domingo, junho 01, 2025

Alto Minho, artigo de 29-05-2025

Terramoto

Há quem defina assim os resultados das eleições legislativas da passada semana. Penso que não é a definição certa. Os terramotos ainda não são previsíveis, no entanto, os resultados eleitorais já se adivinhavam. Talvez a magnitude não fosse a esperada, talvez não se adivinhasse que fosse desta forma, mas só quem vive na bolha mediática de Lisboa é que pode ficar totalmente estupefacto. 

Um gigante da democracia, como o Partido Socialista, perder a liderança da oposição não é coisa de somenos. Em eleições livres, o povo vota e decide e, nestas eleições, nem se pode dizer que os eleitores se alhearam da votação, apenas 35.62% não exerceram o seu direito. A percentagem da abstenção destas eleições volta ao nível de 2005. Talvez assim deixem de viver focados nos histerismos políticos e voltem a olhar para o que verdadeiramente preocupa os eleitores.


Os resultados


Luís Montenegro e a AD são os vencedores das eleições. Aumentaram o número de votos e elegeram mais deputados com a particularidade desse número ser superior ao de todos os deputados eleitos pela esquerda. Pelo nosso distrito, a AD volta a ter 3 deputados, retirando um ao PS. O factor João Manuel Esteves, antigo presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, foi fundamental. O seu empenho e reconhecida capacidade de trabalho conseguiu unir o partido, mesmo quando alguns tentaram lançar ignóbeis polémicas para a praça pública. 

Pelo Chega, Eduardo Teixeira consolidou e aumentou a votação, sendo reeleito deputado. Conseguiu mais votos que o PS e tornou o Chega, nas legislativas, a segunda força política no distrito. Curiosamente, embora a sua votação tenha subido em quase todos os concelhos (em Melgaço perdeu votação), um dos que menos subiu foi no que mais apostou, Ponte de Lima. Mas as legislativas não são as autárquicas e a força política distrital é avaliada pelas vitórias em juntas de Freguesia, membros eleitos para as Assembleias Municipais e de Freguesia, e Câmaras Municipais conquistadas ou com vereadores eleitos. Só depois de Setembro é que saberemos qual a verdadeira força política do Chega no distrito. 

O PS distrital acompanhou o desaire nacional. Nem mesmo José Maria Costa, ex-autarca de Viana do Castelo, conseguiu estancar a queda, ficando mesmo de fora dos deputados eleitos pelo distrito. Perdeu votação em todos os concelhos, com especial destaque para o de Ponte da Barca. A cabeça de lista, embora natural de Caminha, parece ter ficado presa na tal bolha lisboeta onde tem vivido.


Autárquicas


Porque o ciclo eleitoral é, neste ano, quase uma roda constante, voltamos às autárquicas. Por Ponte de Lima, recentemente, a actual líder do movimento Ponte de Lima Minha Terra, deu uma entrevista a este jornal. Zita Fernandes, ex-autarca eleita pelo CDS, com quem se incompatibilizou depois de ter tido a coragem de não ceder na posição contrária ao polémico projecto de construção de um novo edifício dos Paços do Concelhos, afirmou que o movimento só tem a ganhar com o fim da aliança com o PS. Afirma que “os partidos defendem bandeiras, nós defendemos a causa de Ponte de Lima”. É uma afirmação provavelmente fruto da sua experiência quer com o PS quer com o CDS. Mas não corresponde à verdade. É uma generalização ao nível da que afirma que “os independentes só o são porque não tiveram sucesso dentro dos partidos”. 

Há 10 anos, aquando da implantação da fábrica de betuminoso no centro da vila de Arcozelo, partidos tão dispares como o PSD, a CDU e o PS juntaram-se. Conseguiram trabalhar juntos por uma causa, sem enviesamentos ideológicos e sem procura de protagonismo para as suas bandeiras.  

Não são os partidos que são “maus”, as pessoas que os constituem, assim como os movimentos, é que fazem a diferença. Uns lutam pela comunidade, outros procuram apenas poder e protagonismo pessoal ou político. Não é um “problema” de partidos ou movimentos, mas sim de pessoas.