domingo, março 26, 2023

Alto Minho, artigo de 22-03-2023

Poder

Em democracia os eleitos exercem o poder que não é deles, mas do povo. Recebem deste a responsabilidade de, em seu nome, decidirem os destinos da comunidade. Por vezes, alguns políticos confundem o mandato que lhes é dado com poder discricionário.

Vejam os eleitos por maioria absoluta. Será que essa votação é dada para que não tenham de prestar contas nem ouvir ninguém? Não, não é. A maioria absoluta serve para uma expectável maior estabilidade na governação, tal não significa, porem, o “extermínio”, com ou sem aspas, da oposição. Por alguma razão, a oposição está lá, no mínimo servirá de coro ao género dos textos clássicos. A oposição não pode, definitivamente, ser relegada a um papel decorativo. Sendo activa, servirá para alertar e, por vezes, até, reorientar a acção da maioria. Com trabalho e dedicação, com franqueza e lealdade na acção poderá trazer propostas muito válidas que poderão e deverão ser aprovadas e aproveitadas pela maioria. 

Como disse João Abreu Lima, antigo presidente da Câmara de Ponte de Lima, numa entrevista a este jornal em 1995, “para mim, as boas ideias não têm cor política”. Saibam os que foram escolhidos por maioria absoluta que ao acolherem as boas ideias das oposições não demonstram fraqueza, demonstram grandiosidade e mais, respeito pela democracia. 


Memória


O município de Ponte de Lima promoveu, no passado dia 17, a apresentação do livro, coordenado por João Gomes de Abreu Lima, “História Militar de Ponte de Lima (Roteiro do Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima)”. Essa apresentação  teve lugar momentos antes da conferencia sobre “As Invasões Francesas na Guerra Peninsular” proferida pelo Coronel José Henriques. Foi um momento memorável. 

O livro, com uma notável ilustração, é obrigatório para quem quer saber mais sobre a história militar da nossa terra e pode ser encontrado no Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima. Já o Coronel José Henriques cativou a audiência pela forma apaixonada como expôs e descreveu a bravura do povo português na Guerra Peninsular. 

Não sei se o leitor sabe, mas poderá verificar as consequências da passagem dos exércitos napoleónicos, pela nossa terra, apenas à distancia de um clique. Se aceder aos livros paroquiais, por exemplo, da freguesia de Arcozelo, e selecionar o livro de óbitos de 1797 a 1851, disponível em livre acesso, no Arquivo Distrital de Viana do Castelo, em https://digitarq.advct.arquivos.pt/details?id=1103162, encontrará nos assentos a descrição da violência que assolou aquela freguesia. São várias as páginas que remetem para o inicio do mês de Abril de 1809, “morto em sua casa pelos franceses”, “cadáver lançado ao rio Lima pelos soldados franceses”, “morto pelos franceses e enterrado no quintal de sua casa”… 

Em boa hora o município limiano resgatou esta memória coletiva, trazendo-a não só à comunidade em geral, através do referido livro, mas também à comunidade escolar. É preciso que as novas gerações percebam os sacrifícios que as gerações que os antecederam (neste caso as dos tetravós ou pentavós) fizeram.