domingo, janeiro 18, 2015

Oposição de formulário

(Artigo publicado no jornal Cardeal Saraiva de 16 de Janeiro de 2015)
 Por vezes pensamos que a oposição não trabalha, alguns dizem mesmo que as câmaras municipais não se ganham, perdem-se. A verdade é que a oposição tem um trabalho difícil e, quando o poder está instalado, mais difícil esse trabalho se torna. É preciso ter um projecto, definir um rumo e que todos os agentes remem num só sentido. É isso que, desde as eleições de 2013, o partido líder da oposição em Ponte de Lima, o PSD, tem feito. Pela primeira vez, faz muitos e muitos anos, o partido líder da oposição em Ponte de Lima tem uma acção política coordenada com o vereador, Manuel Barros, e com a bancada da Assembleia Municipal. É óbvio que a capacidade de olhar para além do próprio partido também tem uma forte influência. Ponte de Lima precisa de mudar, nunca tanto se sentiu essa necessidade, e a mudança começa na própria visão e forma de fazer política. Criação de consensos e não crispações eunucas, não ceder à demagogia ou populismo, pensar e ter sempre em mente os reais problemas das populações e não olhar a jogos políticos.
A oposição deve ser, e é, muito mais que um formulário generalista cheio de lugares comuns. A imagem que ilustra este artigo exemplifica essa forma passadista de oposição. Eis um exemplo de formulário usado como declaração de voto pelo vereador do movimento 51, que serve para várias reuniões de câmara, para vários pontos da ordem de trabalho, independentemente do que se esteja a debater ou decidir. Vale a pena o leitor consultar as actas das reuniões de Câmara (http://www.cm-pontedelima.pt/ver.php?cod=0T0U0B0H) para assim perceber a actuação dos nossos representantes. Poderá verificar que não, não são todos iguais. Porque quando é necessário explicar a razão de cada decisão ou posição, a explicação deve ser estudada e pensada e não resumir-se a generalidades e retóricas inócuas.
Mais que chavões, mais que fazer de conta é preciso concretizar, saber quais os problemas e encontrar soluções para os mesmos. Mais que acusar os outros de “amizades” é necessário apontar outro caminho, ter uma alternativa, saber o que se quer. Para isso é preciso saber quem somos. Infelizmente, alguns têm dificuldade em sabê-lo, vão indo conforme o vento. Um dia, militantes, outro dia, independentes, outro dia, a defender outro partido, outro dia, a defender a "revolução", outro dia, a defender sabe-se lá o quê...
Só com uma oposição forte, que sabe o que quer, que tem um projecto alternativo, mas que não tem qualquer problema em concordar com o que está bem, é que terá a capacidade de contribuir para que a maioria que governa compreenda que, por maior que seja a sua maioria, tem de respeitar os cidadãos, os eleitores.
Este primeiro ano de mandato tem sido conturbado para a maioria na Câmara Municipal de Ponte de Lima. O vereador do PSD, Manuel Barros, pediu esclarecimentos à câmara municipal sobre a linha de muito alta tensão que iria esventrar o concelho limiano e que estava oculta de todos. Foi a partir daí que se soube da concordância do vice-presidente da câmara, com a anuência do presidente, com uma das linhas, o que provocou a união da sociedade civil e a realização de várias e concorridas sessões de esclarecimento, promovendo formas de protesto. Neste momento, o projecto está parado, mas não pela acção da maioria na câmara municipal de Ponte de Lima. Recentemente, a maioria apresentou um projecto com gastos megalómanos (mais de 6.5 milhões) para a construção de um novo edifício para os paços do concelho. Foi o vereador do PSD que, desde a primeira hora, se declarou indignado, considerando no mínimo estranho que a maioria apresente agora um projecto que em 2013 não fez parte do seu programa eleitoral. Desde a primeira hora reclamou que os limianos deveriam ser ouvidos. Neste momento, corre um abaixo-assinado para que, caso não se encontre consenso dentro da Assembleia Municipal (proposta feita por Mário Ferreira, líder do PSD, e que, felizmente, parece que contará com a anuência dos grupos municipais), se venha a convocar um referendo local à deslocalização dos paços do concelho.
A oposição é isto. É fazer. É realizar, mais que protestar. É ser alternativa. É assim que se defendem as populações.

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