domingo, fevereiro 04, 2024

Alto Minho, artigo de 01-02-2024

Trânsfuga

Uma das definições que o “Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa”, da Porto Editora, apresenta para trânsfuga é “pessoa que abandona o seu partido”. Neste momento não tenho conhecimento se Eduardo Teixeira abandonou, formalmente, o PSD, o seu partido de “há mais de 30 anos”. O anúncio do presidente do CHEGA de que o vianense seria o cabeça da lista deste partido pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo não deixa dúvidas, formalmente ou não, o PSD faz parte do passado para Teixeira, e, de acordo com o ponto 4 do artº 9 dos Estatutos do PSD, a sua inscrição no partido cessada.

Desde os tempos da JSD que Eduardo Teixeira é conhecido pela sua persistência, por não saber parar ou recuar. Reparem que não escrevi “desistir”, mas “parar” ou “recuar”. É que, por vezes, é preciso parar ou mesmo recuar, nem que seja para “lamber as feridas” de um qualquer revés, para voltar com mais ânimo e, porque não, ímpeto. 

No PSD, muitos vêem-no como alguém que não olha a meios para atingir os objetivos políticos a que se propõe. Foi conseguindo impor-se internamente no PSD Alto Minho e, durante mais de uma década, tornou-se uma figura incontornável na política regional. 

A sua primeira eleição como deputado, em 2011, trouxe-lhe uma visibilidade política e social que até então só tinha conseguido no concelho de Viana do Castelo e no seio da estrutura social-democrata. O deputado Eduardo Teixeira passou a ser conhecido desde a freguesia de Castelo de Neiva à de Cevide. A forma como exerceu o mandato de deputado foi diferente do que se estava habituado, a tónica foi a da proximidade e da atenção. Do mais anónimo cidadão, à instituição sediada no local mais recôndito do distrito, todos os que queriam tinham a atenção do deputado. Assim foi durante o mandato de 2011 a 2015. 

As sempre presentes “guerras” internas, escolhas erradas, que não fazem prisioneiros nem deixam espaços vazios, afastaram Eduardo Teixeira da lista de deputados de 2015. Mas nem isso o fez parar ou recuar. Continuou activo nos órgãos internos e na política autárquica no concelho de Viana do Castelo, onde marcou, nem sempre pelas melhores razões, a agenda mediática. A 6 de Outubro de 2019, voltou a ser eleito à Assembleia da República, mas o ímpeto do primeiro mandato já se tinha esvaecido e, azar dos azares, o mandato não chegou ao fim. Novas eleições em 2022, mas, apesar dos apoios que ainda tinha, foi incapaz de afastar os anticorpos que ganhou nas guerras internas, que muitas das vezes provocou, e foi, novamente, afastado da lista de deputados.

Aparentemente, a negociação durou meses, mas só há duas ou três semanas se tornou pública a possibilidade de Eduardo Teixeira liderar a lista do CHEGA. O impacto foi grande, da incredulidade inicial, à possibilidade real, foram surgindo posições públicas de antigos companheiros e estruturas sociais-democratas surpreendidas pela possibilidade de trânsfuga. Teixeira manteve publicamente o silêncio, forçando a estrutura do PSD vianense à posição extrema de lhe retirar a confiança política enquanto vereador. Uma retirada de confiança à qual reagiu com violência, acusando a concelhia “de coartar a liberdade dos cidadãos, garantindo que aquele órgão não pode retirar a confiança política aos militantes”. Poucas horas depois, André Ventura anunciava-o como cabeça de lista do CHEGA.

Lembra-se, caro leitor, como Camilo Castelo Branco termina o romance “A queda de um anjo”? É com a seguinte frase “Fica sendo, portanto, esta coisa uma novela que não há de levar ao céu número de almas mais vantajoso que a novela do ano passado”.