domingo, janeiro 07, 2024

Alto Minho, artigo de 04-01-2024


Finitude

Escrevo estas linhas no passado, no final do ano de 2023 para os leitores lerem já em 2024. Os finais de ano são sempre momentos para pensar e fazer um balanço. Pensamos nos que partem e deixam vazio o seu lugar físico, nos projetos que tínhamos, mas que vão ficando numa gaveta cada vez mais funda, nos propósitos que fizemos, mas que não passaram de intenções.

Este é, também, um tempo em que nos damos conta de como a vida vai avançando e de que aquilo que achávamos imutável, afinal, se vai moldando, vai escorregando para novas situações que nos desafiam. O segredo é sermos capazes de estar à altura desses novos desafios, de nos adaptar às novas realidades, de seguir em frente. 


Novas realidades


As eleições do próximo mês de Março vão trazer novas realidades e novos protagonistas. Não sei se os nossos representantes na Assembleia da República vão mudar, não sei se os partidos que neste momento têm o monopólio da representação do Alto Minho, o PSD e o PS, vão alterar os cabeças de lista candidatos a deputados ou se outro partido conseguirá eleger um deputado pelo nosso círculo eleitoral. De uma coisa tenho a certeza, se se perguntar ao comum dos alto-minhotos, a verdade é que quase nenhum conhece os seus atuais “representantes” e assim vai continuar. 

Vão-se lendo notícias das reuniões da praxe, que dizem servir para a escolha de perfis de candidatos, reuniões ditas alargadas e muito participadas, quando todos, pelo menos os que “andam” pela política partidária, sabem que a escolha dos candidatos é feita pelos líderes das estruturas, muitas vezes pelos de Lisboa, regendo-se por critérios de afirmação e interesses internos dos partidos.

Novas Realidades? Anos a falar de círculos uninominais, de círculos nacionais de compensação, no entanto a realidade, essa, continua a ser a mesma. Deputados escolhidos pelas nomenclaturas dos partidos, com pouca ou nenhuma ligação aos eleitores. A verdade é que os eleitores também não têm, nem estão para aí virados, ligação aos seus “representantes” até porque, quando votam, não é a pensar neles, mas, sim, num desejável primeiro ministro. 

Entretanto a campanha eleitoral irá açambarcar o espaço público, e, qual primavera onde os bichinhos voltam a surgir nos jardins, eis que os políticos redescobrirão o cidadão, descendo ao espaço onde este vive. Com canetas, sacos, papelinhos e barulho de altifalantes, “acenam” cheios de promessas de proximidade e representação. A verdade é que a generalidade dos políticos vive numa redoma, fala entre eles e para eles, cria polémicas, intrigas e discussões que nada dizem à vida real das pessoas. Finalizada a campanha eleitoral, tudo voltará ao velho remanso dos deputados, que, afinal, “representam todo o País, e não os círculos por que são eleitos” (ver crónica de 11-10-2023).      


Pormenores


Por vezes é nas mais pequenas coisas que encontramos a maior das satisfações. O privilégio de almoçar com a família alargada, na casa que foi dos nossos avós, percorrer a pé os velhos caminhos ladeados por antigos carvalhos e castanheiros na companhia dos nossos filhos e dos filhos dos nossos primos. Contar as estórias que ouvimos da nossa avó sobre uma casa em ruínas e conseguir prender a curiosidade e alimentar a sua imaginação. Sentir a sua satisfação por verem e calcorrearem os mesmos sítios que os seus antepassados.