domingo, novembro 16, 2025

Alto Minho, artigo de 13-11-2025

Olhar para o estado da arte

A Associação de Futebol de Viana do Castelo anunciou um projecto inovador para a região, um investimento que dará origem à Academia de Futebol da Associação de Futebol de Viana do Castelo. 

Há, no entanto, algo que a Associação não pode descurar, o estado dos campos de jogos onde alguns clubes trabalham. Veja-se o caso concreto do Areosense, no concelho de Viana do Castelo, a meia dúzia de quilómetros da futura Academia. Apesar dos esforços e do trabalho que realiza na formação, o clube joga num antiquado “pelado”. Não há outro campo na formação, nos campeonatos de formação do distrito, em situação idêntica. A Associação deveria, se ainda não o fez, exercer a sua influência junto do poder político para melhorar as condições de trabalho deste clube. Estão em causa, principalmente, crianças e jovens que vestem aquela camisola, mas não só, estão também os atletas dos clubes visitantes, muitos vindos de outra ponta do distrito, que, num campo com condições tão precárias, não conseguem pôr em prática o que aprendem. Mas não se pense que, lá pelos outros clubes terem relvados sintéticos, todo o trabalho está feito. A Associação de Futebol tem vindo, e bem, a promover várias acções de formação em diversas áreas, mas será necessário promover uma formação especifica na área da manutenção dos campos. Muitos, por exemplo, nunca foram escovados, e a rega é mínima ou nem é feita. É preciso ter noção que a falta de manutenção aumenta a probabilidade de ocorrências de graves lesões para os atletas. 

É de louvar o esforço da Associação de Futebol de Viana em olhar para o futuro, mas tem, também, a obrigação, que não é de menor importância, em olhar para o estado da arte. É necessário lutar para ter condições e para ter os meios para que essas condições perdurem. Pela dinâmica que o novo presidente já demonstrou, certamente estará disponível para ser parceiro dos clubes nessa luta. 


Odores


Quem cresceu numa carpintaria conhece bem o odor que emana da madeira. Sabe como este penetra no nariz à medida que a plaina exerce a sua função nas pranchas. É um cheiro que retenho da minha infância, os pipos a erguerem-se, os moveis a formarem-se, o barco a ser construído, o serrim e as raspas a acumularem-se no chão. 

Os cheiros da nossa infância acompanham-nos pela vida. Sem contar, numa esquina, algures no mundo, somos surpreendidos com um odor familiar. Procuramos, por vezes discretamente, e lá encontramos uma pequena oficina de restauro, ou uma pequena carpintaria perdida nas ruas, hoje pouco habitadas, de uma qualquer cidade ou vila. 

Por Ponte de Lima, na vila de Arcozelo, no bairro da Além da Ponte, em Trás-os-palheiros, no início da rua que leva a Faldejães, encontra-se esse odor a madeira. É a oficina “Restauro à Sexta” do Sr. Martins “Sexta” que o emana. É o último dos artesãos da madeira da nossa “aldeia” e o mais “internacional” dos seus habitantes, todos os dias tira fotografias com peregrinos do Caminho de Santiago, assinalando a sua passagem. 

domingo, novembro 09, 2025

Alto Minho, artigo de 06-11-2025

Entrevista e declarações

Os novos protagonistas autárquicos e os repetentes têm dado entrevistas à comunicação social. Recentemente, li a entrevista ao presidente da câmara de Ponte de Lima, Vasco Ferraz, bem como as declarações que fez sobre a CIM Alto Minho. A afirmação dentro da Comunidade Intermunicipal continua na agenda de Ferraz. Fez bem sublinhar as suas linhas vermelhas para o apoio à alteração da liderança na CIM. Embora com a natural solidariedade entre concelhos, fez saber que esta deve ser recíproca. Obviamente que é uma forma de pressão, não acredito que o edil limiano dê a mão a quem, no fundo, o levou à demissão dos órgãos anteriores, mas é preciso que os outros responsáveis políticos olhem para o concelho limiano com o respeito devido ao segundo maior concelho do distrito. 

Já na entrevista que Vasco Ferraz deu aqui ao Alto Minho, refere dois novos projectos impactantes, a Casa do Conhecimento e a Escola das Artes de Ponte de Lima. Foi, no entanto, notória a falta de referência a um projecto que até já deveria estar em andamento, o da construção de um novo estádio municipal no actual campo municipal do Triunfo. Não só pelo trabalho que tem sido feito pela Associação Desportiva “Os Limianos”, quer na formação quer no desempenho desportivo da sua equipa principal, mas também pelas oportunidades que esse novo complexo desportivo poderá criar em termos de atractividade de promoção, o Mundial 2030 está aí, literalmente, à porta com jogos no Dragão e na Galiza. Espera-se que, embora tenha ficado de fora dos temas abordados na entrevista, o projecto apresentado no início de 2024 não morra e que rapidamente se torne uma realidade. 


Homens à altura das circunstâncias


No distrito, ao contrário de outras autárquicas, existem várias situações em que os eleitos nas assembleias de freguesias não se entendem para a constituição dos executivos. Para alguns, parece ser difícil perceber, depois das comemorações na noite eleitoral, que, apesar da sua vitória, o voto popular ditou que terão de partilhar o poder com outras forças políticas. Há quem perceba o funcionamento da democracia, mas outros há que se entrincheiram em vãs questões de ego ou de interesses comezinhos.  

Veja-se o caso da maior freguesia do concelho de Ponte de Lima, a vila de Arcozelo. O presidente da junta foi reeleito, mas, desta feita, sem maioria. A oposição quer trabalhar e, para o bem da freguesia e o bom funcionamento das instituições, propôs um executivo tripartido. Ao invés de aproveitar a oportunidade e de demonstrar estar à altura dos acontecimentos, o presidente eleito agiu como se mantivesse a maioria e não aceitou o repto. Resultado? Viu a sua proposta de executivo reprovada e, de forma intempestiva, sem dar justificações e sem adiantar quando esta retomaria, suspendeu a reunião. Quem perde com esta atitude imponderada é a freguesia e os seus fregueses. 

Esta até nem é uma situação inédita na freguesia de Arcozelo e até com a mesma distribuição de mandatos. Há mais de duas décadas, Manuel Soares, eleito sem maioria pelo PS, teve a grandeza democrática de constituir um executivo tripartido com Manuel Fernandes, eleito pelo PSD, e Manuel Moreira, eleito pelo PCP, ficando, ainda, o grupo independente com um eleito na assembleia. O mandato ficaria conhecido pelo “o dos três Maneis”. Nenhum deles ficou “ferido” politicamente e ainda hoje são lembrados por serem os mentores e dinamizadores da elevação a vila de Arcozelo. A diferença de ontem para hoje são os protagonistas, No passado, souberam estar à altura das circunstâncias, e os de hoje, estarão? Já agora, em Maio deste ano, quando Manuel Soares faleceu, a Junta de Freguesia, liderada pelo actual presidente reeleito, publicou um comunicado onde afirmava que este era “um exemplo e uma inspiração para todos”, será uma boa altura para o ter como exemplo e inspiração.


Elevador social


Recentemente, numa tomada de posse de um executivo municipal, discretamente uma senhora assistia visivelmente comovida. Sentia-se o orgulho nos seus olhos. O seu filho tomava posse como presidente da câmara onde ela há muitos anos exercia funções de limpeza. Ao contrário do que por vezes ouvimos vociferar por aí, a democracia não falhou.

domingo, novembro 02, 2025

Alto Minho, artigo de 23-10-2025

Autárquicas 2025

Como combinado na semana passada, hoje vamos “falar” das autárquicas. Gostou dos resultados? Sempre surgiram algumas surpresas. 


Grandes vencedores no Distrito


Olegário Gonçalves, para além de ter sido eleito presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, com 58.67% dos votos, enquanto presidente da distrital do PSD, viu os sociais-democratas conquistarem os concelhos de Melgaço e de Caminha. Com cinco municípios laranja e um centrista, a liderança da CIM Alto Minho muda de mãos. 

Albano Domingues pôs fim a 43 anos de liderança socialista no município de Melgaço. 

Liliana Silva, que durante anos lutou persistentemente pela mudança, conseguiu conquistar o concelho de Caminha.

Luís Nobre, por ter conseguido atrair os votos mais à esquerda do PS, manteve a liderança, por maioria absoluta, do executivo municipal de Viana do Castelo.

Augusto Marinho, quando muitos vaticinavam a sua derrota, lutou contra um dinossauro do PS barquense e aumentou a sua maioria. Conquistando mais um vereador, provou que os dinossauros já se extinguiram há muito.  


Grandes perdedores no Distrito


Vítor Pereira, líder da distrital do PS, para além de perder os concelhos de Caminha e Melgaço, vê a votação do PS diminuir substancialmente nos dois concelhos em que a estrutura apostou fortemente, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. 

Eduardo Teixeira, embora com a expectável subida de votação do partido de André Ventura, no concelho de Viana do Castelo, não conseguiu atingir o objectivo de retirar a maioria ao PS, nem de ficar em segundo lugar e, muito menos, de vencer. A nível distrital, não foi além do quinto lugar, com excepção de Viana do Castelo, o objectivo de eleger vereadores também ficou por alcançar.

Rui Lage deixou escapar a liderança socialista da câmara de Caminha. 

Vassalo Abreu, por seu lado, não percebeu que, como se pode ler na bíblia, em Eclesiastes 3 “tudo tem o seu tempo”.


Por Ponte de Lima


Por terras limianas, há apenas um vencedor, Vasco Ferraz. Consolidou a maioria absoluta na Câmara Municipal, conquistou mais um vereador, aumentou e assegurou a maioria dos mandatos na Assembleia Municipal e, entre independentes por si apoiados e listas próprias, domina a quase totalidade das Assembleias de Freguesia. Não poderia ter corrido melhor para o CDS limiano.

O PLMT perdeu votação, numa transferência que parece direta para o CDS. Perdeu um vereador e membros na Assembleia Municipal, conquistou a Assembleia de freguesia de Brandara, perdendo, no entanto, a maioria na Assembleia de freguesia de Refoios. Quando muitos vaticinavam o seu desaparecimento, Zita Fernandes, conseguiu, no entanto, manter o movimento como a segunda força política na Câmara Municipal. Sobreviverá a mais quatro anos? 

O PSD conseguiu vencer novamente em quatro Assembleias de Freguesia, perdeu Rebordões de Souto, mas conquistou Rebordões de Santa Maria. Márcio Magalhães conseguiu a reeleição na Assembleia de Freguesia de Arca e Ponte de Lima, por maioria absoluta. Já a freguesia da Seara, apesar da mudança de ciclo, manteve o predomínio maioritariamente laranja. Os resultados têm, no entanto, um travo amargo para os sociais-democratas. Com o fim do Movimento 51, o PSD absorveu naturalmente o seu eleitorado, mas, apesar do aumento de votação, não conquistou mais vereadores, não travou o crescimento generalizado do CDS e ainda ficou atrás, na Câmara Municipal, do fragilizado PLMT. Quanto tempo é que José Nuno Araújo aguentará até ceder o lugar de vereador a Filipe Lima?  

O PS, apesar do abandono das estruturas distritais, da “traição” do seu ex-líder (que liderou uma lista independente apoiada pelo CDS a uma freguesia), conseguiu passar a fasquia psicológica dos mil votos na votação para a Câmara Municipal e eleger dois membros para a Assembleia Municipal. Com um longo caminho para percorrer, poderá ter encontrado as bases para a caminhada. 

A IL atingiu o objectivo a que se propôs na apresentação da sua candidatura, elegeu um membro para a Assembleia Municipal. Veremos o que esse lugar poderá significar para o crescimento da IL em Ponte de Lima. 

O PCP-PEV continua no caminho do esvaziamento eleitoral. “In extremis” conseguiu manter um eleito na Assembleia Municipal. É inegável o contínuo e progressivo declínio eleitoral do PCP limiano.   

A grande divisão do eleitorado em Ponte de Lima é entre o CDS e a oposição como um todo. Enquanto esta continua num género de “baralha e dá de novo”, dividindo os eleitores consoante os movimentos independentes e partidos que aparecem e desaparecem, o CDS, com pequenas oscilações, vai consolidando o eleitorado.     

domingo, outubro 19, 2025

Alto Minho, artigo de 16-10-2025

Ainda não

No momento que escrevo, ainda se desconhecem os resultados da noite eleitoral, mas o leitor, que lê esta crónica dias depois, já conhece o desfecho. O que achou dos resultados, surpreenderam?

Para a semana, voltaremos a este tema.


Até quando?


Num domingo, enquanto assistia a um jogo de futebol de iniciados (sub15 B),  na bancada, pais e avós davam exemplo do que não deve ser o desporto. Insultos, gritos, ameaças, atitudes que, provavelmente, esses cidadãos reprovariam na sua vida quotidiana. Que exemplo querem dar aos seus miúdos? Como reagirão eles, no decorrer do jogo, com os colegas da equipa contrária ou com os árbitros? 

Foi um árbitro, em formação, com os seus 16 ou 17 anos, que tomou conta da situação mantendo-se, pelo menos aparentemente, sereno e impermeável à pressão. Por sorte, a equipa adversária não entrou no “jogo”, manteve uma atitude de desportivismo, de foco no que é importante naquela idade (e não só), aprender em contexto de jogo. 


Passos para mudar o paradigma


Ainda bem que há quem reme contra a maré. A Associação de Futebol de Viana do Castelo está a organizar treinos de observação de guarda-redes. Tem como objectivo permitir aos guarda-redes sub14, de todos os clubes que queiram participar, uma experiência diferente de treino e partilhar o balneário com os colegas dos outros clubes. Esta é uma das mais difíceis, especificas e, muitas das vezes, menorizada, posições do futebol. Se, como muitos dizem, uma equipa é uma família, os guarda-redes criam, pela sua especificidade, uma subfamília. 

Esta iniciativa permite criar laços, conhecer diferentes realidades, perceber que há muito mais a unir que a separá-los. Contribuirá, também, para esclarecer que atitudes como a que assisti naquele domingo não fazem qualquer sentido. Num jogo, o colega com que treinaram é adversário, não é inimigo. Fora das linhas de jogo até pode ser seu amigo, seu colega, sendo como for, tem de ser tratado com respeito. 

Estas iniciativas, para além da componente da evolução técnica que proporcionam aos jovens atletas, são, também, oportunidades para ajudar a mudar o clima crispado que afasta as pessoas das bancadas.     


domingo, outubro 12, 2025

Alto Minho, artigo de 09-10-2025

Expectativas autárquicas

No nosso distrito a noite eleitoral não será monótona. Se, em alguns concelhos, não se prevêem mudanças, noutros estas serão inevitáveis e, em alguns destes, os resultados são uma incógnita. 

É com curiosidade que se esperam os resultados no concelho de Viana do Castelo, no momento em que escrevo não se conseguem prever. Só este facto já representa, de alguma maneira, uma vitória para os partidos da oposição. Há muito que não partiam para as eleições com o “élan” da possibilidade de vitória. O PS de Nobre deverá, no entanto, vencer. Será, provavelmente, sem maioria, e enfrentará uma oposição reforçada, no entanto dividida entre o PSD e o CHEGA. Qual destes ficará em primeiro? Eis outra resposta que só se conhecerá no final da noite eleitoral de Viana do Castelo. 

O concelho de Caminha é daqueles onde poderá acontecer a mudança de cor do executivo. O PSD apostou tudo na vitória, até o líder nacional participou na campanha. Será que o concelho da foz do Minho volta a ser liderado por uma mulher?  

Por Ponte de Lima, não se esperam grandes mudanças. Tudo indica que o CDS irá reforçar a maioria absoluta que não lhe foge desde meados da década de 90 do século passado. Falta saber, no entanto, de que forma essa maioria absoluta influenciará a distribuição de vereadores. Conseguirá o CDS passar de quatro para cinco, vereadores espreitando o sexto? E quem passará a liderar a oposição, o PSD ou o movimento PLMT?  


Convicções?


Já escrevi sobre este tema e considero que, embora para alguns pareça ser insignificante, neste período eleitoral, deve ser realçado. Sem qualquer problema político, ético ou ideológico, há os que não hesitam em passar diretamente de eleitos de um partido/movimento a candidatos, por vezes ao mesmo órgão, por outro partido/movimento. Independentemente das responsabilidades e funções que tiveram no passado, passam a defender as cores do “novo” partido/movimento sem qualquer objeção e com a  mesma “convicção” com que anteriormente defendiam o de origem. Nem as máscaras, que alguns colocam de “independentes”, conseguem disfarçar a falta de verticalidade ideológica e política. Ainda para mais, quando hoje, com as redes sociais, alguns deixam um rastro de profundas críticas, feitas, em alguns casos, há poucas semanas, aos partidos que agora usam como “manta” para se candidatarem.

Mas a responsabilidade não é só desses protagonistas. Os partidos que os acolhem, como se esta atitude fosse natural, também são responsáveis. Os supostos benefícios eleitorais não deveriam sobrepor-se à verticalidade. Infelizmente, não é coisa de um só partido. Se o leitor observar os panfletos,   que colocam na sua caixa do correio, com as listas aos diferentes órgãos, rapidamente comprovará que é algo comum à quase totalidade. 

Mas as pessoas não podem mudar, evoluir no seu pensamento? Claro que sim, mas tem de existir um tempo de recolhimento, de, digamos, luto. Um tempo que permitirá perceber que o que move aquele protagonista não é apenas a procura de poder, de protagonismo, a busca do interesse particular. Um tempo que permitirá perceber que o que levou à mudança de pensamento foi a dolorosa (sim, estes não são processos fáceis) alteração das suas convicções.    

domingo, outubro 05, 2025

Alto Minho, artigo de 02-10-2025

É estranho

Todos os partidos e movimentos se esforçam para dar a conhecer os seus candidatos, as suas propostas, as suas ideias. Todos… menos o PS limiano. 

A actual liderança foi presenteada com uma casa completamente armadilhada. A anterior optou por deixar de apoiar o movimento Ponte de Lima Minha Terra, mas nada fez para preparar as candidaturas socialistas. O PS limiano foi destruído por ambições e falta de um projecto para o concelho. Sem projecto, sem estrutura, sem pessoas, os candidatos socialistas que se apresentam a estas eleições, no fundo, sacrificam-se para que o partido tenha uma representação no boletim de voto. A distrital socialista, no mínimo, deveria ajudar na promoção da candidatura, não só com o apoio financeiro, mas também logístico. Será o mínimo para quem teve a coragem de “agarrar” o partido no estado comatoso em que se encontra, a não ser que o PS já se tenha conformado com o seu desaparecimento em Ponte de Lima.


Será?


Nas páginas do Alto Minho, no início dos anos 2000, escrevi várias vezes sobre a biblioteca municipal de Ponte de Lima. Apontei a necessidade de um novo edifício na zona das escolas. Com a decisão de deslocalização da EB1, defendi a edificação, nesse local, de um edifício que projectasse e alargasse o âmbito da biblioteca municipal por forma a que este serviço se  transformasse num centro de informação. O então responsável pela cultura, Franclim Sousa, depois de um tempo em que defendeu outro caminho, foi ao encontro dessa ideia e, em 2008, deu nota da possibilidade da construção de um novo edifício aproveitando aquele espaço. Nesse mesmo ano, o Orçamento e Plano Municipal contemplou a elaboração do projecto e construção “da nova Biblioteca Municipal, que será um espaço com acentuada polivalência na prestação e disponibilização de serviços com a designação de Centro de informação e do Conhecimento”. Infelizmente, o vereador deixou a equipa nas eleições de 2009, o projecto ficou na “gaveta”. Várias vezes abordei o assunto nas reuniões da Assembleia Municipal, não consegui, no entanto, sensibilizar os responsáveis municipais. 

Já havia alguns rumores, mas agora foi tornado público que há realmente a intenção de avançar com um projecto ainda mais abrangente que o inicial. Vasco Ferraz pretende edificar no espaço da antiga EB1 a Casa do Conhecimento. Um Centro de Informação Local que junta a Biblioteca e o Arquivo municipais, bem como outras valências culturais do município. É uma decisão arrojada que promove a cultura de todo o concelho. Já agora, na nova edificação, salvaguardem o mural de cerâmica que os últimos alunos da EB1 deixaram para a posteridade. 


Talvez um pouco de nostalgia


Com as redes sociais invadidas pelas publicações das candidaturas, as recordações avolumam-se. Lembro-me do longínquo ano de 2009, quando, de forma pioneira na região, se fizeram vídeos de campanha para o Youtube, ou de como, em 2013, se promoveu um debate, nas redes sociais, entre os seguidores da página e o, então, candidato a presidente da Câmara, ou, ainda, como em 2017 já se produziam vídeos, curtos, para as redes sociais sobre vários temas e propostas, provocando a discussão de temas que estavam arredados da discussão política.

Não estou com saudades da política activa, partidária ou eletiva, afastei-me por minha opção, mas continuo a pensar que a participação política é um dever, a opinião, um direito, a participação na vida política em órgãos eleitos ou partidos, uma opção. Tudo tem um tempo.


domingo, setembro 28, 2025

Alto Minho, artigo de 25-09-2025

Exemplos

Já anteriormente escrevi sobre a forte presença das mulheres nas listas concorrentes a estas eleições autárquicas. O caso de Ponte de Lima é bastante interessante, são várias as mulheres que, nestas eleições, assumem um papel de liderança e participação. Hoje, realço outra característica, a participação de muita gente sem vida partidária, ou presença na política activa. Cidadãos que não têm passado nos órgãos autárquicos, mas que, este ano, dão a cara sem receio ou “vergonha”. É um bom sinal para a nossa vida colectiva. 


Escolhas


Nas eleições autárquicas existe a possibilidade de repartir o voto por várias forças políticas. Votamos para três orgãos diferentes. A personalização, que estas eleições, normalmente, assumem, leva a que os “vínculos” partidários desvaneçam. Veja-se o caso de Ponte de Lima, onde o PSD não perde uma eleição nacional desde 1975, mas nunca venceu uma eleição para a Câmara Municipal.

Não deixa de ser interessante analisar os resultados de autárquicas de outros anos, verificando-se várias freguesias onde a maioria do voto para a junta é num partido, para a assembleia municipal num movimento e para o executivo municipal, num partido diferente.


Alteração


O líder nacional do PS, José Luís Carneiro, propôs uma reforma geral do poder local que inclua, por exemplo, uma mudança na lei eleitoral. O PS quer retirar a oposição dos executivos municipais, passando os eleitores a votar em listas para a assembleia municipal, saindo desta o executivo camarário. 

É uma ideia interessante. O presidente da Câmara seria o primeiro da lista mais votada para a assembleia municipal, a exemplo do que já se passa nas assembleias de freguesia, onde o líder da lista mais votada é o presidente da junta; os vereadores sairiam da assembleia. Pressupõem-se que os presidentes de junta deixem de ter o habitual direito de voto nas assembleias municipais  por forma a manter a representatividade do voto popular. 

Esta medida realmente reforçaria o poder político das assembleias, responsabilizando, ainda mais, os executivos municipais. 

Ultrapassando o facto de o PS ter estado oito anos seguidos no governo sem nunca ter a coragem de avançar com esta reforma, aparentemente, existe uma convergência de opiniões. Mas para que esta exista é necessário proceder a uma revisão Constitucional. Atendendo à actual conjuntura, estaremos preparados para o que isso significa? 

domingo, setembro 21, 2025

Alto Minho, artigo de 18-09-2025

Inferno

Os tempos não são fáceis. A intolerância, a demagogia, a mentira propagam-se como combustível para um fogo que parece lavrar um pouco por toda a sociedade ocidental. A soberba afasta a solidariedade, a falta de valores destrói o sentimento de comunidade. Os extremos políticos encontram-se preferindo e provocando o caos em detrimento do compromisso e da construção de consensos. Muitos, no centro político, sucumbem à demagogia, aterrados por verificarem que os extremos os cercam, aterrados pela possibilidade de perderem relevância política. Os meios de comunicação social nacionais parecem presos ao sensacionalismo, já não interessa relatar os acontecimentos, até porque o jornalismo “activista” passou a ser o normal. São horas e horas de polémicas balofas, exploradas até ao tutano, com a cobertura voyerista de tragédias, esperando pela próxima. E, claro, o imediatismo e superficialidade do “debate” nas redes sociais. Este ponto leva-nos ao assunto seguinte.


Purgatório


Na passada semana, foi divulgado o resultado do inquérito às competências dos adultos, conduzido no âmbito do Programa para a Avaliação Internacional de Competências de Adultos da OCDE, que revela que quatro em dez portugueses, 46%, entre os 25 e 64 anos, só conseguem compreender textos simples e curtos. Segundo Gabriela Borges, professora da Universidade do Algarve, o uso de redes sociais durante muito tempo será um dos factores a enfraquecer a capacidade de leitura e compreensão de textos. 

Com a chegada da campanha eleitoral, é notório o investimento das diferentes forças políticas na presença nas redes sociais. Investem na criação de narrativas, nos “gostos” e comentários, mesmo que seja com o recurso a bot`s. O que interessa é “viralizar”. A inexistência de uma atitude crítica para o que vemos nessas redes é vasto pasto para as referidas intenções. 

Há, no entanto, uma razão para este texto ter como título “Purgatório”. Ainda é possível inverter esta situação. Cada um de nós é que decide se quer ser um cidadão zombie digital, ou um cidadão informado. A escolha é sua!


Paraíso


As Feiras Novas são um momento de alegria, de encontro, de festa. É sempre bom ver milhares de pessoas juntas, a partilhar momentos. Um tempo onde os forasteiros se misturam com os limianos, onde as nossas tradições são partilhadas por todos, nas ruas da vila mais antiga do Alto Minho. 

Uma palavra de apreço para todos os envolvidos na organização. Não só aos que fazem parte da Comissão de Festas mas, acima de tudo, aos anónimos que, com a eficiência do seu trabalho, permitem que a festa ocorra sem incidentes. Os que, por exemplo, de madrugada, limpam as ruas, os que mantém as casas de banho a funcionar, os que estão “por detrás da cortina” a organizar os cortejos e a procissão. São eles que permitem que todos os outros possam participar nas Feiras Novas, apenas com a preocupação de as viverem com espirito festivo e alegre. 


Feiras novas - duas breves sugestões


Uma das mais concorridas entradas e saídas durante as festas é a “ponte velha”. A afluência é imensa, não podendo continuar a ser feita de forma desregrada. A mesma coragem que contribuiu para que, após anos de avisos sem qualquer sucesso, se retirassem, por motivos de segurança, as pessoas de cima da ponte durante os espetáculos pirotécnicos, deverá regular a entrada e a saída pela “ponte velha”, do lado da vila de Ponte de Lima, de forma a contribuir para uma maior fluidez e para a segurança de todos nas horas de maior afluência. A segunda nota prende-se com o facto do tempo do cortejo etnográfico passar largamente o aceitável. Entre o procurar um lugar no meio das cadeirinhas, colocadas em todos os passeios horas antes do cortejo, e o final deste, contam-se mais de 4 horas. É muito tempo e não traz qualquer benefício. 

domingo, setembro 14, 2025

Alto Minho, artigo de 12-09-2025

Feiras Novas

Começaram as maior festas do concelho de Ponte de Lima e uma das maiores do país. Durante os próximos dias, milhares de pessoas “invadem” o centro histórico, onde cada uma delas encontrará “a” festa que procura. Durante a noite encontram da música tecno à “house music”, na Expolima; as rusgas, no São João; as bandas de música, no largo de Camões; a música gravada e o convívio, nas Pereiras e arredores; o pão com chouriço e os divertimentos, em toda a marginal e no areal. Durante o dia, as manifestações da cultura limiana estão sempre presentes, nos cortejos, nas exposições agrícolas (onde o garrano e o gado bovino se tornam reis), nos bombos e cabeçudos, nas concertinas que “patrulham” as ruas. A Procissão em Honra de Nossa Senhora das Dores, na segunda feira, marca o ponto alto das celebrações religiosas, integrando centenas de pessoas e percorrendo diversas ruas do centro histórico. Venham a Ponte de Lima, vai valer a pena!


A insustentável leveza das Autárquicas


Na crónica de 30 de Janeiro deste ano, a propósito das autárquicas, perguntei, ao caro leitor, “o que pensaria se um político, que, sendo militante de um partido, assumisse, sem se desfiliar, a candidatura por outro partido? E se, quatro anos depois, noutras eleições, assumisse uma candidatura independente? E se, para  compor o “ramalhete”, agora tentasse uma candidatura com o apoio de um terceiro partido?”. Lembra-se? Pois bem, reparem na maior freguesia do concelho de Ponte de Lima, a vila de Arcozelo. O actual presidente da Junta foi eleito pelo movimento Ponte de Lima Minha Terra, até há uns meses assumiu o cargo de presidente da concelhia do PS local, e, em Maio, nas eleições legislativas, integrou a lista socialista à Assembleia da República. Atualmente, assume uma candidatura independente, mas apoiada pelo CDS. 

Aceitarão os socialistas esta “traição”? E os centristas locais, no seu íntimo, o desaforo? Numa freguesia em que a matriz ideologia, historicamente, para os órgãos locais, é do centro, centro esquerda, onde o CDS não tem tido grande expressão, há quem diga que este apoio, à falta de lista própria, será a forma que encontraram para afastar o actual presidente do cargo.


Sem cinema


Ao que parece há a séria possibilidade de Viana do Castelo perder as únicas salas de cinema existentes no concelho, as do Estação Viana Shopping. A verdade é que a cidade de Viana do Castelo não consegue, por exemplo, atrair uma pessoa de Ponte de Lima, concelho vizinho que já não tem sala de cinema há anos, para as suas salas de cinema. Mais ao menos à mesma distancia física e temporal, em Braga, um limiano encontra mais variedade de filmes e de horários, sem ter que pagar estacionamento e com salas mais cómodas e amplas.

As reações que se vão lendo são em tudo iguais às de quando uma loja histórica do comércio local encerra. Todos têm memórias, todos lamentam, mas ninguém lá ia comprar nada. 

terça-feira, setembro 02, 2025

Alto Minho, artigo de 14-08-2025

Incêndios

Durante mais de semana, a nossa região não saiu da agenda mediática nacional. Os incêndios devastaram hectares e hectares de terreno, com destaque para o concelho de Ponte da Barca.

É neste contexto de destruição, de populações em risco, de populares e bombeiros apreensivos, cansados e com pouca esperança, que o trabalho de Augusto Marinho se destaca. 

O presidente da Câmara de Ponte da Barca não cedeu às amarras partidárias, aos jogos políticos. Marinho e a sua equipa não se esconderam, foram presença assídua junto das populações, foram a voz das mesmas quando, no terreno, as coisas aparentavam não funcionar como deviam. Lutaram por soluções e, na verdade, foram uma réstia de esperança em noites e dias onde esta parecia faltar.

Não posso deixar de dar os parabéns pelo exemplo que deram de como ser autarca num momento difícil para as populações que representam.


Contestação


Com a aproximação da romaria da Nossa Senhora da Agonia, chegam as polémicas e contestações. Parece já ser um velho hábito que se enraizou nas pessoas de Viana do Castelo. Uns contestam o cartaz que não representa as festas, outros queixam-se pela falta de regras, outros ainda reclamam que as regras são pesadas. Uns lamentam a falta de oportunidade de participar nos cortejos, outros, a abertura e consequente banalização… Todos os anos a contestação e polémica parecem fazer parte do programa. 

As festas da Agonia já não são apenas uma festa regional, uma romaria no sentido tradicional do termo. Quiseram e fizeram-nas um produto turístico e isso, com tudo o que implica numa época de “instagramização”, tem consequências que nem todos estão preparados para aceitar.    


Agosto


Durante o mês de Agosto, muitos dos nossos compatriotas regressam dos países que os acolhem durante o restante ano. As nossas vilas e aldeias mais que duplicam de população.. 

Não deixa de ser interessante verificar que muitos dos que voltam são emigrantes de segunda e de terceira geração, muitos já nascidos nos países de acolhimento. Gerações que já se misturaram com os naturais desses países e com membros de outras comunidades. Os portugueses sempre foram assim, sempre tiveram a capacidade de se adaptar, de se misturar, de evoluir abrindo-se aos outros. 


Nota


Caro leitor, agradecendo a amabilidade da sua leitura, encontramo-nos por aqui, novamente, no mês de Setembro.