Lugares, sempre a luta por lugares
No último número deste jornal, ficamos a saber que ainda existem várias freguesias no distrito de Viana do Castelo onde, apesar de já terem passado quase dois meses desde as eleições autárquicas, os políticos se mostram incapazes de se entenderem para formar o executivo da Junta de Freguesia. Numas, porque o presidente eleito não se capacita de que não tem maioria absoluta e de que precisa negociar, noutras, porque apesar de terem perdido as eleições, os candidatos não aceitam o seu papel de oposição, assumindo que, porque o presidente eleito não tem a maioria dos eleitos na Assembleia, podem ser eles a impor e controlar o executivo através de maiorias negativas.
São necessárias cedências, não imposições. É necessário, acima de tudo, bom senso. Existem vários cenários para encontrar consensos. Um lugar no executivo para a oposição; um lugar no executivo e a presidência da Assembleia de Freguesia para a oposição; apenas a presidência da Assembleia de Freguesia para a oposição… poderíamos conjecturar vários cenários possíveis e até razoáveis.
Pessoalmente, prefiro outro caminho. Defendo que o executivo sejam constituído pelos membros da lista vencedora, ainda que não tenha maioria. Com esta situação, a Assembleia de Freguesia assume um papel de ainda maior importância, baseado na negociação entre as várias sensibilidades que a constituem. Negociação não de lugares, mas do que é realmente importante, das políticas que se querem implementar, no caso, na freguesia.
Infelizmente, parece cada vez mais que os políticos vivem para os lugares, apegados à sua “importância”. A luta, a negociação e o entendimento em prol do que querem para a sua comunidade parecem relegados para um segundo ou terceiro plano. Com esta situação, chegam os impasses. Com os impasses, perdem as comunidades, os eleitores e a confiança nos políticos.
Por falar em confiança nos políticos
Há uns anos estalou a polémica dos “turbo professores”. Professores universitários que acumulavam a docência em várias universidades. Não menos polémica é a existência de “turbo políticos”.
Quem são os “turbo políticos”? São aqueles que parecem não poder ver uma eleição sem que tudo façam para que sejam nelas candidatos. Eles candidatam-se às câmaras, às assembleias municipais, de freguesia, a deputados…
Dia 30 de Janeiro, vamos eleger os nossos representantes à Assembleia da República. Quantos dos que foram candidatos autárquicos, dos que estão eleitos representantes autárquicos, já se estarão a movimentar para assegurar um qualquer lugar numa lista candidata?
Como ficará a confiança dos eleitores com políticos “profissionais” da candidatura? Não existirá mais ninguém? Estarão os partidos tão deficitários que tem de candidatar sempre as mesmas pessoas, independentemente do cargo a que se candidatam? Em democracia ninguém é obrigado a candidatar-se a nenhuma função política, mas, uma vez eleito, o respeito para com quem lhe confiou o seu voto, a sua representação, deveria ser sagrado.
Post Scriptum
No passado sábado, estive na Adega Corporativa de Ponte de Lima, não para beber o seu premiado produto mas para beber literatura. Em boa hora, Rosário Sá Coutinho, em nome da família do 3º Conde d’Aurora, tomou a iniciativa de, como forma de comemorar os 125 do seu nascimento, reeditar duas das suas maiores obras de ficção; D. Aleixo, que faz este ano 100 anos, e O Pinto, galardoado em 1935 com o Prémio Eça de Queiroz. Foi, realmente, uma tarde de engrandecimento cultural.
A edição destes livros ficou a cargo da família e teve um número muito limitado de exemplares. Fica o repto à Câmara Municipal: porque não, em acordo com a família, assumir uma “2º edição” desta reedição para que chegue a mais pessoas, às escolas, aos curiosos do limianismo?