Terramoto no cento direita tradicional
O CDS, sem representação parlamentar, sem acesso aos fundos públicos, com muita dificuldade conseguirá manter-se “vivo”. A representação autárquica poderá ser a sua “cidadela”, mas falta saber se estarão os autarcas, como o de Ponte de Lima, dispostos a passar pelo risco de serem o porta-estandarte de um partido que a qualquer momento poderá desaparecer. E no PSD? Bem, a situação no PSD é, ainda, diferente, mas não tão diferente quanto isso.
Um exemplo
Sempre se disse que o Partido Social Democrata era o partido mais português de Portugal, não que fosse superior aos outros, mas porque dele faziam parte militantes que representavam todas as partes da sociedade portuguesa.
Nas reuniões do PSD, poderíamos encontrar e ouvir médicos, carteiros, funcionários públicos, professores, operários, pequenos comerciantes, empresários, advogados, pintores, funcionários do comercio… As reuniões eram pontos de encontro de onde saiam as bases do que o partido defendia para a sociedade, para a comunidade, fosse ela de uma freguesia, concelho, região ou do país.
Quando iam a uma reunião os seus militantes podiam ouvir pessoas que eram membros das assembleias de freguesia ou municipais, vereadores, presidentes de câmara ou deputados, que eram, também, reconhecidos profissionalmente e socialmente, pessoas que não tinham como objectivo último “serem”, mas “estarem” naqueles lugares.
Para quem não percebe a diferença, eu passo a explicar de forma simples e direta. Muitos têm como único objectivo político “serem” presidentes da junta, vereadores, deputados pelo estatuto que acreditam que esses cargos lhes trazem, mas outros, infelizmente, cada vez menos, querem estar como presidentes da junta, vereadores, deputados, porque, ao “estarem” nesses cargos, conseguem pôr em pratica a visão do que pretendem para a sua comunidade.
Hoje, as reuniões partidárias estão cada vez mais vazias de pessoas e ideias, não atraem os militantes porque ser moldura de “vaidades”, perder tempo sem que nada se discuta em prol da comunidade, onde o tempo é passado em vacuidades de “guerras” de egos não é, digamos, atraente.
Longe vão os tempos de pessoas como Francisco Amaral, Roleira Marinho, Alberto Martins (Bertinho), António Oliveira Amaral, João Esteves, Francisco Torres, Américo Sequeira, António Sousa Lopes (Toneca), Germano Cantinho, José Matos Melo, Hilário Marques, Manuel Nuno Pereira, Carlos Alberto da Ponte, António Cabral Oliveira e tantos outros, como os “tigres de Ponte de Lima”, que não refiro por me estarem muito perto ou ainda com alguma atividade política ativa. Pessoas que foram/são referências, vindos de experiências profissionais, académicas e sociais diferentes, mas que se uniam na discussão de ideias para a sua comunidade. Estes, alguns deles, infelizmente, já falecidos, deveriam ser exemplo para os mais novos. Infelizmente, muitos nem sabem quem eles foram, quanto mais perceberem a sua forma de estar na política para que lhes sirvam de exemplo.
Um dos principais problemas do PSD é ter-se tornado num partido que se perdeu na teia dos poderes internos (locais e nacionais), no caciquismo, que afastou a verdadeira militância. Os órgãos internos deveriam servir para muito mais para além de sustentáculo de vaidades. Agora é replicar esta situação pelo país. Sim, é preciso meditar e pensar bem qual o caminho a seguir, é preciso voltar às origens para que se possa voltar a considerar o PSD o partido mais português de Portugal.