Desejos
No número anterior do Alto Minho podíamos ler Gaspar Martins (VIRAMILHO) a assumir que irá vencer, já na folha seguinte Abel Baptista (PTMT) a afirmava que a luta será entre ele e Vasco Ferraz (CDS-PP).
Desejos, vontades? Abel aposta na narrativa da bipolarização para tentar reduzir as opções de escolha, Gaspar pretende demonstrar confiança no seu “músculo” eleitoral.
A verdade é que Ponte de Lima terá pelo menos 6 candidatos, vive uma mudança de ciclo, com uma abstenção de cerca de 34% e o aparecimento de novas orgânicas e partidos pelo que qualquer previsão, pelo menos para já, não mais será que uma expressão de desejos.
Prefiro notícias
Recentemente participei num evento que, por causa da pandemia, decorreu online. Nos dias seguintes, o evento apareceu em alguns órgãos de comunicação social, nomeadamente online. Repare, caro leitor, que escrevi “apareceu” propositadamente. Não se tratou de uma notícia sobre o evento mas de um comunicado de um qualquer gabinete ou agência de comunicação transcrito, acriticamente, como que de uma notícia se tratasse. O comunicado foi partilhado várias vezes nas redes sociais e, na verdade, excluindo-se o título, o que ficou do evento foi a leveza da vacuidade. Felizmente, o jornal que está a ler investe em jornalistas, ao contrário de alguns congéneres locais e nacionais, e por cá leu-se uma notícia sobre o evento, quem interveio, o porquê do evento, etc.
São exemplos como este que elevam a importância de uma imprensa feita por jornalistas. É a diferença entre uma notícia, que pretende informar, e um comunicado, que pretende influenciar e construir realidades narrativas, por vezes paralelas à verdade. São os jornalistas que transcrevem os acontecimentos em notícias, são eles que têm a função de escalpelizar os comunicados enviados para as redações, são eles os especialistas, treinados para distinguir o que é notícia e o que é “publicidade”.
Eu, caro leitor, prefiro notícias.
Gontinhães
Muitos leitores não saberão, mas Gontinhães é o nome ancestral da freguesia que, depois de elevada à categoria de vila a 2 de Julho de 1924 pela Câmara de Deputados, passou a ser designada por Vila Praia de Âncora.
É por lá que o peixe passa a fazer, realmente, parte dos meus gostos gastronómicos. Em mais nenhum lado esse gosto aparece. Normalmente, tudo começa por um telefonema do restaurante ao amigo José a dizer que tem novidade fresca. Simpaticamente somos convidados para, junto com outros amigos, o ajudar a “trinchar” um robalo. Comparado com os que se vão encontrando por aí, estes robalos mais parecem tubarões. Já nem vos escrevo sobre o sabor, porque este só mesmo experimentando nos restaurantes de Gontinhães.
Ainda me lembro das ondas galgarem e atravessarem o velho portinho de Vila Praia de Âncora e chegarem às ruas da cercania. Mais tarde fizeram uma intervenção, colocaram pontões, pedras e barreiras, mas o resultado foi o assoreamento persistente do portinho. Não consigo entender como, ano após ano, o portinho de Âncora é noticia sempre pelo mesmo. Não bastava aos pescadores terem que enfrentar os inertes do seu portinho, ainda têm que enfrentar a inércia dos responsáveis políticos. E tanto bom peixe para ser notícia…