domingo, outubro 20, 2024

Alto Minho, artigo de 17-10-2024

“Quem vota contra, quem se abstêm...”

Há quem diga que é preciso assistir a uma reunião de uma Assembleia de Freguesia para se encontrar um órgão político onde se pratica a verdadeira, mais próxima e transparente democracia representativa. Não concordo e penso ser mesmo uma falácia.

Sim, existem muitos bons exemplos, mas não são exclusivos dessas assembleias, também algumas Assembleias Municipais, por exemplo, o são. Estando mais próximas da população, quantas das Assembleias de Freguesia disponibilizam, por exemplo, a transmissão das suas sessões ou a gravação das mesmas, exemplos básicos da transparência política? Quantas assembleias de freguesia tem mais que dois ou três fregueses nas suas sessões? Não é uma questão de proximidade, mas de vontade dos eleitos em disponibilizar todos os meios para envolver os eleitores. Infelizmente, a realidade nem sempre é essa.


Não é um epíteto 


O primeiro ministro, Luís Montenegro, afirmou numa entrevista que se assume como político, não como tecnocrata, mas como político de corpo inteiro. Que gosta de decidir, ouvindo os técnicos e estudando, mas comprometido com as pessoas. 

Na nossa vida, todos somos políticos, as decisões que tomamos em relação aos assuntos  mais “corriqueiros” da nossa vida são expressões com reflexo político. Alguns dos eleitos para órgãos de gestão/representação política, alguns com atividade de anos na política, digamos, activa, têm vergonha de assumir aquilo que são. Políticos! Infelizmente, chegamos a um tempo em que apresentar-se como político parece ser o mesmo que a apresentação de cadastro. 

São cada vez mais aqueles que se amarram a chavões do tipo “são todos iguais”, no entanto, não mexem um palha, não dão um segundo da sua vida para que algo se altere. A política é uma acção nobre, ser político é ser consciente e participativo na comunidade. Existem maus exemplos? Sim, existem! Mas isso não deixa de ser o reflexo da sociedade. Quanto mais “diabolizarmos” a atividade na política activa, mais espaço fica para os que não honram esse papel.


Polémicas leva-as o vento


Por causa da construção de uma central de betuminoso, entre 2016 e 2017, a população da freguesia e vila de Arcozelo promoveu protestos, realizou concentrações e manifestações com centenas de pessoas, encetou queixas no Ministério Público, conseguiu, até, que o projeto fosse embargado. 

Entretanto, apesar da mobilização popular, dos embargos e polémicas o projeto tornou-se uma realidade e os eleitos que o “apadrinharam” nem penalizados foram nas eleições seguintes, bem pelo contrário. Já gritava Pinheiro de Azevedo, em 9 de Novembro de 1975, no Terreiro do Paço, em Lisboa, “Não há perigo. O povo é sereno, ouçam. É apenas fumaça.”.


Vila de Arcozelo


Já que referi a vila de Arcozelo, sabiam que se completam este ano, no dia 9 de Dezembro, 20 anos desde a aprovação do decreto nº 222/IX de 2004, que elevou a freguesia de Arcozelo à categoria de vila? Não sabiam? Aparentemente, os responsáveis autárquicos da vila de Arcozelo também não devem saber ou preferem ignorar. Este deveria ter sido um ano de manifestações culturais/sociais/desportivas para comemorar essa efeméride. Deveria ter sido criada uma comissão para promover as festividades, que deveriam contemplar uma homenagem aos principais promotores. 

Bem sei que o estatuto de vila, per se, não acarreta qualquer vantagem, mas, quando não sabemos, não queremos ou não temos habilidade para aproveitar as oportunidades para promover o que somos, o resultado é precisamente o que temos. Nada.