Surpresa 1
É com surpresa, ou talvez não, que vou lendo as reações de alguns políticos à decisão de passar a usar a bicicleta nas deslocações dentro da cidade votada pela maioria no executivo municipal de Viana do Castelo. Poderiam ter questionado o porquê de usarem bicicletas eléctricas, por serem, sei lá, mais caras, ou porque limitam o uso às condições climatéricas, ou questionar o perímetro de acção do uso das mesmas, ou se além de medidas simbólicas, mas não.
Quem vive ou trabalha no centro histórico de Viana do Castelo verifica duas coisas. Por um lado, a escassez de moradores (uma “praga” que assola quase todos os centros históricos), por outro, o uso cada vez mais frequente das bicicletas que, de forma harmoniosa, vão convivendo com os peões. Do Campo da Agonia, à rua da Bandeira, são imensos os vianenses que se deslocam de bicicleta no centro histórico. Estamos a falar de mobilidade e não de corridas, pessoas na sua roupa de dia a dia, a fazer a sua “vida” e não em licras desportivas, a altas velocidades ou em acrobacias. A convivência saudável, em alguns casos em ruas fechadas ao transito motorizado, é uma evidência. Algum dos leitores tem conhecimento da existência de acidentes ou altercações públicas entre utilizadores do espaço publico, entre pedestres e utilizadores de bicicleta? Não? Eu também não.
Talvez seja por falta de vivência no centro histórico, desfasamento da realidade ou das dificuldades inerentes ao “multitasking” político, mas é surpreendente que, para criticar o uso de bicicletas elétricas, se tenha apenas encontrado o argumento de que estas não podem ser usadas no centro histórico porque as ruas são quase todas pedonais!
Surpresa 2
Os sinais que nos chegam das reuniões do executivo municipal de Ponte de Lima não estão a ser os esperados. É com surpresa que lemos a notícia no último número deste jornal.
Ao que parece, o presidente da Câmara ou tarda ou não coloca em discussão as propostas da oposição. Esta situação surpreende, porque tenho a certeza de que o novo presidente sabe que, mesmo tendo maioria absoluta no órgão a que preside, ganha sempre em ouvir e discutir as propostas da oposição. Vasco Ferraz deveria aprender com Daniel Campelo, que por sua vez aprendeu com Fernando Calheiros, que é salutar ouvir os vereadores da oposição até porque ouvir não significa seguir.
A segunda surpresa é a alegada utilização da mobilidade interna de funcionários da autarquia, supostamente, como retaliação da sua participação política nas últimas autárquicas. Não sendo aceitável sequer a suspeição, ao invés de ironizar com Hollywood, o presidente deveria cortar pela raiz fornecendo dados sobre as mudanças, que legitimamente podem e devem ser feitas, enquadrando-as com o objectivo das mesmas. Com esta atitude, não permitiria que a oposição usasse o assunto para levantar suspeitas de perseguições que se pensava serem coisas de tempos sombrios.
A última surpresa é mais uma suspeição levantada pelos vereadores da oposição, a de alegado nepotismo. Estando em causa a nomeação de uma familiar directa de um vereador para um cargo de chefia que estaria sob a alçada desse mesmo vereador. Talvez não fosse mau colocar no ambiente de trabalho do computador a velha máxima da política romana de que não basta ser sério, também é preciso parecê-lo.