domingo, janeiro 29, 2023

Alto Minho, artigo de 25-01-2023

 

A imagem é da capa do nº 1 do jornal "A Paródia", de Bordalo Pinheiro, publicado a 17 de Janeiro de 1900. Retirada da página do Museu Bordalo Pinheiro

A porca

No fim da especialidade, no meu percurso castrense, tive com os meus camaradas um género de semana de campo semelhante à que havíamos tido na recruta. Um dos exercícios que tivemos que fazer foi o de progressão no terreno, para isso tivemos de nos camuflar com o que havia no terreno, que era de areia, num longo pinhal junto ao mar. Era difícil produzir lama para usar, porém um dos camaradas resolveu isso aparecendo com a cara bem camuflada. Rapidamente percebemos que o “truque” usado tinha um cheiro nauseabundo. A sua camuflagem provinha de um espaço usado como pocilga. De facto estava camuflado, mas o cheiro que dele saía era perceptível a vários metros de distancia, o que não parecia incomodar o mancebo. Provavelmente sofria de perda total do olfato.

Bordalo Pinheiro, no início do século XX, representava, no jornal “A paródia”, a política como uma “grande porca” a dar de mamar a vários leitõezinhos. Infelizmente, com a quantidade de casos que diariamente os jornais nos dão a conhecer, parece que não evoluímos muito desde o início do século passado.

Muitos entram na política como o meu camarada, borram-se todos pensando que estão camuflados, esquecendo de que, mais cedo ou mais tarde, os outros lhe sentirão o cheiro. Parece que aprendem desde muito novos que para singrar nesse meio não interessam ideias, não interessa assumir o serviço à comunidade, o que interessa é servir o cacique, o que interessa é estar no “lado certo” nas disputas internas, mesmo que isso signifique trair a própria consciência. É assim que acham que asseguram a sua “teta” na “grande porca” do Bordalo. 


A esperança da mudança


O PSD de Viana do Castelo mudou. Novos protagonistas assumiram a maior concelhia do distrito. Maior por representar o maior número de eleitores sociais-democratas no distrito. A importância desta concelhia está representada nos números, os eleitores do concelho de Viana do Castelo em conjunto com os de Ponte de Lima elegem a quase totalidade dos deputados sociais-democratas alto-minhotos presentes na Assembleia da Republica. 

Há quem diga que o maior desafio desta nova estrutura será o de preparar uma alternativa vencedora ao poder socialista na Câmara Municipal da capital do distrito. É verdade, mas os desafios não se ficam por aí. A nova concelhia terá de promover novas formas de intervenção política que sejam capazes de abrir e mobilizar o partido.

Tem, também, a responsabilidade de liderar uma restruturação do partido a nível distrital. Nas últimas eleições legislativas, no distrito alto-minhoto, o partido só manteve o concelho limiano na esfera social-democrata. O desfasamento entre a influência interna com a dos eleitores é cada vez maior, o que torna o partido cada vez mais periférico. Isso tem consequências eleitorais. É necessário recentrar, dar voz a todos no distrito e não apenas a alguns e, sim, a maior concelhia deverá ser capaz de criar sinergias internas que alinhem a realidade interna com a externa.