domingo, janeiro 30, 2022

Alto Minho, artigo de 26-01-2022


As pessoas para além das políticas

Alguns leitores mais atentos destas linhas estranharam ter terminado a última crónica enaltecendo a forma como o cabeça de lista do Livre pelo nosso círculo eleitoral terminou o debate entre os cabeças de lista, declamando um poema. Não estranhem, não tenho qualquer problema em enaltecer atitudes de políticos com os quais não concordo politicamente. A política faz parte da nossa vida, mas não é a nossa vida, ou, pelo menos, não deveria ser. Gosto de olhar para as pessoas para além das políticas que defendem.  


Memórias


Alguém partilhou uma fotografia antiga que retrata um viaduto construído para a linha de comboios do Vale do Lima. A popularmente conhecida por “ponte seca” existiu durante todo o século XX, na freguesia limiana de Arcozelo. Era conhecida quase como um monumento àquilo que esteve para ser e nunca foi. A linha do Vale do Lima, apesar de praticamente construída, pelo menos de Viana do Castelo a Ponte de Lima, perdeu-se nas vicissitudes dos interesses mesquinhos da política local da altura. 

A “ponte seca” foi desmontada no final do século XX, tendo sido construído um imóvel no seu espaço. Do viaduto propriamente dito já não existe nada, apenas uma linha, sem carris, que termina numa ponte, essa ainda existente e que até deveria ser preservada para memória futura. Nem que seja para lembrar que a política, embora não seja “a” nossa vida, faz parte e influencia a vida de todos.


Por falar na “ponte seca”


Agora que nos aproximamos das eleições, com a evocação da “ponte seca” lembrei-me de como durante anos se pôde ler nela o apelo ao voto na APU (Aliança Povo unido). Ainda se lembra dessa “coligação” que tinha como símbolos umas argolas? A mim, o símbolo faxinava-me porque me remetia para uma marca de carros alemã. Em plena infância, questionava-me sobre o porquê do apelo ao voto, fosse isso o que fosse, numa marca de carros… Os tempos mudam e, entretanto, o PCP percebeu que era tempo de deixar para trás uma sigla, que até dava margem para brincadeiras, evoluindo para a CDU. Tudo se transforma, a coligação, a “ponte”, ficaram apenas em imagens e nas memórias.


Eleições


Não poderia deixar de escrever, neste artigo antes das eleições, uns apontamentos sobre esta campanha. Notou-se o esforço do CDS e da CDU, que, apesar de todos os indicadores, não baixaram os braços. Apesar disso, a votação, muito provavelmente, ditará a divisão dos 6 deputados eleitos pelo nosso círculo eleitoral entre o PSD e o PS. 

Quem acompanhou a campanha reconhecerá que, pelo menos publicamente, o PSD, talvez “embalado” pela onda de mudança, apostou numa campanha de proximidade e comunicação. Deslocou-se a vários pontos do território alto-minhoto onde apresentou várias propostas, várias por semana. Esta foi a estratégia social-democrata para tentar “ganhar” mais um deputado. Já o PS, talvez pelas saudades que o seu cabeça de lista afirma sentir da sua profissão de investigador cientifico, foi fazendo os serviços mínimos, sem mobilização, ouvindo-se muitos socialistas a descreve-la como uma “campanha amorfa”. A ver vamos, com a verdadeira prova dos nove no próximo domingo, quem irá recolher mais “frutos”.