domingo, setembro 28, 2025

Alto Minho, artigo de 25-09-2025

Exemplos

Já anteriormente escrevi sobre a forte presença das mulheres nas listas concorrentes a estas eleições autárquicas. O caso de Ponte de Lima é bastante interessante, são várias as mulheres que, nestas eleições, assumem um papel de liderança e participação. Hoje, realço outra característica, a participação de muita gente sem vida partidária, ou presença na política activa. Cidadãos que não têm passado nos órgãos autárquicos, mas que, este ano, dão a cara sem receio ou “vergonha”. É um bom sinal para a nossa vida colectiva. 


Escolhas


Nas eleições autárquicas existe a possibilidade de repartir o voto por várias forças políticas. Votamos para três orgãos diferentes. A personalização, que estas eleições, normalmente, assumem, leva a que os “vínculos” partidários desvaneçam. Veja-se o caso de Ponte de Lima, onde o PSD não perde uma eleição nacional desde 1975, mas nunca venceu uma eleição para a Câmara Municipal.

Não deixa de ser interessante analisar os resultados de autárquicas de outros anos, verificando-se várias freguesias onde a maioria do voto para a junta é num partido, para a assembleia municipal num movimento e para o executivo municipal, num partido diferente.


Alteração


O líder nacional do PS, José Luís Carneiro, propôs uma reforma geral do poder local que inclua, por exemplo, uma mudança na lei eleitoral. O PS quer retirar a oposição dos executivos municipais, passando os eleitores a votar em listas para a assembleia municipal, saindo desta o executivo camarário. 

É uma ideia interessante. O presidente da Câmara seria o primeiro da lista mais votada para a assembleia municipal, a exemplo do que já se passa nas assembleias de freguesia, onde o líder da lista mais votada é o presidente da junta; os vereadores sairiam da assembleia. Pressupõem-se que os presidentes de junta deixem de ter o habitual direito de voto nas assembleias municipais  por forma a manter a representatividade do voto popular. 

Esta medida realmente reforçaria o poder político das assembleias, responsabilizando, ainda mais, os executivos municipais. 

Ultrapassando o facto de o PS ter estado oito anos seguidos no governo sem nunca ter a coragem de avançar com esta reforma, aparentemente, existe uma convergência de opiniões. Mas para que esta exista é necessário proceder a uma revisão Constitucional. Atendendo à actual conjuntura, estaremos preparados para o que isso significa? 

domingo, setembro 21, 2025

Alto Minho, artigo de 18-09-2025

Inferno

Os tempos não são fáceis. A intolerância, a demagogia, a mentira propagam-se como combustível para um fogo que parece lavrar um pouco por toda a sociedade ocidental. A soberba afasta a solidariedade, a falta de valores destrói o sentimento de comunidade. Os extremos políticos encontram-se preferindo e provocando o caos em detrimento do compromisso e da construção de consensos. Muitos, no centro político, sucumbem à demagogia, aterrados por verificarem que os extremos os cercam, aterrados pela possibilidade de perderem relevância política. Os meios de comunicação social nacionais parecem presos ao sensacionalismo, já não interessa relatar os acontecimentos, até porque o jornalismo “activista” passou a ser o normal. São horas e horas de polémicas balofas, exploradas até ao tutano, com a cobertura voyerista de tragédias, esperando pela próxima. E, claro, o imediatismo e superficialidade do “debate” nas redes sociais. Este ponto leva-nos ao assunto seguinte.


Purgatório


Na passada semana, foi divulgado o resultado do inquérito às competências dos adultos, conduzido no âmbito do Programa para a Avaliação Internacional de Competências de Adultos da OCDE, que revela que quatro em dez portugueses, 46%, entre os 25 e 64 anos, só conseguem compreender textos simples e curtos. Segundo Gabriela Borges, professora da Universidade do Algarve, o uso de redes sociais durante muito tempo será um dos factores a enfraquecer a capacidade de leitura e compreensão de textos. 

Com a chegada da campanha eleitoral, é notório o investimento das diferentes forças políticas na presença nas redes sociais. Investem na criação de narrativas, nos “gostos” e comentários, mesmo que seja com o recurso a bot`s. O que interessa é “viralizar”. A inexistência de uma atitude crítica para o que vemos nessas redes é vasto pasto para as referidas intenções. 

Há, no entanto, uma razão para este texto ter como título “Purgatório”. Ainda é possível inverter esta situação. Cada um de nós é que decide se quer ser um cidadão zombie digital, ou um cidadão informado. A escolha é sua!


Paraíso


As Feiras Novas são um momento de alegria, de encontro, de festa. É sempre bom ver milhares de pessoas juntas, a partilhar momentos. Um tempo onde os forasteiros se misturam com os limianos, onde as nossas tradições são partilhadas por todos, nas ruas da vila mais antiga do Alto Minho. 

Uma palavra de apreço para todos os envolvidos na organização. Não só aos que fazem parte da Comissão de Festas mas, acima de tudo, aos anónimos que, com a eficiência do seu trabalho, permitem que a festa ocorra sem incidentes. Os que, por exemplo, de madrugada, limpam as ruas, os que mantém as casas de banho a funcionar, os que estão “por detrás da cortina” a organizar os cortejos e a procissão. São eles que permitem que todos os outros possam participar nas Feiras Novas, apenas com a preocupação de as viverem com espirito festivo e alegre. 


Feiras novas - duas breves sugestões


Uma das mais concorridas entradas e saídas durante as festas é a “ponte velha”. A afluência é imensa, não podendo continuar a ser feita de forma desregrada. A mesma coragem que contribuiu para que, após anos de avisos sem qualquer sucesso, se retirassem, por motivos de segurança, as pessoas de cima da ponte durante os espetáculos pirotécnicos, deverá regular a entrada e a saída pela “ponte velha”, do lado da vila de Ponte de Lima, de forma a contribuir para uma maior fluidez e para a segurança de todos nas horas de maior afluência. A segunda nota prende-se com o facto do tempo do cortejo etnográfico passar largamente o aceitável. Entre o procurar um lugar no meio das cadeirinhas, colocadas em todos os passeios horas antes do cortejo, e o final deste, contam-se mais de 4 horas. É muito tempo e não traz qualquer benefício. 

domingo, setembro 14, 2025

Alto Minho, artigo de 12-09-2025

Feiras Novas

Começaram as maior festas do concelho de Ponte de Lima e uma das maiores do país. Durante os próximos dias, milhares de pessoas “invadem” o centro histórico, onde cada uma delas encontrará “a” festa que procura. Durante a noite encontram da música tecno à “house music”, na Expolima; as rusgas, no São João; as bandas de música, no largo de Camões; a música gravada e o convívio, nas Pereiras e arredores; o pão com chouriço e os divertimentos, em toda a marginal e no areal. Durante o dia, as manifestações da cultura limiana estão sempre presentes, nos cortejos, nas exposições agrícolas (onde o garrano e o gado bovino se tornam reis), nos bombos e cabeçudos, nas concertinas que “patrulham” as ruas. A Procissão em Honra de Nossa Senhora das Dores, na segunda feira, marca o ponto alto das celebrações religiosas, integrando centenas de pessoas e percorrendo diversas ruas do centro histórico. Venham a Ponte de Lima, vai valer a pena!


A insustentável leveza das Autárquicas


Na crónica de 30 de Janeiro deste ano, a propósito das autárquicas, perguntei, ao caro leitor, “o que pensaria se um político, que, sendo militante de um partido, assumisse, sem se desfiliar, a candidatura por outro partido? E se, quatro anos depois, noutras eleições, assumisse uma candidatura independente? E se, para  compor o “ramalhete”, agora tentasse uma candidatura com o apoio de um terceiro partido?”. Lembra-se? Pois bem, reparem na maior freguesia do concelho de Ponte de Lima, a vila de Arcozelo. O actual presidente da Junta foi eleito pelo movimento Ponte de Lima Minha Terra, até há uns meses assumiu o cargo de presidente da concelhia do PS local, e, em Maio, nas eleições legislativas, integrou a lista socialista à Assembleia da República. Atualmente, assume uma candidatura independente, mas apoiada pelo CDS. 

Aceitarão os socialistas esta “traição”? E os centristas locais, no seu íntimo, o desaforo? Numa freguesia em que a matriz ideologia, historicamente, para os órgãos locais, é do centro, centro esquerda, onde o CDS não tem tido grande expressão, há quem diga que este apoio, à falta de lista própria, será a forma que encontraram para afastar o actual presidente do cargo.


Sem cinema


Ao que parece há a séria possibilidade de Viana do Castelo perder as únicas salas de cinema existentes no concelho, as do Estação Viana Shopping. A verdade é que a cidade de Viana do Castelo não consegue, por exemplo, atrair uma pessoa de Ponte de Lima, concelho vizinho que já não tem sala de cinema há anos, para as suas salas de cinema. Mais ao menos à mesma distancia física e temporal, em Braga, um limiano encontra mais variedade de filmes e de horários, sem ter que pagar estacionamento e com salas mais cómodas e amplas.

As reações que se vão lendo são em tudo iguais às de quando uma loja histórica do comércio local encerra. Todos têm memórias, todos lamentam, mas ninguém lá ia comprar nada. 

terça-feira, setembro 02, 2025

Alto Minho, artigo de 14-08-2025

Incêndios

Durante mais de semana, a nossa região não saiu da agenda mediática nacional. Os incêndios devastaram hectares e hectares de terreno, com destaque para o concelho de Ponte da Barca.

É neste contexto de destruição, de populações em risco, de populares e bombeiros apreensivos, cansados e com pouca esperança, que o trabalho de Augusto Marinho se destaca. 

O presidente da Câmara de Ponte da Barca não cedeu às amarras partidárias, aos jogos políticos. Marinho e a sua equipa não se esconderam, foram presença assídua junto das populações, foram a voz das mesmas quando, no terreno, as coisas aparentavam não funcionar como deviam. Lutaram por soluções e, na verdade, foram uma réstia de esperança em noites e dias onde esta parecia faltar.

Não posso deixar de dar os parabéns pelo exemplo que deram de como ser autarca num momento difícil para as populações que representam.


Contestação


Com a aproximação da romaria da Nossa Senhora da Agonia, chegam as polémicas e contestações. Parece já ser um velho hábito que se enraizou nas pessoas de Viana do Castelo. Uns contestam o cartaz que não representa as festas, outros queixam-se pela falta de regras, outros ainda reclamam que as regras são pesadas. Uns lamentam a falta de oportunidade de participar nos cortejos, outros, a abertura e consequente banalização… Todos os anos a contestação e polémica parecem fazer parte do programa. 

As festas da Agonia já não são apenas uma festa regional, uma romaria no sentido tradicional do termo. Quiseram e fizeram-nas um produto turístico e isso, com tudo o que implica numa época de “instagramização”, tem consequências que nem todos estão preparados para aceitar.    


Agosto


Durante o mês de Agosto, muitos dos nossos compatriotas regressam dos países que os acolhem durante o restante ano. As nossas vilas e aldeias mais que duplicam de população.. 

Não deixa de ser interessante verificar que muitos dos que voltam são emigrantes de segunda e de terceira geração, muitos já nascidos nos países de acolhimento. Gerações que já se misturaram com os naturais desses países e com membros de outras comunidades. Os portugueses sempre foram assim, sempre tiveram a capacidade de se adaptar, de se misturar, de evoluir abrindo-se aos outros. 


Nota


Caro leitor, agradecendo a amabilidade da sua leitura, encontramo-nos por aqui, novamente, no mês de Setembro. 

domingo, agosto 03, 2025

Alto Minho, artigo de 31-07-2025

Pragmático

A Iniciativa Liberal apresentou, como líder da lista à Câmara Municipal de Ponte de Lima, João Fernando Lima. Nas primeiras declarações à comunicação social, foi realista nos objetivos, os liberais limianos pretendem “entrar” na Assembleia Municipal para “levar as ideias liberais à Assembleia”. Esse objectivo poderá ser realizável, seria, até, importante para a democracia local, que assim fosse. Abrir o leque de representatividade na Assembleia Municipal poderia trazer uma nova vitalidade àquele órgão. 

Atendendo ao objectivo apresentado, só não se percebeu por que é que não apresentaram o cabeça de lista da IL a esse órgão.    


Afinal


Alexandra Sofia Vieitas da Cunha vai liderar a lista do Chega à Câmara Municipal de Ponte de Lima. Para quem acompanha a política local e porque eram apontados outros nomes com maior relevância política, a escolha surpreende. Não que falte experiência política à candidata. Sofia Cunha já integrou várias listas candidatas à Assembleia da República. Em 2019 foi 3ª numa lista do Bloco de Esquerda, em 2024 ocupou o 4º lugar da lista do Chega e, em 2025, o 5º, novamente pelo Chega. 

Há quem lhe chame “incoerência”, outros, “busca de tacho”, na verdade, cada um é livre de mudar de ideias e de se aproximar de quem quiser. É a mesma liberdade que o eleitor tem de votar, ou não, em quem assim procede. 

Na sua apresentação, a candidata, propôs a criação de uma Polícia Municipal em Ponte de Lima, justificando a proposta com o “aumento de assaltos ao comércio local e a habitações”. Há, no entanto, um pequeno problema nessa proposta, a realidade. Por um lado, basta consultar as estatísticas e indicadores para perceber que não, não existe um aumento de assaltos. Para além do concelho limiano estar bem abaixo da média nacional nos crimes registados (https://estatisticas.justica.gov.pt/sites/siej/pt-pt/Paginas/Crimes_registados_autoridades_policiais.aspx), a criminalidade, com um número relativamente estável, comparativamente com há 10 ou 20 anos,  até diminuiu. Por outro lado, o concelho limiano já tem duas forças de segurança a operar no seu território, a PSP, que tem como área territorial de acção a freguesia sede de concelho, e a GNR com as restantes freguesias. Mais que criar uma Polícia Municipal, talvez fosse melhor lutar, por exemplo, pelo aumento de efetivos e meios das forças de segurança existentes.


Já por Viana do Castelo


No momento que escrevo, Eduardo Teixeira ainda não foi anunciado oficialmente como cabeça de lista pelo Chega à Câmara Municipal de Viana do Castelo. Não foi, mas, pela quantidade de vídeos, sobre o assunto, que vai partilhando nas redes sociais, não será muito difícil perceber que será o segredo mais mal guardado destas autárquicas. 

Num dos seus referidos vídeos falava em acabar com o bipartidarismo, arvorando-se como a alternativa que o irá fazer. Teixeira faz parte da vida autárquica de Viana do Castelo, pelo menos, desde 2001, sempre eleito pelo PSD. Foi membro da Assembleia Municipal, da Assembleia de Freguesia de Darque, vereador. Por duas vezes liderou a lista do PSD candidata à Câmara Municipal. Na primeira vez que o fez, nos idos de 2013, Teixeira afirmava que o "concelho de Viana do Castelo precisa de uma nova garra e de sair urgentemente do marasmo económico em que vive, sobretudo devido à inação da gestão camarária. É preciso acabar com 20 anos de gestão socialista”. Passados 12 anos, a mensagem é basicamente a mesma, apenas se percebe a nuance de substituir “socialismo” por “bipartidarismo”.

domingo, julho 27, 2025

Alto Minho, artigo de 24-07-2025

Porque não?

Há um movimento pendular diário enorme entre a freguesia de Darque e a cidade de Viana do Castelo. Sem alternativa, quem reside em Darque ou desespera na travessia da ponte em automóvel ou sujeita-se aos custos e à imposição de horários dos cada vez mais diminutos transportes públicos. É verdade que podem sempre partir à aventura e atravessar a ponte a pé, mas, com apenas um passeio onde não cruzam duas pessoas sem que alguma delas desça à via automóvel, será uma escolha arriscada.

É tempo de pensar na construção de uma ponte pedonal, ciclável, entre Darque e a zona ribeirinha da cidade. Esta decisão iria revolucionar a mobilidade urbana, tirar pressão à centenária ponte Eiffel, promover o uso de transporte alternativo como a bicicleta e, claro, melhorar, e muito, a qualidade de vida de tantos.


Mudança de mentalidades


Já tinha escrito sobre esta mudança de paradigma no concelho limiano, as mulheres, finalmente, assumem um papel de destaque nas eleições autárquicas.

Depois do movimento “Ponte de Lima Minha Terra”, eis que o Partido Comunista Português surpreende, apresentando também duas mulheres na liderança das listas aos órgãos municipais. Sandra Fernandes encabeça a lista à Câmara Municipal e Patrícia Moreira a lista à Assembleia Municipal. Se no movimento apenas a candidata à Câmara Municipal, Zita Fernandes, tem conhecida experiência política, as candidatas do PCP são sobejamente reconhecidas pela sua participação enquanto eleitas em órgãos autárquicos e em movimentos associativos/cívicos. 

No contacto que tive com elas, enquanto eleito, sempre consegui fazer pontes por forma a trazer avanços na “res publica” local. Apesar de origem ideológica bem diferente, nunca obtive delas respostas preconceituosas, ao contrário de outros seus camaradas.

Numa altura que se ultimam as listas, é bom que as mulheres tomem um lugar que, mais do que por imposição legal, é delas por direito próprio. 

 

Mudanças


Talvez quem viva no centro histórico tenha uma maior percepção das casas  que de um momento para o outro se esvaziam de vida. A casa à frente da nossa deixa de ter vida, porque a senhora de idade que aí vivia já não tem condições físicas e mentais para viver sozinha e foi encaminhada para uma instituição. A casa seguinte de um dia para o outro deixa de abrir as portadas, as flores, antes tratadas com esmero, começam a secar, é, então, que se sabe que a sua moradora foi, entretanto, internada. A solidão, associada à idade muito avançada, prolifera nos centros históricos da nossa região. 

A contradizer esta realidade aparecem as famílias de imigrantes, normalmente oriundos da América Latina, como Brasil, Colombia, Venezuela, que trazem o riso e a curiosidade das crianças, e novas vidas para as casas dos centros históricos. É um ciclo que se fecha, mas, mais importante, é outro que se abre e renova os centros das nossas vilas e cidades. 

domingo, julho 20, 2025

Alto Minho, artigo de 17-07-2025

Despedida

Soube, recentemente, que Pedro Ligeiro, histórico membro da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, eleito pelo Partido Social Democrata, vai deixar esse órgão autárquico no final deste mandato. Por sua vontade não volta a ser candidato. Não sei qual a razão para essa decisão, mas sei que é feita com coragem, significa, no entanto, uma grande perda para o concelho e para a capacidade de intervenção do partido que representou por cerca de 26 anos. 

Vivemos o mesmo tempo dentro do PSD. Exercemos cargos, candidatámo-nos internamente um contra o outro e em listas conjuntas, estivemos, internamente, quase sempre em discordância. Tivemos fortes discussões e batalhas internas, mas sei que sempre pude contar do Pedro frontalidade. Sempre o respeitei por isso, pela independência e frontalidade. Partilhamos os bancos da Assembleia Municipal, sou testemunha da sua intervenção mordaz, sem amarras, sem hesitações, preparada e séria, reflexo da sua profunda vontade de ajudar a construir um concelho melhor.


Que caminho?


Confesso que já não acompanho, como anteriormente, os trabalhos da Assembleia Municipal de Ponte de Lima. Mesmo antes de ser membro dessa Assembleia, sempre gostei de acompanhar os seus trabalhos. É por lá que se discutem os problemas do concelho. Até à primeira década deste século, acompanhar os trabalhos significava estar presente na reunião que poderiam durar muitas, mesmo muitas horas. Quando foi eleito, uma das minhas primeiras propostas, aprovado por maioria, foi que, junto à acta, disponibilizada na página do município, fosse colocado um ficheiro audio, dividido pelos pontos em discussão, que permitissem que os cidadãos ouvissem o que por lá se discutia e decidia. 

Hoje, e bem, há uma transmissão em direto das reuniões, em streaming, que pode ser consultada mais tarde. Não será por falta de alternativas de acompanhamento que não o faço. Nem é pela falta de esforço pela descentralização e abertura, do seu presidente, João Mimoso de Morais. Na verdade, depois de ter lá passado, em dois mandatos, como membro, ver agora as sessões torna-se um pouco pesaroso. Não é por qualquer sentimento de nostalgia, mas por verificar que os problemas internos que existiam se agravaram. A maioria dos membros não intervêm, não discute, não se prenuncia, reduzem a sua participação às votações. Isso, se não enfrentarem uma vontade súbita de ir à casa de banho…

Há 10 anos era impossível uma reunião, onde se discutisse o Plano e Orçamento, demorar menos que o dia inteiro de sábado, por vezes o almoço tornava-se lanche ajantarado. Hoje, em poucas horas fica tudo “discutido”. Talvez seja por isso que a atractividade para manter ou captar novos membros, que queiram realmente intervir e fazer a diferença, seja cada vez menor. 


Não!


Quem também se despediu dos cargos que ocupava foi o professor José António Silva. O professor José António, quando eu frequentei o “ciclo” já exercia cargos diretivos, foi director durante o tempo em que a minha filha frequentou a mesma escola, já com o nome do nosso poeta António Feijó, e despede-se do cargo quando o meu filho mais novo a frequenta. 

No seu discurso de despedida, realizado numa sessão que homenageou o seu trabalho, afirmou “parto como cheguei à Escola António Feijó”. Deixe-me, caro director, discordar. Quem, como o professor, dedicou tanto do seu tempo à “sua” escola não parte igual, parte com a riqueza de quem marcou a vida de gerações de limianos. Obrigado!

domingo, julho 13, 2025

Alto Minho, artigo de 10-07-2025

Sol, rio, praia e natureza

Já repararam, com certeza, que a nossa região é rica em sugestões para a prática de desportos “radicais”, como se dizia nos anos 90. Ainda que com praias de água fria e com constante vento, é atrativa para alguns desportos náuticos, sendo, inclusive, uma referência em algumas modalidades. Os rios são viveiros de campeões, seja de canoagem ou de remo, e os seus cursos e afluentes fantásticos para o canyoning. Os nossos montes e montanhas são espaços ideais para a prática de modalidades de ciclismo como o downhill ou cross country.

Todo este potencial continua a não ser totalmente aproveitado. Falta escala, falta promoção internacional. Talvez alianças entre os vários municípios do distrito (porque não através da CIM) pudessem trazer para a nossa região uma prova de um circuito mundial dessas modalidades. Nesses campeonatos, há investimento de grande escala, de marcas internacionais e estas só apostam em algo que tenha retorno, logo por tanto, trará, certamente, visibilidade mundial à nossa região. 


 Um dos problemas


Um dos problemas que os candidatos às autárquicas de 12 de Outubro irão enfrentar, independentemente do órgão a que se candidatam, é o de passarem a viver numa bolha eleitoral. A campanha eleitoral requer muita dedicação e muitas horas de esforço, e, por mais que a vida continue, na verdade, o foco desses nossos concidadãos passa a ser o de vencer ou ter o melhor resultado possível. Manter a clareza do que importa, por vezes, torna-se difícil.

Se forem abordados pelas candidaturas, não receiem em falar, não o que os candidatos querem ouvir, mas sobre os problemas diários que a vossa comunidade tem que enfrentar. Assim, estarão a contribuir para que os candidatos mantenham o foco no que realmente interessa.


Portugal não acaba nas grandes áreas metropolitanas 


Por vezes parece que, para a comunicação social nacional, os problemas do país são apenas os dos grandes centros urbanos, mas não! Há muitos problemas das zonas “periféricas” que deviam envergonha qualquer político e que deveriam ter cobertura nacional. 

Os autarcas de Monção e Melgaço contestaram os inadmissíveis acessos aos seus concelhos. Acessos dos anos 80, que, para além de limitarem a circulação das populações, afastam oportunidades que podem ajudar a fixar essa mesma população. 

A distância até ao hospital distrital de Viana do Castelo é percorrida em quase duas horas. Para fazerem 40 quilómetros, demoram quase tanto como de Viana do Castelo à cidade do Porto. Os responsáveis políticos distritais, autarcas e lideres partidários, da sociedade dita civil, devem mobilizar-se, independentemente de eleições e partidos, e reivindicar junto do governo a imperiosa construção de novas acessibilidades. Há um limite para ruralidade e isolamento territorial. 

domingo, julho 06, 2025

Alto Minho, artigo de 03-07-2025

 Verdadeira festa popular

Nunca é de mais destacar quando uma comunidade se une para manter as tradições. No passado fim de semana, pude participar numa festa diferente das outras, o São Pedro da Freiria, na Além da Ponte, vila de Arcozelo. 

Uma festa de um santo popular que se perde nas profundezas dos anos e que tem uma particularidade, normalmente as festas são dedicadas a um santo evocado numa igreja do lugar, mas na Freiria não existe nenhuma igreja evocativa de São Pedro. Há uns anos, foi colocada uma imagem do santo no largo da Freiria, mas para marcar essa vontade popular de festejar o santo, e não o contrário. 

A festa tem os costumeiros momentos musicais, os bombos, a música gravada durante o dia e os foguetes, mas tem, também, algumas características que a tornam especial. As sardinhas e o porco no espeto são servidos no largo pelas pessoas que organizam a festa. O pagamento é uma contribuição para a festa, um donativo, não há tabela de preços. O convívio, a partilha e o estar entre vizinhos são as verdadeiras atrações. As marchas, tão características de uma época, em tempos alimentadas pela saudável rivalidade entre “os da Freiria e os do Terreiro”, também marcam a festa. Os marchantes do bairro do Pinheiro, na vila de Ponte de Lima, presença assídua nas marchas de São João,  atravessam o rio e sobem do largo da Alegria (o tal Terreiro), entrando no largo da Freiria a marchar com os característicos fatos e arcos. Qualquer pessoa se pode juntar, os arcos estão espalhados pelo recinto, e são tantas a fazê-lo.  

O São Pedro da Freiria é diferente, não é uma festa “enlatada”, é uma festa feita pela comunidade, por muitos jovens, que mantêm, de certa forma, o sentimento de comunidade e, simultaneamente, dão continuidade a uma tradição, para que não se perca na voragem do tempo. 


Habitação temporária?


Desde há uns tempos, em alguns espaços rurais de Ponte de Lima, têm sido colocadas algumas casas pré-fabricadas, num género de bairros/parques de campismo. Na fronteira entre a freguesia da vila de Arcozelo e Brandara há um e agora, num terreno junto à central de betuminoso da vila de Arcozelo, está a aparecer outro. Há quem diga que é para albergar trabalhadores! Seja para o que for, espera-se que se respeitem as regras de implementação de edificação e que o município fiscalize o que por lá se passa. 


Vamos à praia?


Estes dias de calor extremo fizeram-me recordar tempos onde tudo era mais lento, tudo era vivido com maior intensidade. Hoje, rapidamente nos colocamos numa qualquer praia da nossa região, mas nem sempre assim foi.

Houve um tempo em que as férias eram intermináveis, onde muitos iam à praia em autocarros, normalmente acompanhados pelas avós. Enfrentavam as águas geladas da nossa região com pequenos lanches que não os afastassem, por horas, da espuma das ondas. O tempo de espera era ocupado entre construções na areia e a exploração das rochas e poças. A praia era apenas “usufruída” na parte da manhã, mas como o relógio parecia andar mais de vagar, era o suficiente. 

Há quanto tempo não passeia junto a uma das nossas praias? Fica a sugestão, com este calor, visite uma das nossas praias, vá de manhã e, se for mais afoito, aproveite para dar um mergulho. 

domingo, junho 29, 2025

Alto Minho, artigo de 26-06-2025

Autárquicas 


Aproxima-se o dia de entrega das listas para as eleições autárquicas. A logística é enorme, os protagonistas, entre proponentes, membros efectivos e suplentes, são tantos que a constituição de listas, entre Assembleia Municipal, Câmara Municipal e Assembleias de Freguesia, é sempre um processo difícil e complicado. 

Em Ponte de Lima, até ao momento que escrevo, duas forças políticas da oposição já fizeram a apresentação dos seus cabeças de lista à Assembleia e Câmara Municipal, o PSD e o movimento “Ponte de Lima Minha Terra”. Os sociais democratas apostam na repetição do cabeça de lista à Câmara, José Nuno Araújo, e em Filipe Amorim, até agora presidente da Junta de Rebordões de Souto, para liderar a lista à Assembleia Municipal. Já o movimento aposta em duas mulheres, a antiga presidente da Junta de Brandara e  actual vereadora, Zita Fernandes, lidera a lista candidata à Câmara Municipal e Carolina Campelo, antiga candidata à Assembleia de Freguesia da união de freguesias de Vale de Neiva, a lista à Assembleia Municipal. Não deixa de ser interessante serem duas forças políticas que lutam pelo mesmo eleitorado.


Na realidade


Quem está no poder, como o CDS em Ponte de Lima, só espera que a oposição se desmembre e que aprofunde a luta pelo eleitorado dos descontentes. O poder, por norma, consegue manter fiel o seu eleitorado, por vezes, até consegue aumentar os que lhe confiam o seu voto. 

Para além dos já referidos candidatos da oposição, a Iniciativa Liberal, tal como o PS, já anunciou que teria lista própria à Câmara Municipal, também o PCP não deixará de apresentar listas à Câmara e Assembleia Municipal, onde tem um eleito. Falta saber se o CHEGA irá apresentar uma lista para “combate” eleitoral ou apenas para marcar presença. Seja como for, Vasco Ferraz, actual presidente da câmara e mais que provável recandidato, já terá colocado como objectivo a eleição do quinto vereador. Falta saber se alguma das forças da oposição se conseguirá sobrepor às outras e lutar contra esse objectivo. 


Não sei se repararam


Recentemente foi inaugurada, em Ponte de Lima, uma estátua do nosso primeiro rei e fundador do reino de Portugal, dom Afonso Henriques. Não, não vou escrever sobre essa estátua, realizada, e ainda bem, ao modo clássico. Talvez o leitor não tenha reparado mas, recentemente, foi também colocada uma estátua de um touro de lide no largo, actualmente designado da Alegria, no bairro da Além da Ponte, vila e freguesia de Arcozelo. 

Há poucos anos, tinham “plantado” uma estátua em pedra de um touro, num dos lados desse mesmo largo. A estátua passou a ser alvo da escalada de crianças, jovens e menos jovens, que, pendurados no lombo e cornos, tiravam uma fotografia para recordação. Esta actividade levou à frequente destruição dos cornos do touro de pedra. Talvez fartos das reparações, os responsáveis retiraram, e bem, a estátua. Na verdade, ninguém percebeu o motivo para a sua colocação, nem a justificação de que a vaca das cordas, durante um período, visitava a Além da Ponte, seria motivo de maior para lá se colocar uma estátua de um touro. 

Tendo tirado a de pedra, para quê substituí-la por outra em bronze? Já existe uma no largo da igreja matriz de Ponte de Lima, para quê outra do outro lado da ponte velha? Se queriam gastar dinheiro, então fizessem uma estátua com sentido, uma , por exemplo, a homenagear Manuel Lima Bezerra, um dos Maiores limianos, nascido no bairro da Além da Ponte.