domingo, agosto 03, 2025

Alto Minho, artigo de 31-07-2025

Pragmático

A Iniciativa Liberal apresentou, como líder da lista à Câmara Municipal de Ponte de Lima, João Fernando Lima. Nas primeiras declarações à comunicação social, foi realista nos objetivos, os liberais limianos pretendem “entrar” na Assembleia Municipal para “levar as ideias liberais à Assembleia”. Esse objectivo poderá ser realizável, seria, até, importante para a democracia local, que assim fosse. Abrir o leque de representatividade na Assembleia Municipal poderia trazer uma nova vitalidade àquele órgão. 

Atendendo ao objectivo apresentado, só não se percebeu por que é que não apresentaram o cabeça de lista da IL a esse órgão.    


Afinal


Alexandra Sofia Vieitas da Cunha vai liderar a lista do Chega à Câmara Municipal de Ponte de Lima. Para quem acompanha a política local e porque eram apontados outros nomes com maior relevância política, a escolha surpreende. Não que falte experiência política à candidata. Sofia Cunha já integrou várias listas candidatas à Assembleia da República. Em 2019 foi 3ª numa lista do Bloco de Esquerda, em 2024 ocupou o 4º lugar da lista do Chega e, em 2025, o 5º, novamente pelo Chega. 

Há quem lhe chame “incoerência”, outros, “busca de tacho”, na verdade, cada um é livre de mudar de ideias e de se aproximar de quem quiser. É a mesma liberdade que o eleitor tem de votar, ou não, em quem assim procede. 

Na sua apresentação, a candidata, propôs a criação de uma Polícia Municipal em Ponte de Lima, justificando a proposta com o “aumento de assaltos ao comércio local e a habitações”. Há, no entanto, um pequeno problema nessa proposta, a realidade. Por um lado, basta consultar as estatísticas e indicadores para perceber que não, não existe um aumento de assaltos. Para além do concelho limiano estar bem abaixo da média nacional nos crimes registados (https://estatisticas.justica.gov.pt/sites/siej/pt-pt/Paginas/Crimes_registados_autoridades_policiais.aspx), a criminalidade, com um número relativamente estável, comparativamente com há 10 ou 20 anos,  até diminuiu. Por outro lado, o concelho limiano já tem duas forças de segurança a operar no seu território, a PSP, que tem como área territorial de acção a freguesia sede de concelho, e a GNR com as restantes freguesias. Mais que criar uma Polícia Municipal, talvez fosse melhor lutar, por exemplo, pelo aumento de efetivos e meios das forças de segurança existentes.


Já por Viana do Castelo


No momento que escrevo, Eduardo Teixeira ainda não foi anunciado oficialmente como cabeça de lista pelo Chega à Câmara Municipal de Viana do Castelo. Não foi, mas, pela quantidade de vídeos, sobre o assunto, que vai partilhando nas redes sociais, não será muito difícil perceber que será o segredo mais mal guardado destas autárquicas. 

Num dos seus referidos vídeos falava em acabar com o bipartidarismo, arvorando-se como a alternativa que o irá fazer. Teixeira faz parte da vida autárquica de Viana do Castelo, pelo menos, desde 2001, sempre eleito pelo PSD. Foi membro da Assembleia Municipal, da Assembleia de Freguesia de Darque, vereador. Por duas vezes liderou a lista do PSD candidata à Câmara Municipal. Na primeira vez que o fez, nos idos de 2013, Teixeira afirmava que o "concelho de Viana do Castelo precisa de uma nova garra e de sair urgentemente do marasmo económico em que vive, sobretudo devido à inação da gestão camarária. É preciso acabar com 20 anos de gestão socialista”. Passados 12 anos, a mensagem é basicamente a mesma, apenas se percebe a nuance de substituir “socialismo” por “bipartidarismo”.

domingo, julho 27, 2025

Alto Minho, artigo de 24-07-2025

Porque não?

Há um movimento pendular diário enorme entre a freguesia de Darque e a cidade de Viana do Castelo. Sem alternativa, quem reside em Darque ou desespera na travessia da ponte em automóvel ou sujeita-se aos custos e à imposição de horários dos cada vez mais diminutos transportes públicos. É verdade que podem sempre partir à aventura e atravessar a ponte a pé, mas, com apenas um passeio onde não cruzam duas pessoas sem que alguma delas desça à via automóvel, será uma escolha arriscada.

É tempo de pensar na construção de uma ponte pedonal, ciclável, entre Darque e a zona ribeirinha da cidade. Esta decisão iria revolucionar a mobilidade urbana, tirar pressão à centenária ponte Eiffel, promover o uso de transporte alternativo como a bicicleta e, claro, melhorar, e muito, a qualidade de vida de tantos.


Mudança de mentalidades


Já tinha escrito sobre esta mudança de paradigma no concelho limiano, as mulheres, finalmente, assumem um papel de destaque nas eleições autárquicas.

Depois do movimento “Ponte de Lima Minha Terra”, eis que o Partido Comunista Português surpreende, apresentando também duas mulheres na liderança das listas aos órgãos municipais. Sandra Fernandes encabeça a lista à Câmara Municipal e Patrícia Moreira a lista à Assembleia Municipal. Se no movimento apenas a candidata à Câmara Municipal, Zita Fernandes, tem conhecida experiência política, as candidatas do PCP são sobejamente reconhecidas pela sua participação enquanto eleitas em órgãos autárquicos e em movimentos associativos/cívicos. 

No contacto que tive com elas, enquanto eleito, sempre consegui fazer pontes por forma a trazer avanços na “res publica” local. Apesar de origem ideológica bem diferente, nunca obtive delas respostas preconceituosas, ao contrário de outros seus camaradas.

Numa altura que se ultimam as listas, é bom que as mulheres tomem um lugar que, mais do que por imposição legal, é delas por direito próprio. 

 

Mudanças


Talvez quem viva no centro histórico tenha uma maior percepção das casas  que de um momento para o outro se esvaziam de vida. A casa à frente da nossa deixa de ter vida, porque a senhora de idade que aí vivia já não tem condições físicas e mentais para viver sozinha e foi encaminhada para uma instituição. A casa seguinte de um dia para o outro deixa de abrir as portadas, as flores, antes tratadas com esmero, começam a secar, é, então, que se sabe que a sua moradora foi, entretanto, internada. A solidão, associada à idade muito avançada, prolifera nos centros históricos da nossa região. 

A contradizer esta realidade aparecem as famílias de imigrantes, normalmente oriundos da América Latina, como Brasil, Colombia, Venezuela, que trazem o riso e a curiosidade das crianças, e novas vidas para as casas dos centros históricos. É um ciclo que se fecha, mas, mais importante, é outro que se abre e renova os centros das nossas vilas e cidades. 

domingo, julho 20, 2025

Alto Minho, artigo de 17-07-2025

Despedida

Soube, recentemente, que Pedro Ligeiro, histórico membro da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, eleito pelo Partido Social Democrata, vai deixar esse órgão autárquico no final deste mandato. Por sua vontade não volta a ser candidato. Não sei qual a razão para essa decisão, mas sei que é feita com coragem, significa, no entanto, uma grande perda para o concelho e para a capacidade de intervenção do partido que representou por cerca de 26 anos. 

Vivemos o mesmo tempo dentro do PSD. Exercemos cargos, candidatámo-nos internamente um contra o outro e em listas conjuntas, estivemos, internamente, quase sempre em discordância. Tivemos fortes discussões e batalhas internas, mas sei que sempre pude contar do Pedro frontalidade. Sempre o respeitei por isso, pela independência e frontalidade. Partilhamos os bancos da Assembleia Municipal, sou testemunha da sua intervenção mordaz, sem amarras, sem hesitações, preparada e séria, reflexo da sua profunda vontade de ajudar a construir um concelho melhor.


Que caminho?


Confesso que já não acompanho, como anteriormente, os trabalhos da Assembleia Municipal de Ponte de Lima. Mesmo antes de ser membro dessa Assembleia, sempre gostei de acompanhar os seus trabalhos. É por lá que se discutem os problemas do concelho. Até à primeira década deste século, acompanhar os trabalhos significava estar presente na reunião que poderiam durar muitas, mesmo muitas horas. Quando foi eleito, uma das minhas primeiras propostas, aprovado por maioria, foi que, junto à acta, disponibilizada na página do município, fosse colocado um ficheiro audio, dividido pelos pontos em discussão, que permitissem que os cidadãos ouvissem o que por lá se discutia e decidia. 

Hoje, e bem, há uma transmissão em direto das reuniões, em streaming, que pode ser consultada mais tarde. Não será por falta de alternativas de acompanhamento que não o faço. Nem é pela falta de esforço pela descentralização e abertura, do seu presidente, João Mimoso de Morais. Na verdade, depois de ter lá passado, em dois mandatos, como membro, ver agora as sessões torna-se um pouco pesaroso. Não é por qualquer sentimento de nostalgia, mas por verificar que os problemas internos que existiam se agravaram. A maioria dos membros não intervêm, não discute, não se prenuncia, reduzem a sua participação às votações. Isso, se não enfrentarem uma vontade súbita de ir à casa de banho…

Há 10 anos era impossível uma reunião, onde se discutisse o Plano e Orçamento, demorar menos que o dia inteiro de sábado, por vezes o almoço tornava-se lanche ajantarado. Hoje, em poucas horas fica tudo “discutido”. Talvez seja por isso que a atractividade para manter ou captar novos membros, que queiram realmente intervir e fazer a diferença, seja cada vez menor. 


Não!


Quem também se despediu dos cargos que ocupava foi o professor José António Silva. O professor José António, quando eu frequentei o “ciclo” já exercia cargos diretivos, foi director durante o tempo em que a minha filha frequentou a mesma escola, já com o nome do nosso poeta António Feijó, e despede-se do cargo quando o meu filho mais novo a frequenta. 

No seu discurso de despedida, realizado numa sessão que homenageou o seu trabalho, afirmou “parto como cheguei à Escola António Feijó”. Deixe-me, caro director, discordar. Quem, como o professor, dedicou tanto do seu tempo à “sua” escola não parte igual, parte com a riqueza de quem marcou a vida de gerações de limianos. Obrigado!

domingo, julho 13, 2025

Alto Minho, artigo de 10-07-2025

Sol, rio, praia e natureza

Já repararam, com certeza, que a nossa região é rica em sugestões para a prática de desportos “radicais”, como se dizia nos anos 90. Ainda que com praias de água fria e com constante vento, é atrativa para alguns desportos náuticos, sendo, inclusive, uma referência em algumas modalidades. Os rios são viveiros de campeões, seja de canoagem ou de remo, e os seus cursos e afluentes fantásticos para o canyoning. Os nossos montes e montanhas são espaços ideais para a prática de modalidades de ciclismo como o downhill ou cross country.

Todo este potencial continua a não ser totalmente aproveitado. Falta escala, falta promoção internacional. Talvez alianças entre os vários municípios do distrito (porque não através da CIM) pudessem trazer para a nossa região uma prova de um circuito mundial dessas modalidades. Nesses campeonatos, há investimento de grande escala, de marcas internacionais e estas só apostam em algo que tenha retorno, logo por tanto, trará, certamente, visibilidade mundial à nossa região. 


 Um dos problemas


Um dos problemas que os candidatos às autárquicas de 12 de Outubro irão enfrentar, independentemente do órgão a que se candidatam, é o de passarem a viver numa bolha eleitoral. A campanha eleitoral requer muita dedicação e muitas horas de esforço, e, por mais que a vida continue, na verdade, o foco desses nossos concidadãos passa a ser o de vencer ou ter o melhor resultado possível. Manter a clareza do que importa, por vezes, torna-se difícil.

Se forem abordados pelas candidaturas, não receiem em falar, não o que os candidatos querem ouvir, mas sobre os problemas diários que a vossa comunidade tem que enfrentar. Assim, estarão a contribuir para que os candidatos mantenham o foco no que realmente interessa.


Portugal não acaba nas grandes áreas metropolitanas 


Por vezes parece que, para a comunicação social nacional, os problemas do país são apenas os dos grandes centros urbanos, mas não! Há muitos problemas das zonas “periféricas” que deviam envergonha qualquer político e que deveriam ter cobertura nacional. 

Os autarcas de Monção e Melgaço contestaram os inadmissíveis acessos aos seus concelhos. Acessos dos anos 80, que, para além de limitarem a circulação das populações, afastam oportunidades que podem ajudar a fixar essa mesma população. 

A distância até ao hospital distrital de Viana do Castelo é percorrida em quase duas horas. Para fazerem 40 quilómetros, demoram quase tanto como de Viana do Castelo à cidade do Porto. Os responsáveis políticos distritais, autarcas e lideres partidários, da sociedade dita civil, devem mobilizar-se, independentemente de eleições e partidos, e reivindicar junto do governo a imperiosa construção de novas acessibilidades. Há um limite para ruralidade e isolamento territorial. 

domingo, julho 06, 2025

Alto Minho, artigo de 03-07-2025

 Verdadeira festa popular

Nunca é de mais destacar quando uma comunidade se une para manter as tradições. No passado fim de semana, pude participar numa festa diferente das outras, o São Pedro da Freiria, na Além da Ponte, vila de Arcozelo. 

Uma festa de um santo popular que se perde nas profundezas dos anos e que tem uma particularidade, normalmente as festas são dedicadas a um santo evocado numa igreja do lugar, mas na Freiria não existe nenhuma igreja evocativa de São Pedro. Há uns anos, foi colocada uma imagem do santo no largo da Freiria, mas para marcar essa vontade popular de festejar o santo, e não o contrário. 

A festa tem os costumeiros momentos musicais, os bombos, a música gravada durante o dia e os foguetes, mas tem, também, algumas características que a tornam especial. As sardinhas e o porco no espeto são servidos no largo pelas pessoas que organizam a festa. O pagamento é uma contribuição para a festa, um donativo, não há tabela de preços. O convívio, a partilha e o estar entre vizinhos são as verdadeiras atrações. As marchas, tão características de uma época, em tempos alimentadas pela saudável rivalidade entre “os da Freiria e os do Terreiro”, também marcam a festa. Os marchantes do bairro do Pinheiro, na vila de Ponte de Lima, presença assídua nas marchas de São João,  atravessam o rio e sobem do largo da Alegria (o tal Terreiro), entrando no largo da Freiria a marchar com os característicos fatos e arcos. Qualquer pessoa se pode juntar, os arcos estão espalhados pelo recinto, e são tantas a fazê-lo.  

O São Pedro da Freiria é diferente, não é uma festa “enlatada”, é uma festa feita pela comunidade, por muitos jovens, que mantêm, de certa forma, o sentimento de comunidade e, simultaneamente, dão continuidade a uma tradição, para que não se perca na voragem do tempo. 


Habitação temporária?


Desde há uns tempos, em alguns espaços rurais de Ponte de Lima, têm sido colocadas algumas casas pré-fabricadas, num género de bairros/parques de campismo. Na fronteira entre a freguesia da vila de Arcozelo e Brandara há um e agora, num terreno junto à central de betuminoso da vila de Arcozelo, está a aparecer outro. Há quem diga que é para albergar trabalhadores! Seja para o que for, espera-se que se respeitem as regras de implementação de edificação e que o município fiscalize o que por lá se passa. 


Vamos à praia?


Estes dias de calor extremo fizeram-me recordar tempos onde tudo era mais lento, tudo era vivido com maior intensidade. Hoje, rapidamente nos colocamos numa qualquer praia da nossa região, mas nem sempre assim foi.

Houve um tempo em que as férias eram intermináveis, onde muitos iam à praia em autocarros, normalmente acompanhados pelas avós. Enfrentavam as águas geladas da nossa região com pequenos lanches que não os afastassem, por horas, da espuma das ondas. O tempo de espera era ocupado entre construções na areia e a exploração das rochas e poças. A praia era apenas “usufruída” na parte da manhã, mas como o relógio parecia andar mais de vagar, era o suficiente. 

Há quanto tempo não passeia junto a uma das nossas praias? Fica a sugestão, com este calor, visite uma das nossas praias, vá de manhã e, se for mais afoito, aproveite para dar um mergulho. 

domingo, junho 29, 2025

Alto Minho, artigo de 26-06-2025

Autárquicas 


Aproxima-se o dia de entrega das listas para as eleições autárquicas. A logística é enorme, os protagonistas, entre proponentes, membros efectivos e suplentes, são tantos que a constituição de listas, entre Assembleia Municipal, Câmara Municipal e Assembleias de Freguesia, é sempre um processo difícil e complicado. 

Em Ponte de Lima, até ao momento que escrevo, duas forças políticas da oposição já fizeram a apresentação dos seus cabeças de lista à Assembleia e Câmara Municipal, o PSD e o movimento “Ponte de Lima Minha Terra”. Os sociais democratas apostam na repetição do cabeça de lista à Câmara, José Nuno Araújo, e em Filipe Amorim, até agora presidente da Junta de Rebordões de Souto, para liderar a lista à Assembleia Municipal. Já o movimento aposta em duas mulheres, a antiga presidente da Junta de Brandara e  actual vereadora, Zita Fernandes, lidera a lista candidata à Câmara Municipal e Carolina Campelo, antiga candidata à Assembleia de Freguesia da união de freguesias de Vale de Neiva, a lista à Assembleia Municipal. Não deixa de ser interessante serem duas forças políticas que lutam pelo mesmo eleitorado.


Na realidade


Quem está no poder, como o CDS em Ponte de Lima, só espera que a oposição se desmembre e que aprofunde a luta pelo eleitorado dos descontentes. O poder, por norma, consegue manter fiel o seu eleitorado, por vezes, até consegue aumentar os que lhe confiam o seu voto. 

Para além dos já referidos candidatos da oposição, a Iniciativa Liberal, tal como o PS, já anunciou que teria lista própria à Câmara Municipal, também o PCP não deixará de apresentar listas à Câmara e Assembleia Municipal, onde tem um eleito. Falta saber se o CHEGA irá apresentar uma lista para “combate” eleitoral ou apenas para marcar presença. Seja como for, Vasco Ferraz, actual presidente da câmara e mais que provável recandidato, já terá colocado como objectivo a eleição do quinto vereador. Falta saber se alguma das forças da oposição se conseguirá sobrepor às outras e lutar contra esse objectivo. 


Não sei se repararam


Recentemente foi inaugurada, em Ponte de Lima, uma estátua do nosso primeiro rei e fundador do reino de Portugal, dom Afonso Henriques. Não, não vou escrever sobre essa estátua, realizada, e ainda bem, ao modo clássico. Talvez o leitor não tenha reparado mas, recentemente, foi também colocada uma estátua de um touro de lide no largo, actualmente designado da Alegria, no bairro da Além da Ponte, vila e freguesia de Arcozelo. 

Há poucos anos, tinham “plantado” uma estátua em pedra de um touro, num dos lados desse mesmo largo. A estátua passou a ser alvo da escalada de crianças, jovens e menos jovens, que, pendurados no lombo e cornos, tiravam uma fotografia para recordação. Esta actividade levou à frequente destruição dos cornos do touro de pedra. Talvez fartos das reparações, os responsáveis retiraram, e bem, a estátua. Na verdade, ninguém percebeu o motivo para a sua colocação, nem a justificação de que a vaca das cordas, durante um período, visitava a Além da Ponte, seria motivo de maior para lá se colocar uma estátua de um touro. 

Tendo tirado a de pedra, para quê substituí-la por outra em bronze? Já existe uma no largo da igreja matriz de Ponte de Lima, para quê outra do outro lado da ponte velha? Se queriam gastar dinheiro, então fizessem uma estátua com sentido, uma , por exemplo, a homenagear Manuel Lima Bezerra, um dos Maiores limianos, nascido no bairro da Além da Ponte.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

domingo, junho 15, 2025

Alto Minho, artigo de 12-06-2025

Renovação

Quando eu era adolescente, quem passasse na ponte velha e olhava para o rio, para junto dos pilares, conseguia ver grandes peixes a passar entre eles, alguns pescadores aproveitavam para os pescar, e, durante muito tempo, esta era uma rotina corrente. Entretanto, tudo mudou. A água deixou de ser transparente, os peixes deixaram de se ver e, sem eles, os pescadores abandonaram a ponte. 

Eis que, numa destas noites quentes, que mais parecem de Verão, num passeio pela ponte, olhando para o rio, junto aos pilares, aí estavam novamente os peixes. Foram vários minutos a observar o seu quase bailado entre os pilares. Mas não foram só os peixes a voltar. Colocou-se uma plataforma, a jusante da ponte velha, para o Europeu de canoagem, que decorreu durante a passada semana e que tantas medalhas trouxe para Portugal e para Ponte de Lima. Para além dos canoístas, houve quem também gostasse, aproveitasse e utilizasse a referida plataforma. Foi o caso de uma lontra que contemplei durante o seu descanso em cima da mesma. 

O nosso rio Lima, pelo menos entre Arcozelo e a vila de Ponte de Lima, aparenta estar numa fase de renovação. É bom sinal voltar a ver esses animais que já não se viam há muito.                 


Representados


Na passada semana, fomos conhecedores dos novos governantes do Governo Nacional. Já se tinha falado da possibilidade, mas como somos um distrito pequeno, nem sempre conseguimos promover os nossos melhores. Não foi o caso, Luís Montenegro integrou, enquanto Secretário de Estado do Ambiente, o arcuense, e anterior presidente da Câmara, João Esteves. 

A estrutura do PSD do Alto Minho, os seus militantes vêem, assim, recompensada a   união e trabalho realizado nas últimas eleições. Com o trabalho feito em prol da causa pública, a ser o melhor cartão de visita de Esteves, tudo indica que a nossa região sairá a ganhar com este novo governante. Mas não será só com este. Manuel Fernandes, reconduzido Ministro da Agricultura, e o antigo deputado eleito por Viana do Castelo, Carlos Abreu Amorim, novo Ministro dos Assuntos Parlamentares, pela sua constante presença e pelo, mais que demonstrado, amor pela nossa região, são também, de alguma forma, nossos representantes no conselho de Ministros.


Locais abertos


Se alguém lhe falasse em arquivos, o que pensaria? Talvez numa sala fechada, com muitas estantes, onde só alguns escolhidos perturbam o eterno descanso da documentação. Mas eis que este ano, aproveitando o Dia Internacional dos Arquivos, o dia 9 de Junho, a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, que gere a rede nacional de Arquivos Portugueses, e a própria Torre do Tombo, resolveu contrariar essa ideia. Alinhada com o tema do Conselho Internacional de Arquivos (ICA) — “#Arquivos Acessíveis – Arquivos para Todos”, dinamizou e promoveu, a nível nacional, a 1.ª edição da “Festa dos Arquivos”. No nosso distrito, 8 entidades aderiram à “festa”, desde o Arquivo Distrital, representante da DGLAB,, passando por 6 municipais e ainda um arquivo de uma Santa Casa da Misericórdia, organizaram acções que abriram as portas dos arquivos à comunidade. Os Arquivos são realmente guardiões do nosso passado, mas só têm sentido se essa memória for compartilhada com a sua comunidade. 

Algumas acções ainda estão a decorrer, aproveite e visite o seu arquivo.






domingo, junho 08, 2025

Alto Minho, artigo de 29-05-2025

Perguntas incomodas 

No passado domingo, ouvi a seguinte frase “as crianças, ao contrário dos adultos, não se retraem de fazer perguntas por terem medo de ouvir as respostas”. Aparentemente, parece que é isso que está a acontecer neste momento de ressaca eleitoral. Muitos parecem ter medo de perguntar por que será que quase 23% dos eleitores aparentam ter-se fartado do actual sistema político? Ou, o que levará tradicionais eleitores da extrema esquerda a votar num partido rotulado de extrema direita? As respostas serão difíceis de ouvir, mas mais difícil será o resultado de fazer de conta que nada se está a passar. 

Existe um alheamento dos políticos e uma falta de visibilidade mediática dos verdadeiros problemas que nós, “a paisagem do país”, enfrentamos no nosso dia a dia. Se esse alheamento deixa um sentimento de afastamento e revolta, não há como esconder, verifica-se uma vontade disruptiva perante o sistema político em que vivemos. 

Uma franja do eleitorado olha com desdém para os partidos e políticos. Alguns, com o seu voto livre, optam por uma ideia de líder, que embora politico e vindo do sistema, se apresenta como de fora e “diferente". O mesmo que na noite eleitoral recebia apoios com gritos de “a mandar em Portugal”, reparem que optaram pela palavra “mandar” e não por “governar”. Será a mesma situação que coloca um ex-militar na frente da corrida presidencial, até porque, sendo “não é político, é serio!”…

Vivemos num sistema democrático, onde todos podem participar, mas onde também os partidos são pilares e os nossos representantes são escolhidos e escrutinados em liberdade. Existem problemas? Claro que sim, mas sejamos exigentes, cabe a cada um de nós não abdicar da participação, não se recolher no egoísmo de tratar apenas da “nossa vidinha”.


Novo rumo


Ricardo Felgueiras trouxe uma nova visão à Associação de Futebol de Viana do Castelo. Não foi só a parte visual que mudou com novos logotipos, a política de proximidade com os clubes aprofundou-se e a comunicação com a comunidade reforçou-se. A parceria com os clubes e com os agentes da sociedade é a aposta de Felgueiras, que já anunciou parcerias para, por exemplo, proporcionar a transmissão online de jogos dos campeonatos da Associação. Não há como negar que, sendo o futebol o desporto mais praticado e com maior visibilidade social, esta vontade de trazer os órgãos que o gerem para junto da comunidade é bem-vinda e traz um novo ciclo para o futebol distrital. 


Exemplos


Por falar em futebol, agora que termina a época da formação, quero deixar uma palavra de apreço a todos os que dedicam o seu tempo na formação de milhares de jovens e crianças. São eles que ajudam não só no seu crescimento desportivo, como também na sua formação humana e social. 

Deixo um exemplo dessa dedicação, um treinador já histórico de “Os Limianos”, Adelino Silva. O Adelino já marcou várias gerações de jovens que passaram na formação do clube de Ponte de Lima. Embora com a preocupação de os fazer crescer no futebol e no desportivismo, promoveu sempre a ideia de que, mais que resultados imediatos, o que interessa é o crescimento dos atletas nas várias dimensões. Uma ideia que já fez escola em treinadores que um dia foram seus atletas.   


domingo, junho 01, 2025

Alto Minho, artigo de 29-05-2025

Terramoto

Há quem defina assim os resultados das eleições legislativas da passada semana. Penso que não é a definição certa. Os terramotos ainda não são previsíveis, no entanto, os resultados eleitorais já se adivinhavam. Talvez a magnitude não fosse a esperada, talvez não se adivinhasse que fosse desta forma, mas só quem vive na bolha mediática de Lisboa é que pode ficar totalmente estupefacto. 

Um gigante da democracia, como o Partido Socialista, perder a liderança da oposição não é coisa de somenos. Em eleições livres, o povo vota e decide e, nestas eleições, nem se pode dizer que os eleitores se alhearam da votação, apenas 35.62% não exerceram o seu direito. A percentagem da abstenção destas eleições volta ao nível de 2005. Talvez assim deixem de viver focados nos histerismos políticos e voltem a olhar para o que verdadeiramente preocupa os eleitores.


Os resultados


Luís Montenegro e a AD são os vencedores das eleições. Aumentaram o número de votos e elegeram mais deputados com a particularidade desse número ser superior ao de todos os deputados eleitos pela esquerda. Pelo nosso distrito, a AD volta a ter 3 deputados, retirando um ao PS. O factor João Manuel Esteves, antigo presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, foi fundamental. O seu empenho e reconhecida capacidade de trabalho conseguiu unir o partido, mesmo quando alguns tentaram lançar ignóbeis polémicas para a praça pública. 

Pelo Chega, Eduardo Teixeira consolidou e aumentou a votação, sendo reeleito deputado. Conseguiu mais votos que o PS e tornou o Chega, nas legislativas, a segunda força política no distrito. Curiosamente, embora a sua votação tenha subido em quase todos os concelhos (em Melgaço perdeu votação), um dos que menos subiu foi no que mais apostou, Ponte de Lima. Mas as legislativas não são as autárquicas e a força política distrital é avaliada pelas vitórias em juntas de Freguesia, membros eleitos para as Assembleias Municipais e de Freguesia, e Câmaras Municipais conquistadas ou com vereadores eleitos. Só depois de Setembro é que saberemos qual a verdadeira força política do Chega no distrito. 

O PS distrital acompanhou o desaire nacional. Nem mesmo José Maria Costa, ex-autarca de Viana do Castelo, conseguiu estancar a queda, ficando mesmo de fora dos deputados eleitos pelo distrito. Perdeu votação em todos os concelhos, com especial destaque para o de Ponte da Barca. A cabeça de lista, embora natural de Caminha, parece ter ficado presa na tal bolha lisboeta onde tem vivido.


Autárquicas


Porque o ciclo eleitoral é, neste ano, quase uma roda constante, voltamos às autárquicas. Por Ponte de Lima, recentemente, a actual líder do movimento Ponte de Lima Minha Terra, deu uma entrevista a este jornal. Zita Fernandes, ex-autarca eleita pelo CDS, com quem se incompatibilizou depois de ter tido a coragem de não ceder na posição contrária ao polémico projecto de construção de um novo edifício dos Paços do Concelhos, afirmou que o movimento só tem a ganhar com o fim da aliança com o PS. Afirma que “os partidos defendem bandeiras, nós defendemos a causa de Ponte de Lima”. É uma afirmação provavelmente fruto da sua experiência quer com o PS quer com o CDS. Mas não corresponde à verdade. É uma generalização ao nível da que afirma que “os independentes só o são porque não tiveram sucesso dentro dos partidos”. 

Há 10 anos, aquando da implantação da fábrica de betuminoso no centro da vila de Arcozelo, partidos tão dispares como o PSD, a CDU e o PS juntaram-se. Conseguiram trabalhar juntos por uma causa, sem enviesamentos ideológicos e sem procura de protagonismo para as suas bandeiras.  

Não são os partidos que são “maus”, as pessoas que os constituem, assim como os movimentos, é que fazem a diferença. Uns lutam pela comunidade, outros procuram apenas poder e protagonismo pessoal ou político. Não é um “problema” de partidos ou movimentos, mas sim de pessoas.

quinta-feira, maio 22, 2025

Alto Minho, artigo de 15-05-2025

 Campanha


Esta é a última semana de campanha para as eleições legislativas, que se realizam no próximo domingo. As redes sociais estão inundadas de fotografias e vídeos das listas candidatas pela nossa região. Os jornais vão dando conta de algumas acções dos que pretendem ser nossos representantes na Assembleia da República. Pode ser da idade, mas algumas destas campanhas não serão mais para consumo interno? Se nos abstrairmos do “barulho”, será que percebemos como os candidatos pretendem pôr em prática o que defendem para a nossa região, nos corredores da Casa da Democracia? Pelo que nos mostram em campanha, não ficaremos com a ideia de que, afinal, estes só servem para passear e comer em feiras e festividades, esboçando sorrisos estridentes intercalados por frases feitas?


Empatia, onde está?


Um dos problemas que vivemos na nossa democracia é a da polarização. A necessidade de pontes, como afirmou o novo Papa, Leão XIV, é premente. Mas, infelizmente, a capacidade de compreender o outro, as suas ideias, e encontrar um meio termo parece ser, neste tempo, algo extremamente difícil e raro. 

Parece que só há o “eu”, os outros estão sempre enganados, e é necessário, não só vencê-los, mas humilha-los e, se possível, eliminá-los do espaço público. Vejam os comentários nas redes sociais, mesmo de pessoas que no seu dia a dia exercem funções sociais, a incontinência verbal é já a regra. A capacidade de empatia é quase nula. Todos têm que comentar tudo, as notícias dos orgãos de comunicação, por exemplo, são comentadas sem se lerem, não interessa a notícia, o que interessa é comentar para criar “sensações” e “influenciar” para que a minha “opinião”, mesmo que errada ou infundada, seja validada.    


Orgulho


Seja como for, e apesar de alguns não contribuirem em nada para a sua elevação, nada poderá menorizar o exercício do direito de voto. Espera-se que este seja esclarecido, pensado e exercido em consciência. 

Desde pequenina que quando votamos a levamos connosco, sempre fizemos questão de lhe transmitir a importância deste momento e da luta de gerações para que todos pudessem contribuir, pela sua escolha livre, para o futuro da comunidade. A luta das mulheres para que este direito também fosse o delas, sem excepções. É por isso que será com muito orgulho e emoção que este domingo seremos acompanhados pela nossa filha, já não como espectadora, mas para exercer, em pleno, o seu direito de voto pela primeira vez. É, realmente, um momento de festa, ainda para mais quando vivemos a comemoração dos 50 anos em que este direito se viveu em plenitude, pela primeira vez, em Portugal.