domingo, maio 21, 2023

Alto Minho, artigo de 17-05-2023


Não é de agora

“Uma crónica semanal de assuntos locais, em nossa vila, é arrojar a muito e um quase impossível. Sai-se de casa em cala de notícias, caminha-se ora para um lado ora para o outro, e chaga-se finalmente ao largo de Camões, e… nada de novo”.

O texto anterior foi publicado em Novembro de 1891, no jornal A Voz do Lima, mas poderia ter sido escrito hoje. Continua, o texto, com uma descrição de um passeio pela ponte e  ainda uma conversa entre britânicos. Sim, no final do século XIX já havia quem nos visitasse e gostasse do que encontrava por cá.


Linhas vermelhas


Há uma inegável atractividade pelo nosso centro histórico. Todos os fins de semana, as ruas, as pontes, as esplanadas são “tomadas” pelos visitantes. Embora seja de louvar e de aproveitar esta preferência, é preciso marcar algumas linhas vermelhas. O nosso património merece ser tratado com respeito e parcimónia. Por exemplo, a nossa icónica ponte não pode continuar a ser engolida pelo aparcamento feito no areal.

É urgente criar uma zona de proteção que permita, para além de a preservar, “limpar” a sua envolvência, criando um distanciamento que possibilite admirar no seu esplendor.

Ainda no passado domingo, para além dos automóveis, uns autocarros, à revelia das placas que se encontram nos acessos, estacionaram bem junto à ponte medieval. Não é essa a imagem que deveria ser “levada” nos telemóveis dos visitantes que todos os fins de semana capturam milhares de fotografias do nosso maior monumento.  


Peregrinações


No passado número deste jornal foram várias as folhas dedicadas ao Rali de Portugal. A nossa região tem uma grande tradição deste desporto. Os anos 70, 80 e 90 criaram em muitos uma vontade inexplicável de se deslocarem para as matas, junto a florestais, para assistirem à passagem dos melhores do mundo. Uma vez mais, não passa por cá o cheiro, o burburinho, a movimentação associada a uma modalidade desportiva que envolve milhares de intervenientes diretos, não são só os pilotos que fazem as equipas, mas também os adeptos que transformam alguns vales em autênticos estádios. 

Lembro-me como, ainda nos meus tempos da Secundária, nos dias em que passavam os carros nas florestais de Ponte de Lima, as salas de aulas ficavam mais vazias que cheias. Nesses dias, o trânsito condicionava os principais acessos e as extensas filas duravam horas. Ainda  são incontáveis os grupos de amigos que desde a adolescência peregrinam juntos, seja para onde for, para estarem presentes nos melhores locais de espetáculo. É um género de peregrinação que nem mesmo os adeptos sabem explicar.


Já agora


Pelo que se sabe, aparentemente, a prova portuguesa do mundial de ralis abandonou a nossa região depois da câmara de Viana do Castelo deixar o “consórcio” que a unia à câmara de Ponte de Lima e à de Caminha no apoio à passagem nas nossas florestais. 

Será que os nossos representantes autárquicos não podem voltar a reunir, fazer novamente contas, para perceber se devem apoiar o retorno de um evento mundial, transmitido para os quatro cantos do globo, ao Alto Minho?