domingo, outubro 24, 2021

Alto Minho, artigo de 20-10-2021

 Há quem viva numa redoma... 

Na passada semana, tivemos a honra de receber o nosso Primeiro Ministro que colocou a primeira pedra numa fabrica de vanguarda na produção de componentes automóveis. Não sei se se deslocou num topo de gama alemão ou se no elétrico japonês, nem sei se foi um ou foram dois da dezena de motoristas que o conduzem. Dos cerca de 300 trabalhadores que lá irão laborar, provavelmente 99% deles terá de fazer obrigatoriamente a viagem de casa para o trabalho no seu carro particular. Sem transportes coletivos dignos desse nome, partilharão, talvez, boleias entre colegas e, arrisco a apostar, nenhum deles terá um carro elétrico idêntico ao que António Costa já usava na Câmara Municipal de Lisboa e que usa no governo (para deslocações em Lisboa?).  

São esses trabalhadores que, apesar de trabalharem nos motores do futuro”, são penalizados pela carga fiscal nos combustíveis que o primeiro ministro teima em não reduzir verdadeiramente por questões ambientais” e que tornam os nossos” combustíveis, mesmo sem colocar o rendimento per capita na equação para a comparação, dos mais caros da Europa. Os mesmos que serão o alvo para os novos radares de controlo de velocidade (que) vão gerar receitas de cerca de 13 ME” (titulo do DN), e que  irão suportar o aumento previsto no ISV e no IUC. 

Numa sociedade construída na mobilidade, numa mobilidade que fora dos grandes centros urbanos só existe no transporte privado, transporte privado que pelos valores envolvidos, pelas distâncias e pelas infra-estruturas existentes se limita praticamente aos que usam combustíveis convencionais, a carga fiscal é já esmagadora e castradora do progresso e do tecido social. 

Não! Nem todos discutimos a pertinência das ciclovias na Almirante Reis, nem sabemos onde é que fica, nem todos podemos seguir o exemplo do Ministro do Ambiente que numa entrevista afirmou que não tinha automóvel privado porque usava os transportes públicos, esquecendo que nem todos residem e vivem na área metropolitana do Porto, onde existe uma rede de autocarros e metro com investimentos de milhões, por vezes para 2 ou 3 quilómetros. Uma coisa é certa, sempre que ouvimos a intenção de investimento de milhões em transportes alternativos, raramente, ou nunca, é para beneficiar aqueles que vivem fora das grandes áreas metropolitanas. A esses, parece, restar ser o alvo do esmagamento fiscal. Será que algum dia, os nossos governantes sairão da redoma onde vivem? 


Escolhas/mudanças


Um pouco por todos os países democráticos ocidentais estão a aparecer novos movimentos, novas clivagem sociais, novos protagonistas. Uns salutares, outros nem tanto. Mas um aspeto é indiscutível, a participação política (não confundir com militâncias partidárias), por vezes de causas, é levada cada vez mais a sério pelas populações ou por grande parte destas. 

Os políticos que o são há anos, ora presidentes da câmara, ora deputados, ora governantes, cada vez mais desfasados da vida real, da vida que os eleitores vivem, começam a ser penalizados. São necessárias pessoas que levem para os cargos eleitos a experiência da vida, não a experiência de muitos cargos”, que sejam a voz e verdadeiros representantes dos seus eleitores, das suas comunidades e não dos interesses instalados. Que saibam que estão no cargo e que não são o cargo, que a importância dos mesmos é reflexo do serviço e entrega que prestam aos seu pares. Os eleitos têm que ter a noção de que o exercício do poder é como uma caminhada pela floresta, se não estiverem atentos vão, certamente, perder-se.