domingo, janeiro 21, 2024

Alto Minho, artigo de 18-01-2024

Mobilidade da periferia 

Na passada semana a CDU de Viana do Castelo acusou as autarquias e a comunidade intermunicipal do Alto Minho de “propaganda e declarações bonitas sobre a descarbonização e a defesa do ambiente, mas não promove o uso do transporte público, abandona os utentes e não se preocupa com a mobilidade das populações”. Esta  acusação surgiu depois das viagens entre Viana do Castelo e o Porto terem, este ano, aumentado para o dobro do seu valor. Correndo contra o tempo, agora que os utentes sofreram o expectável brutal aumento devido à extinção da carreira normal que ligava Viana do Castelo ao Porto, o presidente da Câmara de Viana do Castelo anunciou que a CIM Alto Minho vai estudar com a CIM do Cávado e a área Metropolitana do Porto a criação de um único bilhete rodoviário entre as referidas cidades. 

Provavelmente estariam distraídos ou então a maioria dos nossos políticos alto-minhotos não sabe o que é ter que madrugar para fazer, todos os dias, o movimento pendular entre o Alto Minho e o Porto por motivos profissionais, escolares ou de saúde. É que desde Novembro de 2023 se sabia o que ia ocorrer.... 


A crise dos média


Não nos passa ao lado o que está a acontecer em meios de comunicação nacional de referência como o Jornal de Notícias (JN) ou TSF. Com esta última tive apenas contacto directo quando me ligaram, enquanto líder local de um partido, querendo, por força, que tornasse público qual dos candidatos a líder nacional desse partido apoiava (o que, já agora, não fiz). Fui ouvinte dos programas de debate político da TSF durante anos, muito antes de estes existirem “ad nauseam” nas televisões de notícias por cabo. São inesquecíveis os programas temáticos de Verão e, claro, as crónicas do Fernando Alves. 

Já o Jornal de Notícias, tem, para mim, outra mística. O Jornal de Notícias, que viu o seu imponente edifício sede ser vendido, em 2019, segundo a revista Sábado, por nove milhões e 500 mil euros, está presente em todos os cafés e restaurantes da cidade do Porto e da região norte. A sua capacidade de nos informar, todos os dias, desde a notícia mais bairrista até ao que se passa no mundo com a “nossa” perspetiva, foi sempre diferenciadora dos restantes médias impressos nacionais. Foi escola para tantos e tantos jornalistas, também eles de referência. Mas o JN, para além de noticiar a comunidade, faz parte dela. Teve correspondentes e sedes nas principais cidades da região, é nas páginas do JN que passa o desporto do Norte, das modalidades aos clubes de futebol “da terra”, o incontornável apoio ao ciclismo, todos nos lembramos dos Grandes Prémios de Ciclismo do JN. É por isto tudo uma marca querida e acarinhada pelo mercado.

Mas eis que agora o JN é notícia pelo desespero dos seus profissionais que se veem obrigados a recorrer à greve para tentar fazer valer os seus direitos. Todos os dias saem notícias de despedimentos ou de falta de pagamento de ordenados. Pelo que se vai percebendo, a crise nem está no jornal em si, mas com tudo o que tem ou teve que carregar ao longo destes anos de “grupo de média”. 

Durante anos estudei e trabalhei no Porto, por lá assisti ao vazio causado pelo desaparecimento do Comércio do Porto e ao declínio do Primeiro de Janeiro. É por isso que o aparecimento de interessados em apresentar soluções para o JN é de louvar, ainda para mais quando uma delas é liderada por um empresário de Ponte de Lima. Espera-se que uma das maiores referências do jornalismo em Portugal não venha a desaparecer ou a perder a sua essência diferenciadora.