O fim de uma era
Perde-se no fundo da minha memória as vezes que, vindo da Escola Secundária de Ponte de Lima, descia pela Lapa até à avenida António Feijó, virava à direita, bebia da água da fonte da vila e entrava no Gerinho para comer um lenço. Há quem prefira as bolas de Berlim, alguns dizem que bem melhores que as conhecidas e afamadas do vizinho concelho de Viana do Castelo, eu mantinha-me fiel aos lenços, gosto que partilhava com a minha companhia.
Recentemente a pastelaria Vilar, outro espaço emblemático que também adoçava o palato de Ponte de Lima, fechou portas. Recentemente soubemos que a pastelaria Bijou, também conhecida pelo nome do antigo dono, o já referido “Gerinho”, vai encerrar as suas portas.
São várias as casas comerciais históricas que, nos últimos anos fecharam. Fruto dos tempos modernos, do falecimento dos seus donos, de tantos motivos… A verdade é que, como comércios históricos, entraram nas nossas casas durante anos, acompanharam gerações das famílias limianas e, por isso, a nós, que nos “calha” ver o seu encerramento, é inevitável que deixe um vazio. Neste caso, não podemos deixar de pensar nos já referidos lenços ou nos bolos de anos que vemos nas fotografias analógicas que encontramos amareladas em alguns álbuns que por vezes visitamos.
Os centros históricos pelos tempos
Com a desertificação dos centros históricos não é só o património edificado que se vai alterando, por vezes degradando-se, mas toda a história social que desaparece da memória colectiva. Na passada semana, tive a sorte de participar no II Seminário de Património Cultural - “Olhar o passado, pensar o presente e perspectivar o futuro” na Universidade do Minho. Uma das intervenções foi a de Antero Ferreira, o diretor da Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património deu o exemplo de Guimarães, mostrando como, através do cruzamento de vários dados recolhidos em diferentes fontes, de livros paroquiais a Róis de confessados, e novas tecnologias, é possível reconstituir não só a parte edificada, entretanto desaparecida, mas também a história da ocupação humana com “rostos”. Isto com a simplicidade de quem consulta um qualquer programa ou site de geomapeamento.
Este é um projecto com uma base de acção assente essencialmente em voluntários, mas que deveria ser conhecido e acarinhado pelo poder autárquico, ainda mais por aqueles que gerem centros históricos de referência.
Novamente
Bem sei que escrevo várias vezes sobre este assunto, mas não posso deixar de realçar a importância do investimento nos transportes públicos, na nossa região, que verdadeiramente tragam uma alternativa de mobilidade aos alto-minhotos. Já se vão ouvindo vozes vindas da sociedade civil a reivindicar investimentos nesta área. Mas, caro leitor, não acha estranho que os partidos do chamado arco governativo, os seus responsáveis locais mantenham praticamente um silêncio ensurdecedor sobre a temática? É tempo de unir, ultrapassar momentâneos interesses partidários, e reivindicar para a nossa região o que outros já têm, a capacidade de ter uma alternativa viável de transporte não só dentro do distrito mas para as viagens pendulares que milhares de alto minhotos fazem para os distritos de Braga ou Porto.