Ter de sair
Não é ao acordar, é ao fechar a porta que o medo nos assola o coração. Medo que seja a última vez que se bate a porta sem que o pouco do mundo ainda dito normal desapareça. Este é o sentimento de quem, como eu, sai todos os dias para trabalhar, no meu caso no atendimento ao público. Quando se ouvem relatos dos que trabalham na linha da frente dos hospitais, centros de saúde, IPSS, não se consegue perceber como, atendendo aos exemplos vindos de foram, Portugal não foi capaz de se acautelar, preferindo manter uma narrativa de que estava tudo bem, estávamos preparados, tínhamos material suficiente…
Não se consegue perceber como não se foram adquirindo mais ventiladores, mais máscaras, luvas e fatos de proteção. Como é possível surgirem apelos desesperados dos que estão lá, na linha da frente, não em teletrabalho ou em conferências de imprensa, mas nos pisos zero, nos corredores, a pedir, quase clandestinamente, aos amigos, aos conhecidos, à comunidade que ajudem materialmente ou monetariamente para que esses materiais sejam adquiridos. Onde estão os diretores, os responsáveis? Onde está o planeamento quando, pelo menos desde finais de janeiro, princípios de fevereiro, se tinha conhecimento da onda que se aproximava?
Informação
Vejo nos telejornais notícias vindas do estrangeiro. São duras, por vezes até dou por mim a pensar se não deveriam ser filtradas, mas logo afasto esse pensamento. Sem sensacionalismo, as notícias, mesmo as muito más, devem ser divulgadas. É que, mesmo com estas últimas, ainda há pessoas que parecem não perceber o que está em causa, que o deixar andar, o “é só esta vez” agora não se aplica, porque os efeitos são catastróficos. A vida que tínhamos, neste momento, está ou deve estar suspensa.
É verdade que o que aconteceu na Povoa e em Vila do Conde neste último fim de semana é, no mínimo, revoltante. Mas há esperança, a grande maioria dos portugueses tem evitado sair desnecessariamente de casa. Deixou de ver fisicamente pais, avós, filhos, e com isso todos sofrem, todos sofremos. É um sofrimento comunitário por uma causa superior na tentativa de minimizar outro que corre o rico de ser maior.
Pequenas grandes coisas
A não participação física na eucaristia é algo que pessoalmente me pesa. Felizmente, a Igreja, graças a muitos párocos, consegui rapidamente e de forma fantástica aproveitar as novas tecnologias. Algo que deveria manter, mesmo quando ultrapassarmos esta pandemia, como forma de se aproximar da comunidade, dos doentes e dos que, por força maior, estão ausentes.
Outra situação é a compra de jornais. Sim, hoje as notícias encontram-se num clique, mas confesso que gosto de comprar em suporte papel, pelo menos dois títulos, o semanário Alto Minho e a revista Sábado. É por isso que deixo um agradecimento aos seus jornalistas e colaboradores e a quem nos faz chegar as nossas encomendas informativas, no meu caso a Catarina da KT. Store que se adaptou, como tantos comerciantes, entregando os jornais e revistas aos seus clientes da zona urbana de Ponte de Lima.
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