domingo, julho 04, 2021

Alto Minho, artigo de 30-06-2021


Vidas

Numa casa baixinha, na primeira curva da antiga estrada que passava na Além da Ponte rumo a Viana do Castelo, antes do cemitério das Regadas, do outro lado do nicho de S. Gonçalo, aí vivia o José. Pele queimada pelo sol, andava, quase sempre, de mangas cavas. Fazia do espaço, junto ao nicho, a sua oficina de escultura ao ar livre. A sua actividade era a da estatuária popular, era um santeiro. As pedras, na sua mão, transformavam-se ora num S. António, ora num S. José ou num S. João. Por vezes, apenas numa pedra com um vulto. 

Vivia sozinho e assim foi até, já em idade mais avançada, se perder de amores. Talvez estivesse farto de comer apenas uma refeição, por vezes uma sardinha sem ser das de lata, que acompanhava com um cigarro de marca kentucky. A verdade é que casou tarde e transformou-se. Alargou-se em corpo e na felicidade que não conseguia esconder.  

Lembrei-me dele ao passar naquele que foi o seu espaço, a sua casa, a sua oficina. Hoje, poucos se lembrarão que ali se criavam imagens esculpidas na pedra granítica da região. Poucos se lembrarão do pó da sua actividade, da sua loucura artística e também social. A casa está fechada, sem vida, o espaço da sua oficina é a entrada de um arruamento. Como alguém disse, a nossa memória é o espaço onde vivem aqueles que já partiram e na minha memória também vive o José. 


Vai um mergulho no rio?


Agora que o tempo aquece, ressurge a vontade de um mergulho no nosso rio. Num breve passeio entre o Arnado e a capela de S. João, reparei numas placas colocadas nos extremos desses locais. Aproximei-me de uma e de outra. Pareciam um aviso, mas para aviso estavam, digamos, um pouco escondidas. Aproximei-me mais, sim, confirmei, eram  avisos da Administração da Região Hidrográfica do Norte. Aqueles são espaços de "banho desaconselhado", a água não está identificada como água balnear. 

Já aqui escrevi, em tempos, no expediente usado para a classificação daquele espaço, que um dia chegara a ser praia de bandeira azul, por forma a não aparecer todos os anos nas notícias como um dos piores exemplos nacionais de praias balneares. Sempre que este assunto ressurge mediaticamente, ouvimos algum responsável municipal afirmar que é feita a análise às aguas e que esta tem vindo a demonstrar que são de qualidade. Para as análises serem tomadas a sério deverão ter uma periodicidade quinzenal ou semanal de acordo com a variação sistemática da qualidade. Não duvidando dos bons resultados obtidos, porque chegou a época de "banhos", por que não torná-los públicos? 

Fica mais um desafio aos candidatos. Qual deles está disposto a agarrar o desafio de formalizar um pedido de classificação para a prática balnear  junto das Direcções Regionais do Ambiente e do Ordenamento do Território? Estariam dispostos a envolver o município num projecto de devolução do rio à comunidade?


Feira do Livro


A Feira do Livro de Ponte de Lima está aí à porta. Marque na sua agenda, terá lugar de 8 a 11 de Julho. É sempre uma boa altura para encontrar algumas novidades. Teria sido uma altura interessante para apresentar a reedição dos livros de Luís Sousa Dantas, por exemplo. Pessoalmente, gosto de procurar livros sobre Ponte de Lima ou de autores limianos.

A Feira do Livro volta a ocupar a sala panorâmica da EXPOLIMA. É pena, seria mais interessante voltarmos a ter uma Feira do Livro ao ar livre, poderia ter sido pensada para a Lapa, por exemplo. Aproveitava-se a sombra das seculares arvores e devolvia-se vida a um espaço recentemente intervencionado.