segunda-feira, novembro 23, 2015

O estranho caso da toponímia

(Artigo publicado no jornal Cardeal Saraiva de 19 de Novembro de 2015)

Se visitar a página web do município de Ponte de Lima (http://www.cm-pontedelima.pt/ver.php?cod=0T0H0E) descobre que a mais populosa freguesia do concelho de Ponte de Lima, Arcozelo, ainda não consta na “Toponímia das Freguesias”. Algumas pessoas envolvidas no processo de Arcozelo queixam-se das "forças de bloqueio" existentes dentro da estrutura responsável pela toponímia da Câmara Municipal.

O leitor sabe quem são essas pessoas ou de que estrutura estamos a falar? Alguns falam numa Comissão de Toponímia, mas se o leitor, tal como eu, procurar na página do município, nada vai encontra sobre esta suposta comissão. Se ainda existe, nada sabemos sobre ela, quem dela faz parte, as suas competências. Outros falam de parecer de técnicos da autarquia. Quais técnicos? Ainda temos presente as críticas que o falecido Padre Dias fez aos “invejosos”, numa entrevista em 2012, ao jornal Novo Panorama, a propósito da sua passagem pela Comissão de Toponímia.

A importância da toponímia na vida de todos nós é inegável, imaginem só o que significa, neste mundo de interoperabilidade de base de dados, não ter, por exemplo, a morada correcta no cartão de cidadão. Confusões devem ser evitadas a todo o custo. É por isso que vou partilhar com o leitor o seguinte caso que se passa num dos mais icónicos e históricos arrabaldes de Ponte de Lima, a Além da Ponte.

A Além da Ponte está (tradicionalmente e auxiliando-me apenas da memória) dividida entre o Largo Alexandre Herculano, Trás-os-Palheiros, Avenida Conde da Barca, Largo da Freiria, Caminho das Regadas, Rua Manuel Lima Bezerra, Largo da Alegria, Rua Francisco Maia e Castro. O caso centra-se entre os largos da Alegria e o Alexandre Herculano.

Até há bem pouco tempo, e se perguntar a qualquer um dos antigos habitantes d’Além da Ponte é essa a resposta que vai obter, o largo Alexandre Herculano era o largo onde desemboca a ponte romana, o largo da Alegria era o largo imediatamente a seguir, se o leitor virar à esquerda vindo da ponte. Na página do município, se o leitor procurar o Albergue dos Peregrinos, logo verifica que a morada do mesmo é no largo Alexandre Herculano (http://www.cm-pontedelima.pt/alojamento.php?id=71). No entanto, se, na mesma página, procurar o Museu do Brinquedo Português (http://www.cm-pontedelima.pt/ver.php?cod=0M1B) logo fica a saber que este se encontra no largo da Alegria. E qual é o problema? Bem, o problema é que estas duas valências funcionam no mesmo edifício, numa antiga casa comprada e reformulada pelo município.

Esta confusão adensou-se quando o município resolveu comprar mais dois edifícios no mesmo largo (Alexandre Herculano) reformulando-os e disponibilizando-os para exploração hoteleira. Aquando da inauguração desse novo hotel ficou a saber-se que este, fronteiro ao Albergue dos Peregrinos, ficava no largo da Alegria. A isto acresce-se o facto, no mínimo estranho, da inexistência de placas de toponímia exactamente nos locais que despertaram esta confusão, quando existem nas outras artérias e largos (excepção feita à rua Manuel Lima Bezerra).

Questionei o senhor presidente da Câmara, Vitor Mendes, em reunião de Abril de 2014 (http://nunodematos.blogspot.pt/2014/04/intervencao-na-reuniao-da-assembleia.html) sobre esta confusão, e da razão da falta de placas de toponímia. Afirmou não ter conhecimento do problema, mas que iria questionar os serviços. Passado mais de um ano, o problema subsiste, a toponímia de Arcozelo continua num impasse e casos como o descrito anteriormente mantêm-se.


Os anos vão passando, este tipo de situações vão-se mantendo até que alguém, independentemente dos grupos, das reuniões, num obscuro gabinete, irá, sozinho, decidir. De quem é a culpa? Nossa, quando nos calamos e não exigimos mais dos que escolhemos para exercer o poder político. 

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