem o vinho novo. A loja de tecidos com os seus
milhares de botões, o funileiro e, claro, o barbeiro, centro das novidades do
bairro e do mundo.
Hoje, a Além da Ponte já não é assim, está em mutação. Por um lado,
são as intervenções vindas da Câmara Municipal de Ponte de Lima com o Museu
Rural, o Albergue de Peregrinos, o Museu do Brinquedo Português, os Hotéis e,
dentro em breve, e bem perto, com o aparecimento de um parque de campismo. Por
outro, é a vaga de novos habitantes, alguns com raízes familiares no bairro,
outros vindos de fora, mas que juntos dão um colorido que, infelizmente, já vai
rareando noutras partes do centro histórico limiano.
É verdade que a maioria dos negócios de que falei, as lojas por onde
andei na minha infância, já desapareceram, mas também não deixa de ser verdade
que a vida é feita de mudança. Felizmente para a Além da Ponte, após alguns
anos de degradação e desinvestimento, esta mudança traz esperança. A esperança
de que aquele seja um espaço novamente com vida. Assim se consiga replicar esta
esperança noutros bairros do centro histórico de Ponte de Lima.
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