domingo, abril 07, 2024

Alto Minho, artigo de 04-04-2024

Ad nauseam

Bem sei que teremos várias eleições. Foram as legislativas, teremos as europeias, e teremos as presidenciais, em 2026, mas as eleições autárquicas estão também à porta, realizam-se já em 2025.

Na verdade, falta quase um ano para que as listas estejam formadas e entregues e se saiba quem, na nossa comunidade, quer assumir responsabilidades autárquicas. Normalmente, nesta altura já se verificam movimentações, os partidos e movimentos já se mobilizam. Mas neste momento não se pressente nada ou quase nada. Por Ponte de Lima, por exemplo, nem se sabe se os que lideram a oposição, o movimento Ponte de Lima Minha Terra, se apresentarão a eleições. Já nem escrevo sobre os partidos tradicionais, como o PSD e o PS. Se no caso do primeiro, ainda se observa a solitária actividade do vereador, o segundo nem se sabe se de facto ainda existe no concelho.


Não sei se é, mas que parece…


Na passada semana, todos nós assistimos a uma série de categoria B. Se fosse apenas numa qualquer plataforma digital, não seria mau, o problema é que tem consequências na nossa vida e passou-se na Assembleia da Republica.

José Pedro Aguiar Branco, deputado eleito pelo nosso circulo eleitoral, foi indicado pelo PSD como candidato a Presidente da Assembleia da Republica. O líder parlamentar do PSD contactou e informou o PS, o Chega e a IL que esse seria o seu candidato e que os sociais-democratas iriam votar favoravelmente os vice-presidentes que esses partidos apresentassem. O líder do Chega apressou-se logo a anunciar um “acordo” e o seu voto favorável. O argumentário estava instalado. 

No dia seguinte, o nome de Aguiar Branco foi chumbado várias vezes. Ao longo do dia, fomos vendo o Chega a bracejar e a rasgar vestes em acusações e chantagens sobre o PSD que se entregara ao PS. O PS depois de acusar o PSD de que afinal o seu “não é não” era um “não é não a não ser que…”, acusava a direita de confusão e instabilidade.   

Depois de quase dois dias de impasse, Aguiar Branco lá foi eleito e os vice-presidentes propostos pelos referidos partidos também. 

O que se retira disto tudo é que hoje é perceptível um novo “partido” a que alguém apelidou de Shegalista. Um “partido” que não tem qualquer consideração pelas instituições ou pelo país, que parece perceber que estas atitudes tem consequências gravíssimas para a saúde da nossa democracia, mas, como na velha fábula do escorpião e da rã, “está na sua natureza” fazer tudo para que o centro direita não consiga estabilidade para governar. Nem que para isso “morra” a democracia. 


Serviço militar obrigatório


De repente, foi reintroduzido na ordem do dia o tema do Serviço Militar Obrigatório (SMO). Os políticos, com a guerra a voltar à Europa, acordaram para as necessidades militares do velho continente. Voltam-se a ouvir os velhos chavões da defesa dos valores, da dádiva à sociedade, da cidadania como justificação para a reintrodução da obrigatoriedade do SMO.

Mas só será possível desenvolver e despertar o interesse pela defesa dos valores de cidadania, da dádiva à comunidade e da defesa nacional ressuscitando o SMO? Não será isso apenas uma desculpa para conseguir “mão de obra” para uma estrutura militar que tem neste momento uma pirâmide interna de recursos humanos invertida?

O que é necessário é valorizar e criar uma verdadeira carreira militar que possa levar os jovens a equacionar essa carreira como um percurso profissional de futuro, que abra portas à formação académica e profissional e não só militar. O que não é possível é manter um exército de graduados sem praças, ou com praças sem possibilidade de carreira ao longo da vida.