Babilonia limiana
Não sei se o leitor teve oportunidade de passar pela vila de Ponte de Lima na passada semana. Caso não tenha tido a oportunidade de lá ir, digo-lhe que perdeu uma oportunidade única. Única, porque num espaço de 5 metros, na ponte velha, poderia ter “viajado” entre a Australia, a Africa do Sul, a Alemanha ou o Reino Unido. Nos cinco metros seguintes, entre o Japão, a Espanha e a Italia e por aí fora.
Ponte de Lima recebeu o Campeonato do Mundo de Maratonas de Canoagem e este grande evento conduziu até terras limianas pessoas/atletas de todo o mundo que ocuparam as unidades hoteleiras e restaurantes e trouxeram fisionomias e línguas diferentes à vila.
Para além disso tudo, esta competição permitiu, ainda, várias medalhas e oportunidade de competição para vários atletas portugueses, com destaque para os limianos que, mesmo quando não alcançaram medalhas, competiram e ficaram entre os melhores do mundo, o que é de realçar e louvar.
Óptimo ambiente, saudável e de festa no apoio a cada uma das selecções, boa organização. Só é de lamentar que os canais generalistas portugueses não tenham dado o destaque que o evento e os atletas, merecia/m.
Final de Setembro
O final de setembro é tempo de vindimas. Os aromas das adegas espalham-se pelo ar. Os tratores invadem os acessos à vila de Ponte de Lima em direcção à Adega Cooperativa limiana.
Este tempo faz-me lembrar o meu avô Arlindo. Nesta altura vivia-se numa azáfama de homens e alfaias. A coordenação necessária entre as várias equipas que se espalhavam entre o Barral, o Rego do Azal e o Quintalzinho. Juntavam-se vários grupos de homens e mulheres que se deslocavam em bicicleta para as várias quintas onde iriam colher as uvas. Lembro-me dos homens com as camisas de flanela, que deixavam ver as velhas tesouras de poda, que serviam para a vindima, guardadas nos bolsos das calças, e da sua mestria com a bicicleta, os baldes e os cavaletes.
As mulheres da casa organizavam os lanches e o almoço, este último servido em mesas e bancos corridos, momento de festa e galhofa. Era realmente uma jornada de trabalho enorme e exigente, mas sempre feito com alegria e satisfação. Uma altura também de colaboração entre amigos que apareciam para ajudar.
Lembro-me da adega no Quintalzinho, das suas dornas e pipos enormes. Do seu grande lagar em granito, que sempre achei que daria uma interessante piscina. O esmagar dos cachos das uvas, no final do dia, o cheiro, sempre presente, do fruto do trabalho, das uvas no inicio de fermentação, depois de serem esmagadas.
Alguns anos depois, também eu conduzi o trator para a Adega Cooperativa. A fila era imensa, bem para lá do Campo do Cruzeiro, dos Limianos. Lembro-me das conversas dos mais velhos, da diversão e das frias noites de Setembro, da troca de pão e de enchidos. Que boa era a sensação de missão cumprida, quando mediam o grau e logo a seguir descarregávamos. Era o fruto do esforço e do trabalho de um ano que culminava ali.
Sim, quando a vila mais antiga que Portugal é invadida nestes dias pelo cheiro da adega, é nisto que penso, são essas pessoas que fizeram esses tempo que recordo, é esta a viagem, que agora partilho com o leitor, que faço.