domingo, julho 20, 2025

Alto Minho, artigo de 17-07-2025

Despedida

Soube, recentemente, que Pedro Ligeiro, histórico membro da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, eleito pelo Partido Social Democrata, vai deixar esse órgão autárquico no final deste mandato. Por sua vontade não volta a ser candidato. Não sei qual a razão para essa decisão, mas sei que é feita com coragem, significa, no entanto, uma grande perda para o concelho e para a capacidade de intervenção do partido que representou por cerca de 26 anos. 

Vivemos o mesmo tempo dentro do PSD. Exercemos cargos, candidatámo-nos internamente um contra o outro e em listas conjuntas, estivemos, internamente, quase sempre em discordância. Tivemos fortes discussões e batalhas internas, mas sei que sempre pude contar do Pedro frontalidade. Sempre o respeitei por isso, pela independência e frontalidade. Partilhamos os bancos da Assembleia Municipal, sou testemunha da sua intervenção mordaz, sem amarras, sem hesitações, preparada e séria, reflexo da sua profunda vontade de ajudar a construir um concelho melhor.


Que caminho?


Confesso que já não acompanho, como anteriormente, os trabalhos da Assembleia Municipal de Ponte de Lima. Mesmo antes de ser membro dessa Assembleia, sempre gostei de acompanhar os seus trabalhos. É por lá que se discutem os problemas do concelho. Até à primeira década deste século, acompanhar os trabalhos significava estar presente na reunião que poderiam durar muitas, mesmo muitas horas. Quando foi eleito, uma das minhas primeiras propostas, aprovado por maioria, foi que, junto à acta, disponibilizada na página do município, fosse colocado um ficheiro audio, dividido pelos pontos em discussão, que permitissem que os cidadãos ouvissem o que por lá se discutia e decidia. 

Hoje, e bem, há uma transmissão em direto das reuniões, em streaming, que pode ser consultada mais tarde. Não será por falta de alternativas de acompanhamento que não o faço. Nem é pela falta de esforço pela descentralização e abertura, do seu presidente, João Mimoso de Morais. Na verdade, depois de ter lá passado, em dois mandatos, como membro, ver agora as sessões torna-se um pouco pesaroso. Não é por qualquer sentimento de nostalgia, mas por verificar que os problemas internos que existiam se agravaram. A maioria dos membros não intervêm, não discute, não se prenuncia, reduzem a sua participação às votações. Isso, se não enfrentarem uma vontade súbita de ir à casa de banho…

Há 10 anos era impossível uma reunião, onde se discutisse o Plano e Orçamento, demorar menos que o dia inteiro de sábado, por vezes o almoço tornava-se lanche ajantarado. Hoje, em poucas horas fica tudo “discutido”. Talvez seja por isso que a atractividade para manter ou captar novos membros, que queiram realmente intervir e fazer a diferença, seja cada vez menor. 


Não!


Quem também se despediu dos cargos que ocupava foi o professor José António Silva. O professor José António, quando eu frequentei o “ciclo” já exercia cargos diretivos, foi director durante o tempo em que a minha filha frequentou a mesma escola, já com o nome do nosso poeta António Feijó, e despede-se do cargo quando o meu filho mais novo a frequenta. 

No seu discurso de despedida, realizado numa sessão que homenageou o seu trabalho, afirmou “parto como cheguei à Escola António Feijó”. Deixe-me, caro director, discordar. Quem, como o professor, dedicou tanto do seu tempo à “sua” escola não parte igual, parte com a riqueza de quem marcou a vida de gerações de limianos. Obrigado!