terça-feira, outubro 12, 2021

Alto Minho, artigo de 06-10-2021

20 anos


Tenho Vítor Mendes como uma pessoa acessível, bem-disposta, de bom trato com a qual, politicamente, difiro com regularidade. Despediu-se da Assembleia Municipal na passada noite de quinta-feira. Nos últimos 20 anos, foi presença assídua, primeiro como vereador, depois como presidente da Câmara. Realço a Assembleia Municipal, porque foi lá que nos encontramos durante dois mandatos. Ele como presidente da Câmara, eu como membro da Assembleia Municipal, tendo como presidente Abel Baptista, e, posteriormente, como líder da bancada do maior partido da oposição, na presidência de Salvato Trigo.   

Bem sei que na hora da despedida é mais fácil ser cortês e seguir os cânones do socialmente estabelecido de apenas lhe desejar as maiores felicidades para a sua vida civil”, o que obviamente e de forma sincera desejo e espero. No entanto, porque a história não se faz só na hora da saída, até porque eu, por opção própria, já me despedi” no mandato de 2017, posso ser, digamos, mais frontal. 

Olhando para todos esses anos não é possível relevar algumas situações. Realço 4. O problema da qualidade das águas e das margens do rio Lima. Um problema que Mendes enfrentou desde a sua passagem como vereador, que passou para a sua presidência e que realmente não conseguiu, para além de uns paliativos momentâneos, fazer frente. O rio Lima é cada vez mais um rio, não do esquecimento, mas esquecido. A descabida proposta de construção de um novo edifício para os Paços do Concelho, para o qual Mendes afirmava ter financiamento comunitário, só travado pelos esforços da oposição que de uma forma ou de outra foram empurrando o processo até cair num imbróglio e consequentemente no esquecimento. A compra de terrenos em Calvelo. Um processo envolto em polémicas, justificado na altura por Mendes com interesse de empresas para aí se implantarem, mas que foram necessários 5 anos para aprovar a construção de uma zona industrial. Finalmente, o finca pé na central de betuminoso de Arcozelo. Apesar das tentativas de vários sectores sociais, institucionais e políticos em encontrar uma solução alternativa, o autarca tudo fez para licenciar e legalizar a construção da central de betuminoso no centro da vila de Arcozelo. A afirmação de que poluiria tanto como uma panificadora ficará marcada nas mentes da gente de Arcozelo, até porque, infelizmente, os actuais vizinhos da central confirmam, com bastante assiduidade, que o cheiro, já para não falar dos gases que de lá saem, é bem distinto do do pão. 

Mas, não fez nada de bom? Claro que fez. A aposta cultural, existe um antes e um depois de Vitor Mendes, nomeadamente na área dos espetáculos. A projecção do concelho no mercado do turismo popular e na construção dos produtos endógenos”. As inúmeras capelas mortuárias e centros cívicos, de que muita gente gosta e considera um investimento, por quase todas as freguesias. A capacidade de trazer para o desempenho do cargo de presidente a sua bonomia pessoal. No trato interpessoal, enquanto presidente, é inegável que Mendes conseguiu transmitir uma proximidade onde todos se sentiam especiais. Louvo essa sua capacidade tão rara de encontrar nos eleitos, mas tão importante para quem está presidente ou membro de um órgão eletivo. 

Nos debates que mantivemos na Assembleia Municipal, não me recordo de o ver usar o argumento ou a sugestão, que outros usaram, de que por criticar as suas escolhas políticas estaria a criticar Ponte de Lima. Foi rara a vez em que aceitou as sugestões da oposição mas, talvez por lhe apresentar argumentos políticos e não a critica pessoal, senti dele respeito pelas minhas posições e intervenções. Apesar de todas as diferenças políticas, também eu respeito Vitor Mendes que, se mais não for, deu 20 anos da sua vida ao nosso concelho.